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PF levanta suspeita sobre ex-aliado de Jaques Wagner

Lava Jato encontrou nome de ex-deputado Javier Alfaya (PCdoB), que foi vice-líder na Assembleia da Bahia do governo petista e ocupou cargo de confiança na administração, em anotações de esquema de doleiro

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Por Redação
Atualização:

Atualizada às 18h38

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Por Ricardo Brandt e Fausto Macedo

A Polícia Federal encontrou por acaso indícios que podem ligar o ex-deputado estadual da Bahia Javier Alfaya (PCdoB), aliado e homem de confiança do ex-governador e novo ministro da Defesa, Jaques Wagner (PT), ao esquema de lavagem de dinheiro investigado na Operação Lava Jato.

Em um caderno de anotações apreendido nas buscas relacionadas ao doleiro Carlos Habib Chater, dono do Posto da Torre, em Brasília, agentes da polícia identificaram o nome do ex-parlamentar baiano e valores relacionados.

"Na segunda parte do caderno constam várias páginas de anotações de valores para diversas pessoas", assinala relatório da PF. Entre essas pessoas estão cinco doleiros e agiotas ligados ao dono do Posto da Torre, que funcionava como "delivery da propina" a políticos que lá compareciam para saques em espécie.

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"Consta também anotação em nome de 'Dep. Javier'", destaca a PF, referindo-se a um trecho manuscrito do caderno em que o nome do ex-parlamentar aparece grafado ao lado da expressão "2.250 ou 2.350".

 Foto: Estadão

Na mesma página, outras três referências a Javier, uma ao lado do registro "20 até 30 SEP", outra com o valor "2.200" e três pontos de interrogação e mais uma ao lado do apontamento "20 até 30".

"Trata-se de Javier Alfaya, deputado estadual da Bahia", informa o relatório que faz parte dos autos da Lava Jato. Arquiteto de profissão, nascido em Redondela (Espanha), Alfaya não é mais deputado. Em janeiro de 2013 ele foi nomeado para assumir um cargo de confiança no governo Wagner, na chefia do Escritório de Projetos da Secretaria para Assuntos da Copa (Secopa).

Suplente de deputado federal, de 1999 a 2003, efetivou-se na vaga de Jaques Wagner - em janeiro de 2003 - para logo depois assumir seu posto como deputado estadual, sempre pelo PC do B. Ele cumpriu dois mandatos na Assembleia Legislativa da Bahia, de 2003 a 2007 e de 2007 a 2010, sendo vice-líder do governo Wagner.

 Foto: Estadão

Caderno O documento apreendido no dia 17 de março pela PF, em que aparece o nome do ex-parlamentar, é um caderno com anotações manuscritas de um dos réus da Lava Jato, Francisco Angelo da Silva.

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O acusado é apontado como antigo "sócio" do doleiro dono do Posto da Torre e um dos supostos braços do esquema nos órgãos públicos. No ano passado, Silva ocupou cargo de assessor especial no governo do Distrito Federal, entre janeiro e outubro.

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Conhecido como Chicote, e tratado por Chater como "Chico", Silva é réu acusado de integrar organização criminosa, comandada pelo dono do Posto da Torre, que movimentou R$ 124 milhões, segundo dados do Coaf, citados na denúncia do Ministério Público Federal.

O grupo comandado por Chater valeu-se de diversas empresas, "que tiveram suas contas bancárias utilzadas para operações do grupo e movimentação de valores provenientes dos mais vários crimes".

Segundo o MPF, além de ser um dos membros do grupo criminoso de Chater, Silva é acusado por operação não autorizada de instituição financeira (de janeiro de 2009 a março de 2014) e evasão de divisas.

Na ação penal, eles são acusados de promoverem transações de câmbio negro junto a outros doleiros réus da Lava Jato, entre eles o delator Alberto Youssef. Tanto Youssef como Chater confessaram ao juiz federal Sérgio Moro, que conduz os processos da Lava Jato, que movimentavam dinheiro para políticos, entre eles o ex-deputado federal José Janene (PP-PR) - morto em 2010 - e para o ex-presidente do PP Pedro Corrêa.

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Silva foi sócio de uma empresa de fachada criada por Chater em 1991, a Fly Turismo e Câmbio Ltda. Atualmente é "sócio oculto" ao lado da irmã do dono do Posto da Torre na Valotur Câmbio e Turismo.

