Foto do(a) blog

Notícias e artigos do mundo do Direito: a rotina da Polícia, Ministério Público e Tribunais

PF investiga padre de Gim Argello

Moacir Anastácio, da Paróquia São Pedro, de Taguatinga, terá de explicar R$ 350 mil recebidos do ex-senador em 2014

PUBLICIDADE

Foto do author Julia Affonso
Foto do author Fausto Macedo
Por Julia Affonso , Vitor Tavares , Ricardo Brandt , Mateus Coutinho e Fausto Macedo
Atualização:

Paróquia São Pedro em Taguatinga. Foto: Fabio Fabrini/Estadão

A Operação Lava Jato investiga o padre Moacir Anastácio, da Paróquia São Pedro, em Taguatinga, no Distrito Federal. De acordo com as investigações, a igreja recebeu uma doação de R$ 350 mil da empreiteira OAS, em 2014, a mando do ex-senador Gim Argello (PTB-DF).

PUBLICIDADE

Na quarta-feira, 29, o juiz federal Sérgio Moro autorizou que a investigação sobre o padre Moacir Anastácio ocorra de forma concomitante às apurações sobre o ex-senador Gim Argello. O pagamento de R$ 350 mil, segundo a Procuradoria da República, à paróquia foi efetivamente realizado em 19 de maio de 2014, 'como demonstram as mensagens posteriores no celular de Léo Pinheiro e as informações fiscais da Construtora OAS'.

"A autoridade policial solicitou ao Ministério Público Federal prazo para a continuidade das investigações neste procedimento, precipuamente para análise completa do material apreendido e para apurar suposto envolvimento nos fatos do investigado padre Moacir Anastácio", afirmou Sérgio Moro, no despacho.

"O Ministério Público Federal manifestou-se. Afirmou que requereu a este Juízo o desmembramento do inquérito para as investigações relativas ao padre Moacir Anastácio de Carvalho, o que foi deferido por meio de decisão proferida nos autos. Diante das informações prestadas pela autoridade policial, no entanto, posicionou-se o Ministério Público Federal pela viabilidade do prosseguimento das investigações nestes próprios autos."

 Foto: Estadão

Recibo apreendido pela PF. Foto: Reprodução

Na denúncia criminal em que acusa Gim Argello e outros oito investigados de arquitetar um esquema de pagamento de ao menos R$ 5,3 milhões em propinas de empresas para evitar a convocação de empreiteiros investigados na Lava Jato para depor nas CPIs no Senado e no Congresso em 2014, a Procuradoria dedica um trecho do documento à relação entre o padre e o ex-senador. Os investigadores apontam que o padre Moacir Anastácio 'é o responsável por promover a festa religiosa denominada "Festa de Pentecostes", em Taguatinga/DF, que arregimenta milhões de pessoas'.

Publicidade

"Na referida festa de Pentecostes, Moacir Anastácio, notadamente, em época das eleições, como no caso do escrutínio de 2014, enaltece a figura de candidatos políticos, e, foi nessa ocasião, que promoveu a imagem de Gim Argello, alcunhando-o de Senador de Pentecostes. A proximidade de Gim Argello com o Padre Moacir Anastácio se corrobora pela existência de pelo menos 58 ligações telefônicas, no período de 19 de março de 2014 a 26 de agosto de 2014", destacaram os procuradores na denúncia.

 

A acusação afirma que Gim Argello 'ocultou e dissimulou os recursos ilícitos oriundos da OAS para dar aparência lícita ao repasse da propina, mediante transferência para a Paróquia São Pedro para obter benefícios na promoção de sua imagem junto aos fiéis do Padre Moacir Anastácio'. Gim Argello foi preso em abril na 28ª fase da operação.

Além da OAS, a Paróquia São Pedro recebeu 'doação' da Construtora Andrade Gutierrez no valor de R$ 300 mil em 4 de junho de 2014 'por intermediação espontânea' do então governador do DF Agnelo Queiroz (PT/2011-2015). A igreja destacou que também 'recebeu doações' da Construtora Via Engenharia, 'todas contabilizadas e à disposição das autoridades'.

[veja_tambem]

Publicidade

Em depoimento, em 14 de abril deste ano, o ex-assessor parlamentar Valério Neves Campos, suspeito de operar pagamento de propinas em forma de doação eleitoral para os partidos da coligação do ex-senador Gim Argello (PTB) em 2014, DEM, PR, PMN e PRTB, prestou depoimento à Polícia Federal. Valério Campos afirmou que 'nunca foi' a qualquer evento religioso do padre e 'não o conhece pessoalmente'.

PUBLICIDADE

"As pessoas de Taguatinga costumam falar para o declarante que o padre Moacir costuma a "colocar a mão no ombro de determinados candidatos e exaltava as qualidades daqueles candidatos durante os eventos religiosos, inclusive durante as missas", motivo pelo qual alguns frequentadores, entre eles a irmã do declarante", relatou.

"Entre os candidatos exaltados durante o período eleitoral de 2014 estava Gim Argello e Arruda; que nas campanhas eleitorais anteriores Gim Argello e outros candidatos também receberam apoio daquele padre; que perguntado sobre os R$ 350 mil doados pela OAS para a paróquia do padre Moacir, respondeu que a primeira vez que tomou conhecimento disso foi quando leu o mandado de prisão e de busca a apreensão nesta semana, sendo que não conhece ninguém da OAS."

A reportagem ligou para o celular do padre Moacir Anastácio e para a Paróquia São Pedro, mas não teve retorno.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.