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Palocci era a 'ponte' entre governo e empreiteiros para 'alimentar' campanhas, diz delator

Em novo depoimento prestado à Lava Jato, Delcídio Amaral afirmou que ex-ministro da Fazenda e Casa Civil, de Lula e Dilma, recebia contatos em duplex em Brasília

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Foto do author Fausto Macedo
Por Julia Affonso , Ricardo Brandt , Fausto Macedo e Mateus Coutinho
Atualização:

Ex-senador Delcídio Amaral em depoimento à Lava Jato / FOTO DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

O ex-líder do governo da presidente cassada Dilma Rousseff (PT) no Senado, Delcídio Amaral, afirmou em novo depoimento prestado à força-tarefa da Operação Lava Jato que o Antonio Palocci era a "ponte" com os empresários e tinhacomo prioridade "alimentar" as campanhas.

"Antonio Palocci tinha uma tarefa bem determinada: fazer a ponte entre o governo e os empresários, alimentar as estruturas de poder (as campanhas). Era era a prioridade de Antonio Palocci", afirmou Delcídio, em depoimento prestado no último dia 11.

 

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O ex-ministro tinha "interlocutores qualificados e 'certeiros', sabendo ao certo quem eram as pessoas com quem deveria discutir cada assunto, sem ampliar demasiadamente as conversas" dentro do governo, afirmou Delcídio.

O termo complementar integra a denúncia apresentada na sexta-feira, 28, pelo Ministério Público Federal contra Palocci. O ex-ministro da Fazenda (governo Luiz Inácio Lula da Silva) e Casa Civil (Dilma) foi preso pela Lava Jato no dia 26, alvo da 35ª fase batizada de Operação Omertà. Ele é acusado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

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Homem forte do PT no governo e nas campanhas de Lula e Dilma, Palocci é acusado na ação de ser o principal contato da Odebrecht - que negocia delação premiada com a Lava Jato - com negócios da União. Além de defender interesses da empreiteira em contratos na Petrobrás, ele teria defendido ilegalmente a aprovação de medidas no Congresso quando foi deputado federal.

QG. No novo depoimento prestado para instruir a acusação formal da Procuradoria contra o ex-ministro, Delcídio disse que "Palocci tinha um apartamento em Brasília, um duplex na Asa Norte, onde ele frequentemente recebia pessoas para contato". "Palocci era muito discreto e fechado."

Delcídio foi preso pela Lava Jato em novembro de 2015, quando era senador e líder do governo, tentando comprar o silêncio do ex-diretor de Internacional da Petrobrás Nestor Cerveró. Cassado, ele virou delator e confessou os esquemas de corrupção no governo e apontou, entre outros, o envolvimento de Palocci.

Eleito senador pelo PT - atualmente sem partido -, Delcídio afirmou que conheceu Palocci em 2001, quando ele assumiu a coordenação da campanha presidencial de Lula. Que naquela ocasião, o petista teria ganho "projeção" não só no partido, mas também com outras legendas aliadas e com o empresariado.

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O delator disse que foi na campanha que o petista passou a ter maior contato com o empresariado nacional. "Com a eleição de Lula, no ano de 2002, quando Palocci assumiu o Ministério da Fazenda, consolidou sua posição forte, não apenas do Partido, mas também com os empresários. A partir daí, Antonio Palocci passou a ser o principal interlocutor do presidente Lula."

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Depois de se envolver no escândalo da quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, que denunciou ter visto o então ministro em reuniões em uma casa em Brasília usada por empresários para fazer lobby no governo, Palocci foi demitido em 2006 - em meio ao escândalo do mensalão e a CPI dos Bingos.

Mesmo assim, Delcídio diz que Palocci "continuou a ser uma pessoa muito influente no governo". O delator afirmou que em 2010, com a eleição de Dilma Rousseff, teria sido Lula que indicou o ex-ministro da Fazenda para ocupar a Casa Civil.

Demitido após a descoberta de um novo escândalo - da compra de uma apartamento de R$ 6 milhões, em São Paulo, com dinheiro de consultorias milionárias para empresas, Palocci teria mantido sua influência no governo Dilma e os contatos com Lula.

"Mesmo após sair do cargo de ministro da Casa Civil, Antonio Palocci continuava a discutir projetos de governo", declarou Delcídio - que era na ocasião, líder de Dilma no Senado. "Em reuniões no Instituto Lula, Antonio Palocci era atualizado e consultado frequentemente pelo ex-presidente Lula sobre os projetos de governo."

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COM A PALAVRA, O CRIMINALISTA JOSÉ ROBERTO BATOCHIO, DEFENSOR DE ANTONIO PALOCCI

O advogado José Roberto Batochio, que defende Antonio Palocci, reagiu com indignação à denúncia do Ministério Público Federal.

"É uma acusação monstruosa, absolutamente divorciada de qualquer elemento indiciário arrecadado nos autos."

"O único elemento considerado pela denúncia é um papelucho tratado como 'planilha' sob a rubrica de 'Italiano'. Os acusadores já apontaram esse 'Italiano' como sendo Fernando Migliáccio, depois Guido Mantega, depois um engenheiro italiano e, agora, na quarta tentativa, querem atribuir este apelido a Palocci."

"Puro artificialismo. O que temos é um apelido em busca de um personagem. Demonstrado que 'Italiano' não é Palocci, quem será a quinta vítima?"

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"Nem tomei conhecimento da denúncia, mas eu esperava que, diante da anemia do inquérito (da Polícia Federal), o Ministério Público Federal o arquivasse."

"Aliás, a Polícia Federal não encontrou sequer suspeita de lavagem de dinheiro, conforme o seu relatório, mas o Ministério Público Federal, mais realista que o rei, resolveu criar mais esta acusação."

 

 

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