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Os fantasmas de Dilma na Lava Jato

Três frentes de apuração abertas em Curitiba, que antecedem pedido de inquérito da PGR sobre suspeita de interferência nas investigações da força-tarefa, apontam para João Santana, Pasadena e Eletrobrás e assombram presidente

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Por Ricardo Brandt , Julia Affonso , Fausto Macedo e enviado especial a Curitiba
Atualização:

A presidente Dilma Rousseff. Foto: Dida Sampaio/Estadão

Sem ter Dilma Rousseff como alvo de um inquérito ou procedimento criminal até aqui, a Operação Lava Jato avança desde o ano passado em pelo menos três frentes de investigações em que o nome da presidente ou de assessores próximos aparecem no maior escândalo de corrupção do País - o caso Pasadena, as descobertas de lavagem de dinheiro do marqueteiro do PT João Santana e sua mulher, Mônica Moura, e as apurações do setor elétrico, o 'eletrolão'.

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São investigações em andamento em Curitiba, sede da Lava Jato, que tratam de supostos crimes de corrupção, cartel, lavagem de dinheiro, fraude em licitação e organização criminosa descobertos a partir do escândalo Petrobrás.

Membros de partidos da base como PT, PMDB e PP em conluio com um cartel de empreiteiras estabeleceram uma sistemática de fraudes e propinas nos contratos do governo federal, com arrecadação de porcentuais fixos para os cofres das legendas e suas campanhas eleitorais, sustenta o Ministério Público Federal e a Polícia Federal.

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As apurações antecedem o pedido de inclusão do nome de Dilma na Lava Jato, feita pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, nesta terça-feira, 3, por uma suposta tentativa de obstrução às investigações.

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Essa frente decorre da delação premiada do senador Delcídio Amaral (ex-PT-MS), ex-líder do governo no Senado, e ainda será analisada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e dos grampos telefônicos que tinham como alvo Lula, dentro da 26ª fase da Lava Jato, em Curitiba, a Operação Aletheia.

Campanhas. A mais avançada das frentes envolve o marqueteiro João Santana levado pelo juiz federal Sérgio Moro ao banco dos réus na semana passada por recebimento de dinheiro de propina do esquema Petrobrás, via PT.

Parte dos valores Santana recebeu em 2014, ano em que o marqueteiro atuou na campanha presidencial de Dilma. A campanha petista está sob investigação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Dentro dessas acusações contra o marqueteiro, uma delas trata do suposto esquema de corrupção que teria vigorado nos contratos bilionários de plataformas para o pré-sal feitos pela Petrobrás, via Sete Brasil. São negócios alvo de cartel, fraudes em licitação e corrupção que teriam, segundo a Procuradoria, vigorado entre 2011 e 2014 envolvendo diretamente o PT. São réus o ex-tesoureiro do partido João Vaccari Neto e o ex-diretor de Serviços da estatal Renato Duque, cota petista no esquema.

Refinaria de Pasadena, no Texas. Foto: Richard Carson/Divulgação

Pasadena. Outra frente que pode gerar complicações para a presidente é o inquérito que está na Polícia Federal em Curitiba sobre propina na compra e reforma da Refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, em 2006 - quando ela era presidente do Conselho de Administração da Petrobrás e ministra de Minas e Energia do governo Luiz Inácio Lula da Silva.

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O aprofundamento dessas investigações enviadas pelo Rio de Janeiro deve gerar novas descobertas da emblemática compra, capitaneada pelo ex-diretor de Internacional Nestor Cerveró - que gerou um prejuízo de mais de US$ 700 milhões -, e que teria envolvido propina.

Dilma não foi citada até agora por delatores como envolvida no esquema de corrupção na compra de Pasadena. Para investigadores da Lava Jato, porém, delações como a de Delcídio e Cerveró que confirmam recebimentos de valores fruto da corrupção no negócio apontam para um acerto entre PT e PMDB.

Nesta quarta-feira, STF e PGR indicaram a impossibilidade de investigar Dilma "por ora". Por lei, como presidente em exercício ela não pode responder por fatos que antecedem o mandato. Confirmado o impeachment, o quadro muda.

Eletrolão. A mais incipiente das apurações envolve obras no setor de energia, como a construção da Usina de Belo Monte. Alvo de inquérito específico, a obra teria envolvido propina num esquema de cartelização entre empreiteiras capitaneado pela Andrade Gutierrez.

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Três nomes diretamente ligados à Dilma, no governo, e nas campanhas, foram citados por delatores como envolvidos na arrecadação de valores no esquema: Erenice Guerra, Antonio Palocci e Valter Cardeal.

Há ainda o processo da Usina Eletronuclear de Angra 3, no Rio, em que executivo da Andrade Gutierrez confirmou à Justiça a cobrança de propina.

Independente dos rumos do processo de impeachment - que vai definir se a presidente seria investigada no Supremo ou em primeira instância -, a Lava Jato tem potencial para incluir ainda este ano a presidente Dilma no rol de acusados por envolvimento na trama de cartel e propinas desmantelada na Petrobrás.

O cerco à presidente Dilma se forma da mesma maneira que a Lava Jato encurralou seu antecessor e maior padrinho político, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva - denunciado nesta terça-feira pela PGR por obstrução às investigações e alvo de inquéritos iniciados em Curitiba em fase avançada.

COM A PALAVRA, A PRESIDENTE DILMA ROUSSEFF

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Procurada, a assessoria de imprensa da Presidência não respondeu aos questionamentos da reportagem. A presidente Dilma Rousseff,em entrevista à imprensa, no Palácio do Planalto, nesta quarta-feira, 4, questionou a decisão do procurador-geral da República de pedir abertura de inquérito conta ela. Além de atacar as delações de Delcídio, classificadas como "levianas e mentirosas", a presidente Dilma disse que "é necessário investigar de onde surgem essas afirmações e comprovar".

"Tenho certeza que a abertura do inquérito vai demonstrar apenas que o senador, mais uma vez, faltou com a verdade, como aliás ele já fez anteriormente se vocês estão lembrados, que ele acusava na primeira gravação, ministros do Supremo, depois retirou a acusação daquela gravação. Agora, acusa a mim. Tenho consciência das mentiras do senador Delcídio do Amaral", afirmou Dilma.

Ela atacou ainda o que classificou de "vazamento de informações" às vésperas do Senado decidir se dará prosseguimento ao processo de impeachment. Para a presidente, há vazamentos de informações que têm "interesses escusos e inconfessáveis".

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