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Petrobrás envia à PF contratos com agência ligada a propina

Documentos mostram que Muranno Brasil Marketing recebeu R$ 2,5 mi, em 2008, por 'pequenos serviços'; doleiro diz que por ordem de José Sérgio Gabrielli, ex-presidente da estatal, pagou outros R$ 6 milhões entre 2010 e 2011 devido a 'pendências' com agência investigada 

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Por Ricardo Brandt , Julia Affonso , Fausto Macedo , Andreza Matais e Fabio Fabrini
Atualização:

Material produzido para a Petrobrás por agência Muranno, que segundo doleiro foi paga com dinheiro de propina a mando de ex-presidente da estatal / Foto: Reprodução

A Petrobrás enviou para a Polícia Federal os contratos celebrados com a empresa Muranno Brasil Marketing Ltda, com detalhamento de valores e situação, bem como se houve procedimentos internos de apuração de irregularidades quanto a eles. A agência recebeu pelo menos R$ 6 milhões do doleiro Alberto Youssef, supostamente a mando do ex-presidente da estatal José Sérgio Gabrielli, entre 2010 e 2011, por 'pendências'.

Em uma tabela enviada pela Petrobrás consta o pagamento de R$ 2,54 milhões, entre 12 de fevereiro e 27 de novembro de 2008. São 22 notas fiscais emitidas, em que a Muranno recebeu por "Pequenos Serviços".

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A Operação Lava Jato investiga se os pagamentos foram autorizados após o dono da empresa, Ricardo Villani, ter ameaçando denunciar o esquema de desvios na Petrobrás, caso não recebesse valores atrasados. investigadores querem saber se Gabrielli de fato foi quem tomou a decisão, e se agiu a mando de alguém.

O pedido para que a Petrobrás fornecesse os documentos foi apresentado há dois meses pelo delegado Márcio Adriano Anselmo, no inquérito que investiga a Muranno, na Lava Jato. O nome da agência ainda no início da operação - deflagrada em março de 2014 - dentro da quebra de sigilo bancário das empresas do doleiro Alberto Youssef.

Foram identificados R$ 1,7 milhão pagos entre o final de 2010 e início de 2011, em meio aos repasses envolvendo empreiteiras do cartel.

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 Foto: Estadão

 

Em depoimento à Polícia Federal no ano passado, o dono da Muranno afirmou que prestou serviços para a gerência de Marketing sem contrato e teria a receber R$ 7 milhões. Segundo sua versão, ele fez serviços de divulgação da Petrobrás em provas da Fórmula Indy e teria valores a receber.

 Foto: Estadão

Pressão. O ex-diretor de Abastecimento confirmou em depoimento à Polícia Federal em julho que partiu do ex-presidente da Petrobrás a ordem para o pagamento da Muranno.

"Em determinada oportunidade, o então presidente da empresa Sérgio Gabrielli mencionou ao declarante a existência de uma 'pendência' da Petrobrás junto a empresa (Muranno) e solicitou ao declarante que fosse resolvida", afirmou Paulo Roberto Costa, primeiro delator da Lava Jato. O ex-diretor foi ouvido no dia 14 de julho.

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O doleiro, que era o caixa da propina na Diretoria de Abastecimento, confessou que repassou R$ 6 milhões a Muranno, que teria pressionado o governo Lula para receber valores, após o rompimento de contratos. O ex-diretor Paulo Roberto Costa declarou no dia 14 que "não sabe dizer por qual motivo Gabrielli tenha intercedido" pela "empresa Muranno".

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"Houve a suspensão de contratos pela Petrobrás, prejudicando recebimentos da parte acordada com as empresas, que deveriam ser quitados independentemente de suspensão", afirmou o doleiro.

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Sua versão, neste ponto, é coincidente em boa parte com as declarações de Paulo Roberto Costa, no dia 14 de julho. Youssef diz em sua delação ter sido "chamado por Paulo Roberto Costa, o qual pediu que esta questão fosse resolvida, pois teria recebido um pedido de Sérgio Gabrielli, presidente da estatal, para que isso fosse solucionado".

Gabrielli é alvo de investigação da Lava Jato, mas acabou sendo isentado nesta quinta-feira, 22, no relatório final da CPI da Petrobrás por qualquer participação no esquema de corrupção e cartel na estatal.

Confirmações de pagamentos. O doleiro diz ter dado um total de R$ 6 milhões do caixa da propina desviada da Petrobrás para quitar essa dívida com a Murrano. O período era o da primeira eleição da presidente Dilma Roussef.

"Destinou no total aproximadamente R$ 6 milhões às duas empresas de publicidade", explicou Youssef. "Pagou parte em dinheiro e parte em TEDs, feitas pela MO Consultoria ou Empreiteira Rigidez, e também pagou parte com depósitos da Sanko Sider." As duas primeiras eram firmas de fachada de sua lavanderia e a Sanko atuava em parceria com seus esquemas de lavagem na Petrobrás.

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Na versão do doleiro, Costa recomendou que os valores para a Muranno fossem rateados entre PT, PMDB e PP. "Deveria providenciar a quitação dos créditos da empresas, para tanto buscando a contribuição junto a colaboradores do PT, PMDB e PP", afirmou Youssef.

O doleiro disse ter ficado "receoso" com o pedido de Costa "pois para pagar a dívida toda, teria que retirar da parte que era destinada ao PP. "A sugestão de Paulo (Roberto Costa) foi que então o PP cobrisse uma parte, o PMDB cobrisse outra e que o próprio PT também contribuísse para quitar os valores que estavam sendo cobrado pelas empresas."

Costa afirmou que iria conversar com o operador de propinas do PMDB Fernando Antonio Falcão Soares, o Fernando Baiano "para poder conseguir pagamento da parte que caberia ao PMDB".

 Foto: Estadão

O doleiro revelou que cuidou dos pagamentos. "Soube que o PMDB acabou não contribuindo com nada", disse Youssef. "Quanto à parte de deveria ser paga pelo PT, o depoente foi procurado por Júlio Camargo que informou que cuidaria da parte que o PT deveria arcar e então repassou valores ao depoente mediante pagamentos de ordens no exterior em contas indicadas pelo depoente", registrou a PF. Youssef informou que Julio Camargo - lobista ligado ao ex-ministro José Dirceu - também teria citado o nome do então chefe de gabinete de Gabrielli, Armando Tripodi.

 Foto: Estadão

 

COM A PALAVRA, JOSÉ SÉRGIO GABRIELLI, EX-PRESIDENTE DA PETROBRÁS

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Nunca tive contatos com esta empresa Muranno, que depois das reportagens, vim a saber que prestava serviços para a Comunicação do Abastecimento e não para a Comunicação Corporativa.

Desta forma não poderia haver uma "pendência" da Petrobrás com a referida empresa.

Se havia alguma pendencia com a área de Abastecimento, não era do conhecimento da Presidência da Petrobrás.

Nunca tive esta conversa com o Paulo Roberto Costa.

A empresa Muranno veio a ser identificada na Comissão de Investigações aberta por ordem da Presidência como recebedoras de pagamentos da Gerencia Setorial de Comunicações do Abastecimento.

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Na estrutura da Petrobrás este é um órgão subordinado a Gerentes Executivos, que por sua vez estão subordinados aos Diretores de cada Área, ficando portanto no terceiro escalão hierárquico da empresa.

Como resultado destas investigações, o gerente setorial foi demitido por justa causa.

Nunca tive contatos e não conheço o Senhor Alberto Youssef.

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