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PMDB ordenou propina a Delfim Netto por Belo Monte, afirma delator

Luiz Carlos Martins, da Camargo Corrêa, apontou pagamento de R$ 160 mil, em quatro parcelas, ao ex-ministro, via sobrinho Luiz Appolonio Neto

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Foto do author Fausto Macedo
Por Julia Affonso , Ricardo Brandt , Mateus Coutinho e Fausto Macedo
Atualização:

O ex-ministro da Fazenda Delfim Netto, citado em delação da Lava Jato 

Em depoimento à Polícia Federal, o engenheiro Luiz Carlos Martins, delator da Operação Lava Jato ligado à Camargo Corrêa, afirmou que o PMDB determinou propina de 10% ao ex-ministro Delfim Netto sobre valor de contratos das obras da Usina de Belo Monte. O executivo declarou que pagou R$ 160 mil em quatro parcelas.

Luiz Carlos Martins fechou seu acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal em meados de 2015. O executivo continuou prestando depoimentos este ano.

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Em 25 de junho do ano passado, o engenheiro relatou que durante uma reunião, em 2012, o então presidente da Andrade Gutierrez Energia, Flávio Barra, 'informou que do valor de 1% da propina que deveria ser dividida entre as empresas, ao invés de ser 50% para o PT e 50% para o PMDB, seria na verdade 45% para cada, e 10% seria destinado a Delfim Netto'.

"Todos reclamaram disso, mas Flávio informou que era uma determinação do agente político do PMDB", declarou o executivo.

Nota fiscal de pagamento à Aspen, apresentada pela Camargo. Foto: Reprodução

Na semana passada, a PF intimou Delfim Netto para depor e explicar o motivo de ter recebido R$ 240 mil da Odebrecht, que também fez parte do Consórcio de Belo Monte. Delfim foi ministro da Fazenda (1967/1974) e criador do 'milagre econômico' da ditadura militar. O nome do economista, também ex-deputado federal, foi citado na delação premiada da empreiteira Andrade Gutierrez pelo suposto recebimento de valores ainda não explicados no empreendimento da Usina de Belo Monte.

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À PF, Luiz Carlos Martins, da Camargo Corrêa, citou o advogado Luiz Appolonio Neto, sobrinho de Delfim Neto. "Flávio disse que uma pessoa chamada Luiz Appolonio, secretário de Delfim iria procurar cada empresa, e que teria dado o contato dos participantes da reunião; que efetivamente Luiz Appolonio ligou para o declarante e lhe chamou para "tomar um cafezinho"; que o declarante se encontrou com o mesmo, e no encontro foi informado de que Delfim tinha auxiliado na formação do consórcio de investidores, confirmando o quanto já dito por Flávio Barra", relatou.

O executivo afirmou que, no encontro, Luiz Appolonio perguntou ao a ele quanto poderia ser pago. Luiz Carlos Martins disse que sugeriu pagar R$ 160 mil em quatro parcelas, até o fim de 2012.

Luiz Carlos Martins entregou quatro notas fiscais e o contrato firmado pela Camargo Corrêa com a Aspen Assessoria e Planejamento, empresa controlada pelo ex-ministro. Nos recibos, de R$ 40 mil, o serviço é discriminado como 'prestação de serviço de consultoria econômica e empresarial'. As notas foram emitidas, todas para 2012, nas datas de 6 de junho, 5 de julho, 6 de agosto e 10 de setembro.

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"Os pagamentos foram feitos à própria empresa de Delfim Netto, chamada Aspen Assessoria e Planejamento", declarou. "Depois disso nenhum outro contrato fictício ou pagamento foi feito."

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Lembrança. Luiz Appolonio Neto foi conduzido coercitivamente na Operação Xepa, 26ª fase da Lava Jato, em 22 de março deste ano. A Lava Jato achou o nome do sobrinho de Delfim Netto em uma planilha secreta de propina da Odebrecht. O documento foi apreendido na casa da secretária de altos executivos da empreiteira, Maria Lúcia Guimarães Tavares, suspeita de ser responsável por parte da distribuição da "rede de acarajés" - que seria referência a propina.

Na planilha, o nome do advogado estava ligado ao codinome 'professor' e à informação 'entrega no endereço Alameda Lorena, em São Paulo, a ser liquidado nas datas de 22 de outubro de 2014 no valor de R$ 240 mil'.

Em depoimento à Operação Lava Jato, em 22 de março, Appolonio havia sido questionado sobre os valores e informou, na ocasião, que 'não se recordava' dos R$ 240 mil. Semanas depois, em petição anexada aos autos da Lava Jato, Luiz Appolonio deu a nova versão.

"Embora não tenha se lembrado na data da sua oitiva a respeito de detalhes do referido recebimento, realizou levantamentos posteriores e verificou que referidos valores não lhe pertencem, apenas foram recebidos no endereço acima mencionado a pedido do economista Antonio Delfim Netto, o qual por motivos particulares e em razão de sua avançada idade, não quis receber em seu escritório. O montante foi integralmente repassado a ele", informou a petição.

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A reportagem fez contato com PT e PMDB, que não retornaram. Quando foram citados anteriormente, os partidos negaram taxativamente a prática de ilícitos.

COM A PALAVRA, A DEFESA DO EX-MINISTRO DELFIM NETTO

Os advogados Ricardo Tosto e Maurício Silva Leite, defensores de Delfim Netto, informaram que o ex-ministro recebeu por serviços de consultoria. "Delfim Netto, por meio de seus advogados, informa que prestou serviços de consultoria na área econômica e que recebeu os respectivos honorários pelo trabalho realizado."

COM A PALAVRA, LUIZ APPOLONIO NETO

A defesa de Luiz Appolonio Neto informou que 'ele exerce atividade de consultoria empresarial nos moldes da legislação vigente e refuta a pratica de qualquer irregularidade'.

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