A Polícia Federal não teve nenhuma participação na gravação das conversas do executivo Joesley Batista, do Grupo JBS, com o presidente Michel Temer (PMDB) e com o senador afastado Aécio Neves (PSDB/MG). A reportagem apurou que essa etapa da Operação Patmos, desdobramento da Lava Jato, não foi conduzida pela PF.
Nesta sexta-feira, 19, o criminalista Antonio Claudio Mariz de Oliveira, amigo e advogado de Temer, declarou que o governo tem 'informações seguras' sobre 'adulterações e montagens' no áudio da conversa entre o presidente e o empresário. O laudo do diálogo Joesley-Temer foi preparado pela Procuradoria.
Uma estratégia que Mariz estuda é pedir a perícia da gravação feita na noite de 7 de março no Palácio do Jaburu, quando Temer recebeu Joesley. O executivo tinha um gravador no bolso. Durante a conversa ele revela a Temer a prática de crimes, como a 'compra' de um procurador da República e o pagamento de mesadas milionárias ao ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB/RJ).
"Soubemos que a fita foi editada e isso é gravíssimo", afirmou Mariz. "É uma indignidade o que estão fazendo contra o presidente da República e contra o Brasil."
Ao autorizar a abertura de inquérito para investigar Temer por corrupção passiva, obstrução da investigação e participação em organização criminosa, o ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, destacou que 'não há ilegalidade nos áudios gravados pelo empresário Joesley Batista, do Grupo JBS'.
Fachin aponta ainda que as conversas gravadas foram 'ratificadas e elucidadas' por Joesley em depoimento ao Ministério Público Federal.
A reportagem apurou que Joesley manifestou intenção de fazer a delação premiada perante a Procuradoria-Geral da República. A Polícia Federal só entrou no caso a partir de 10 de abril, 33 dias depois da conversa de Joesley e Temer.
A partir do dia 10 de abril, os federais assumiram o trabalho de campo. As equipes deflagraram o procedimento denominado ação controlada e seguiram os passos dos alvos da Operação Patmos.
Vídeos, fotos, interceptações telefônicas foram feitas pela PF.
COM A PALAVRA, A ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PERITOS CRIMINAIS FEDERAIS
Em relação às notícias que vêm sendo veiculadas pela imprensa sobre eventuais edições nas gravações entre o empresário Joesley Batista e o presidente da República Michel Temer, e que essas seriam enviadas a peritos, a Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais esclarece que cabe à perícia oficial da União, representada pelos peritos criminais federais da carreira da Polícia Federal, a realização dos exames necessários e que somente após análise técnica aprofundada e especializada por parte dos especialistas forenses em evidência multimídia é que será possível concluir se houve ou não alguma edição. Diante disso, estamos convictos de que tudo será esclarecido quando as gravações chegarem ao Instituto Nacional de Criminalística, órgão central de criminalística da Polícia Federal, que fará os devidos procedimentos forenses.