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Operador de propina da Lava Jato doou R$ 50 mil à campanha de Jaques Wagner em 2006

Júlio Camargo, que para se livrar da prisão fez delação premiada e revelou como operava o esquema de corrupção na Petrobrás, contribuiu com petista por meio de sua empresa de fachada, a Piemonte Empreendimentos

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Foto do author Fausto Macedo
Por Julia Affonso , Ricardo Brandt e Fausto Macedo
Atualização:

Jaques Wagner. Foto: Dida Sampaio/Estadão

A Piemonte Empreendimentos LTDA, empresa controlada pelo lobista Julio Camargo - um dos delatores da Operação Lava Jato -, doou R$ 50 mil à campanha do então candidato ao governo da Bahia Jaques Wagner (PT) em 20 de setembro de 2006. Naquele ano, a campanha do petista - atual ministro-chefe da Casa Civil do governo Dilma - recebeu R$ 4.287.610,77 em doações eleitorais. A Piemonte ainda doou, na época, R$ 10 mil ao candidato a deputado no Espírito Santo Neucimar Ferreira Fraga. As informações constam da prestação de contas de Jaques Wagner ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

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O petista informou, por meio de sua assessoria, que a doação de R$ 50 mil para sua campanha 'está devidamente declarada ao TSE devidamente auditada e checada'.

Julio Camargo é personagem emblemático da Lava Jato. O lobista é apontado pelo Ministério Público Federal como um dos operadores de propinas no esquema de cartel e corrupção na Petrobrás, que vigorou entre 2004 e 2014. Segundo os investigadores da operação, a Piemonte Empreendimentos era usada por Julio Camargo como fachada para lavar dinheiro do esquema instalado na estatal e para repassar propinas a políticos e dirigentes da Petrobrás.

 
 

Em 2006, Jaques Wagner foi eleito governador baiano e reeleito em 2010. O petista administrou a Bahia até o fim de 2014. Em outubro de 2015, ele assumiu a chefia da Casa Civil de Dilma, deixando a cadeira de ministro da Defesa, que ocupou por dez meses.

A campanha de Jaques Wagner em 2006 foi citada pelo ex-diretor da área Internacional da Petrobrás Nestor Cerveró, um dos delatores da Lava Jato. Segundo o executivo, houve 'um grande aporte de recursos' para a campanha do petista. Cerveró declarou que o dinheiro teria sido desviado da Petrobrás e 'dirigido' pelo então presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli.

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Na quinta-feira, 7, o Estado revelou mensagens do celular do ex-presidente da OAS José Adelmário Pinheiro Filho, o Léo Pinheiro, em que Jaques Wagner fala sobre a liberação de recursos do governo federal. Os diálogos, segundo os investigadores, também indicam que Wagner intermediou negociações para o financiamento de campanhas eleitorais em Salvador, em 2012, no período em que esteve à frente do governo da Bahia (2007-2014). Em uma primeira análise, o diálogo é considerado "grave" por investigadores.

Julio Camargo, controlador da Piemonte. Foto: Reprodução

Apuração. Julio Camargo foi o terceiro investigado da Lava Jato a fechar acordo de delação premiada - após o ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef -, em outubro de 2014. Em um de seus principais depoimentos, ele revelou pagamento de US$ 5 milhões em propina para o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Além da Piemonte, o lobista também controla as empresas Treviso e Auguri.

As três empresas de Julio Camargo foram investigadas na Lava Jato. Laudo da Polícia Federal, de junho de 2015, indicou que a Camargo Corrêa fez pagamentos de R$ 67 milhões à Treviso (R$ 45 mihões) e à Piemonte (R$ 22 milhões), entre 2010 e 2012. Segundo o ex-presidente da empreiteira Dalton Avancini, em sua delação premiada, "os pagamentos de fato foram efetivados às empresas contratadas, Piemonte e Treviso, não tendo sido prestado qualquer serviço ao que saiba".

Trecho da denúncia contra o ex-ministro José Dirceu, que trata da Piemonte. Foto: Estadão

Trecho da denúncia contra o ex-ministro José Dirceu, que trata da Piemonte. Foto: Estadão

A Piemonte também esteve envolvida nos contratos de construção dos navios-sondas Petrobrás 10000 e Vitoria 10000, sem licitação, em 2006 e 2007. Segundo a Procuradoria da República, a intermediação do pagamento de propina no esquema dos navios-sonda foi feita pelo lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano, operador ligado à Diretoria Internacional da Petrobrás, de indicação do PMDB.

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Os investigadores afirmam que a propina foi oferecida, prometida e paga por Júlio Camargo. Para dar aparência lícita à movimentação, afirma o Ministério Público Federal, foram celebrados dois contratos de comissionamento entre a Samsung, responsável pela construção, e a Piemonte. Dessas comissões saíram as propinas prometidas a Fernando Soares, Eduardo Cunha e ao então diretor da área internacional da Petrobrás, Nestor Cerveró, que levou a questão à Diretoria Executiva e obteve a aprovação dos contratos relativos aos navios-sondas, nos termos propostos pela Samsung.

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A Piemonte foi citada ainda na negociação de um avião que teria pertencido ao ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. Em sua delação premiada, o lobista Milton Pascowitch afirmou ter pago metade de uma aeronave que seria usada por Dirceu. O Cessna, modelo 560XL, pertencia a Julio Camargo. O pagamento, informou Pascowitch, foi feito pela Jamp Engenheiros, que pertence ao delator, por transferência bancária para conta da Avanti Empreendimentos Ltda, empresa proprietária do avião.

A aquisição, segundo o delator, ocorreu em julho de 2011, pelo valor de R$ 1.071.193,00. A Avanti foi representada por Franco Clemente Pinto e pelo empresário Júlio Belardi de Almeida Camargo, filho do lobista Júlio Camargo. O negócio foi desfeito semanas depois e, segundo o Ministério Público Federal, anotações entregues por Pascowitch mostram que a Piemonte teria devolvido R$ 200 mil referentes à compra.

COM A PALAVRA, O MINISTRO JAQUES WAGNER

"Ministro Jaques Wagner está à disposição do Ministério Público e das autoridades competentes. Ele confia no resultado das investigações. Acredita que o Brasil será um outro país após a apuração das denúncias. Ele não vai comentar o depoimento pois não conhece seus termos na íntegra e dentro do seu real contexto. Informa que a doação de R$ 50 mil para sua campanha está devidamente declarada ao TSE devidamente auditada e checada."

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