A Valotur, que funciona no Posto da Torre, foi aberta em 2012 e segundo a Lava Jato era usada "no setor de câmbio turismo, expediente usualmente utilizado para ocultar a prática de operações no mercado de câmbio negro".

Em 2014, Silva exerceu a função de assessor especial da Subsecretaria de Planejamento e Gestão da Informação, da Secretaria de Estado de Desenvolvimento da Região Metropolitana do DF. Silva foi exonerado do cargo de "natureza especial" no fim do ano.

"Francisco não seria mero laranja do esquema criminoso. Além de sócio da Valotur, demonstrou nos diálogos interceptados relacionamento bastante próximo a Habib, tendo ciência de sua participação no grupo", sustentam os procuradores da força-tarefa da Lava Jato, no processo.

O ex-deputado estadual do PC do B citado no caderno do posto foi procurado pelo Estado desde sexta-feira, mas não respondeu aos pedidos de entrevista. Silva, réu da Lava Jato, não foi localizado.

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COM A PALAVRA, O EX-DEPUTADO JAVIER ALFAYA

Por Tiago Décimo, de Salvador

O secretário nacional de Cultura do PCdoB e ex-deputado estadual na Bahia pelo partido, Javier Alfaya, negou qualquer envolvimento em esquemas de corrupção em todos os 25 anos de participação na vida pública - como parlamentar ou gestor. Não há, segundo ele, a menor possibilidade de estar vinculado aos atos investigados.

Javier Alfaya explica que, em todas as eleições que concorreu, teve as contas relativas aos gastos de campanha aprovadas, e que todas as arrecadações sempre foram muito discretas. "A todos e todas a quem pedi contribuição [para as campanhas] não tinham relação - pelo menos que eu soubesse - com suposto esquema sob investigação, nem tinham relação com a Petrobrás ou empresa pública", destacou o ex-aliado do ministro da Defesa, Jaques Wagner.

Ele afirmou que é o maior interessado em conhecer os detalhes das investigações e que vai buscar informações sobre as notícias que estão sendo veiculadas. Javier Alfaya reiterou ser contrário ao financiamento empresarial de campanha e defendeu uma "reforma política democrática urgente no Brasil".

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LEIA A NOTA DE ESCLARECIMENTO DE JAVIER ALFAYA.

"Faço um esclarecimento urgente. O texto fala que meu nome apareceria em agenda de doleiro sob investigação na operação "Lava-Jato". Faço questão de deixar bem claro que as contas de minhas campanhas sempre revelaram a verdade, e estão todas aprovadas, e revelam custos muito discretos, refletindo o caráter mais militante das campanhas, nunca baseadas em compra de votos ou coisa parecida.

Acabei de pagar há poucos meses atrás dois empréstimos bancários fruto das dificuldades financeiras decorrentes das campanhas para deputado estadual de 2010 e de vereador de 2012. Não possuo bens a não ser dois apartamentos quarto e sala declarados no Imposto de Renda e dois automóveis comprados com financiamento bancário, um deles começando agora em janeiro.

Quem me conhece de perto sabe que não me mexo na vida atrás de símbolos de status social num sistema de valores que luto para superar. Patrimônio exagerado e riqueza não fazem parte de meus objetivos, me envolver em esquemas pouco claros na política não faz parte do meu passado, nem presente, nem o será no futuro.

Sou o maior interessado em saber o que consta nessas anotações e o porquê disso. Não tenho atividade empresarial de qualquer tipo e nos últimos 25 anos tenho desenvolvido atividades parlamentares, como vereador e deputado, e cargos de nomeação política, articulados pelo Partido, o PCdoB, vivendo financeiramente falando dos salários decorrentes de minhas atividades institucionais.

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Vou tomar o máximo de informações a partir de hoje e manter todos informados sobre episódio. Não existe a menor possibilidade de ter participação em atos como os que tem sido objeto das investigações.

Repito que o maior interessado em saber sou eu. E não tenho nada a esconder ou do que me envergonhar. Pela reforma política democrática já! Pelo fim das contribuições de empresas para campanha e pela adoção da contribuição pública e pessoal/individual para a atividade eleitoral e política.

É o que penso e defendo, é o que defendemos no PCdoB."

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