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Palocci cita 'a cena mais chocante do desmonte moral' de Lula

Em histórica carta de desfiliação ao PT, ex-ministro relata sua perplexidade ao ver 'a mais expressiva liderança popular' do País encomendar propinas de contratos da Petrobras em 'fatídica reunião' no Alvorada

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Por Ricardo Brandt , Julia Affonso , Fausto Macedo e Luiz Vassallo
Atualização:

Antonio Palocci. Foto: Reprodução

"Nós, que nascemos diferentes, que fizemos diferente, que sonhamos diferente, acabamos por legar ao país algo tão igual ao pior dos costumes políticos."

A frase acima é de Antonio Palocci, um dos fundadores do PT e principal responsável por levar Lula, a figura maior do petismo, ao Planalto, em 2002, e está registrada em seu pedido de desfiliação da legenda, redigido nesta terça-feira, 26.

A data é histórica para o PT e para Palocci, que completa nesta terça um ano de prisão na Operação Lava Jato.

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Na mais dura autocritica de um grão duque do PT, Palocci narra "a fatídica reunião na biblioteca do Alvorada, onde Lula encomendou as sondas e as propinas, no mesmo tom, sem cerimônias".

"Cena mais chocante que presenciei do desmonte moral da mais expressiva liderança popular que o país construiu em toda nossa história."

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No dia 6 de setembro, Palocci confessou ao juiz federal Sérgio Moro, da Lava Jato, em Curitiba, seus crimes e incriminou Lula, confirmando uma "pacto de sangue" entre o ex-presidente e o empresário Emílio Odebrecht.

No depoimento, o ex-ministro também contou sobre cobrança feita por Lula para ele, para ex-presidente Dilma e para o ex-presidente da Petrobrás José Sergio Gabrielli de propinas nos contratos de construção de sondas perfuração marítima para exploração de petróleo do pré-sal.

 

 

"Um dia, Dilma e Gabrielli dirão a perplexidade que tomou conta de nós após a fatídica reunião na biblioteca do Alvorada, onde Lula encomendou as sondas e as propinas, no mesmo tom, sem cerimônias, na cena mais chocante que presenciei do desmonta moral da mais expressiva liderança popular que o país construiu em toda nossa história."

Pantanoso. Responsável pela Carta ao Povo Brasileiro, que em 2002 deu a Lula condições de virar presidente da República, depois de três tentativas frustradas, a "carta ao PT" é endereçada à presidente nacional do partido, senadora Gleisi Hoffmann.

Mais que um pedido de desfiliação, a carta ao PT é uma resposta ao que chamou de "tribunal inquisitório" interno instalado, após ele confessar seus crimes à Justiça, e uma bomba endereçada a Lula.

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Nas quatro páginas digitadas, com assinatura de próprio punho, Palocci faz duras críticas a Lula. "Sei dos erros e ilegalidades que cometi e assumo minhas responsabilidades. Mas não posso deixar de destacar o choque de ter visto Lula sucumbir ao pior da política no melhor dos momentos de seu governo."

O ex-ministro listou o "pleno emprego conquistado, a aprovação do governo a níveis recordes, o advento da riqueza (e da maldição) do pré-sal, com a Copa do Mundo, com as Olimpíadas".

"'O cara', nas palavras de Barack Obama, dissociou-se definitivamente do menino retirante para navegar no terreno pantanoso do sucesso sem crítica, do 'tudo pode', do poder sem limites, onde a corrupção, os desvios, as disfunções que se acumula são apenas detalhes, notas de rodapé no cenário entorpecido dos petrodólares que pagarão a tudo e a todos."

 

Palocci confirma suas confissões à Justiça na carta ao PT e informa que após sua negociação de delação premiada poderá dar maiores detalhes ao partido sobre os crimes nos governos Lula, a quem chama de autoproclamado "homem mais honesto do país".

"Até quando vamos fingir acreditar na autoproclamação do 'homem mais honesto do país' enquanto os presentes, os sítios, os apartamentos e até o prédio do Instituto (!!) são atribuídos a Dona Marisa?"

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Verdade. Fundador do PT há 36 anos, um dos primeiros prefeitos eleitos pelo partido e homem forte dos governos Lula e Dilma no trato com o empresariado e o setor financeiro, Palocci diz que o partido preside reconhecer seus erros.

"Chegou a hora da verdade para nós. De minha parte, já virei a página. Ao chegar ao porto onde decidi chegar, queimei meus navios. Não há volta", afirma Palocci.

"Sob o ponto de vista político, estou bastante tranquilo em relação a minha decisão. Falar a verdade é sempre o melhor caminho. E, neste ano, não posso deixar de registrar a evolução e o acúmulo de eventos de corrupção em nossos governos e, principalmente, a partir do segundo governo Lula."

COM A PALAVRA, LULA

Por meio de sua assessoria, o ex-presidente se manifestou nesta quarta-feira, 26.

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"Os ataques indevidos feitos ao ex-Presidente Lula por Palocci devem ser interpretados como mais passo que ele dá com o objetivo de tentar destravar sua delação para receber benefícios - que vão desde a sua saída da prisão até o desbloqueio de seus bens. O depoimento prestado por Palocci no dia 06/09 é repleto de contradições com depoimento por ele prestado em maio deste ano e, ainda, com depoimentos prestados por outras testemunhas. O documento emitido hoje segue na mesma direção".

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