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Operadores de Cabral pediram 'socorro' a doleiros para lavar tanta propina, diz investigação

Volume de recursos movimentados por organização supostamente liderada pelo ex-governador do Rio era tão elevado que aliados do peemedebista não davam conta

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Foto do author Fausto Macedo
Por Mateus Coutinho , Fabio Serapião e Fausto Macedo
Atualização:

Sérgio Cabral deixa Curitiba. Foto: Geraldo Bubniak/Agência O Globo

Ao avançar sobre o milionário esquema de corrupção atribuído ao ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB), a Operação Eficiência revelou que as propinas arrecadadas pela organização criminosa teriam criado um verdadeiro 'oceano' de patrimônio para o peemedebista e seus aliados, ainda não totalmente rastreado pelas autoridades.

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O volume de dinheiro ilícito movimentado por Cabral na época em que ele governou o Rio (2007 a 2014) foi tão grande que nem mesmo seus operadores conseguiram lavar e tiveram que pedir ajuda a outros doleiros.

As investigações apontam que Cabral mantinha contas no exterior com dinheiro ilícito desde 2002, quando era deputado, e que teve três principais operadores ao longo do tempo - Sérgio Castro de Oliveira, o 'Serjão' ou 'Big', Carlos Emanuel Miranda e Luiz Carlos Bezerra. Os três estão presos.

Os irmãos Renato e Marcelo Chebar, que atuam no mercado financeiro e cuidavam das contas no exterior de Cabral, fecharam acordo de delação premiada homologado pelo juiz Marcelo Bretas, da 7.ª Vara Federal do Rio, e relataram aos procuradores que Cabral teria movimentado dinheiro no exterior desde, pelo menos, 2002. Segundo eles, as dificuldades para conseguir o dinheiro em espécie começaram a surgir a partir de 2007, quando o político virou governador do Rio.

 Foto: Estadão

Renato Chebar relatou que conhecia Cabral porque a companheira de seu pai era secretária do parlamentar, no fim dos anos 1990. Por volta de 2002/2003, o então deputado procurou Chebar, 'assustado com o escândalo do Propinoduto' - recebimento de propinas por fiscais de impostos do Estado, que tinham contas ilegais no exterior.

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Segundo o delator, Sérgio Cabral manifestou 'preocupação' com a conta no Israel Discount Bank. No encontro, que teria sido testemunhado por 'Serjão', o ex-governador perguntou a Chebar se poderia receber o dinheiro que tinha depositado na conta 'Eficiência', que acabou servindo de inspiração para o nome da Operação da Polícia Federal deflagrada nesta quinta-feira, 26.

Segundo a Procuradoria da República, de 2002 a 2007, período em que Cabral foi deputado estadual e senador, seu esquema teria remetido US$ 6 milhões para as contas geridas por Renato Chebar no exterior - um total de nove contas em cinco países: Suíça, Luxemburgo, Bahamas, Uruguai e Andorra.

Para a Procuradoria da República, o valor acumulado por Cabral no período 'em nada se compararia às surreais quantias amealhadas pelo ex-governador nos anos seguintes (2007-2014), durante sua gestão à frente do Governo do Estado do Rio de Janeiro, quando logrou acumular mais de US$ 100 milhões'. Até agora, o Ministério Público Federal conseguiu repatriar cerca de R$ 270 milhões.

O salto no volume de recursos movimentados a partir de 2007 trouxe trabalho para os responsáveis pela estrutura financeira ilícita do político. "Que, com o aumento do ingresso do volume de recursos, precisou comprar dólares no mercado paralelo, pois as operações com os clientes do IDB/NY (Israel Discount Bank of New York) já não eram mais suficientes; que passou a acionar um doleiro de apelido 'Juca'; que acredita que o primeiro nome de Juca seja 'Vinícius', mas não pode dizer com certeza pois nunca viu documentação que comprovasse tal fato", contou Renato Chebar em sua delação.

Apesar de não identificar o doleiro 'Juca' ou 'Juca Bala', os delatores afirmaram que ele é brasileiro que mora no Uruguai, mas que tem uma 'estrutura' no Rio para movimentar o dinheiro ilícito.

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Para dar conta da quantidade de recursos, segundo a Procuradoria, Cabral substituiu 'Serjão' por seu ex-assessor parlamentar Carlos Emanuel Miranda, uma 'pessoa de sua confiança, formado em economia, e que detinha maior responsabilidade para gerenciar os recursos ilicitamente auferidos', apontam os procuradores.

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Outro fato que os delatores revelaram à Procuradoria, inclusive com a apresentação de planilhas de pagamentos, é que, a partir de 2012, o esquema de Sérgio Cabral começou a se 'inverter' e, ao invés de remeter dinheiro para o exterior, Renato e Marcelo Chaber passaram a atuar para entregar em endereços no Rio o dinheiro em espécie da propina captada por Miranda das empresas.

"Em data que não pode precisar com exatidão, mas certamente entre os anos de 2012/2013, Carlos Miranda passou a deixar, além do dinheiro vivo no escritório dos colaboradores, alguns boletos e ordens para pagamentos em espécie em diversos endereços no Rio de Janeiro", afirmou Renato em sua delação. Segundo ele as remessas para o exterior foram diminuindo 'até praticamente pararem de acontecer entre 2012 e 2013', de forma que todo o dinheiro em espécie que era trazido por Carlos Miranda 'era utilizado para pagamentos de boletos e para pagamentos em espécie em diversos endereços no Rio de Janeiro', incluindo despesas da família de Cabral e de seus comparsas.

Além disso, segundo apurou o Ministério Público Federal, ao final de cada ano Sérgio Cabral 'recompensava' Wilson Carlos e Carlos Miranda, seus operadores de confiança que cobravam as propinas de 5% das empresas que mantinham obras com o governo estadual com um 'bônus'.

Dessa forma, como rastreou o Ministério Público Federal, o esquema permitiu aos três - Sérgio Cabral, Wilson Carlos e Carlos Miranda - acumularem quantias milionárias, sendo que o ex-governador possuía US$ 78 milhões, Miranda US$ 7 milhões e Wilson US$ 15 milhões.

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