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Operação Caça-Fantasmas descobre 'delivery das contas secretas'

Polícia Federal e Procuradoria apontam que o FPB Bank, do Panamá, mantinha agência clandestina no Brasil que, além de abrir contas em paraíso fiscal, oferecia as offshores para ocultar os beneficiários, em uma parceria com o escritório Mossack Fonseca, do escândalo do panama papers

Foto do author Julia Affonso
Foto do author Fausto Macedo
Por Julia Affonso , Fausto Macedo , Ricardo Brandt e enviado especial a Curitiba
Atualização:
 

A Operação Caça-Fantasmas, deflagrada nesta quinta-feira, 7, descobriu um serviço de "delivery da conta secreta" mantido por brasileiros, que atuavam numa espécie de agência clandestina do FPB Bank Inc, do Panamá, no Breasil. Os alvos dessa 32ª fase da Lava Jato, em Curitiba, buscavam clientes, sem autorização do Banco Central,para abertura de contas nos paraísos fiscais. No pacote, ofereciam o serviço de abertura de offshores, em parceria com o escritório panamenho da Mossack Fonseca, para ocultar a titularidade dos donos.

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"O destaque dessa operação é a complexidade e a sofisticação do método utilizado de ocultação de recursos possivelmente ilícitos que são colocados nessas contas desse banco, que atuava clandestinamente no território nacional. Havia uma dupla camada de lavagem de dinheiro. Além da constituição dessas offshores, que era feita pela Mossack Fonseca em paraísos fiscais, havia também a ocultação dos reais beneficiários desse dinheiro nesse banco", afirmou a procuradora da República Jerusa Viecili, da força-tarefa da Lava Jato.

"Chama a atenção da terceirização da lavagem do dinheiro. Porque cada vez mais os criminosos têm se utilizado, não somente de operadores financeiros pessoas físicas, mas agora especificamente de uma instituição financeira para realizar a ocultação e a dissimulação e conseguir manter em anonimato os clientes e reais beneficiários desse dinheiro que está passeando escondido no exterior."

 

A Caça-Fantasmas, que levou para depor coercitivamente, nove alvos ligados ao escritório clandestino do FPB Bank, é um desdobramento da 22ª fase da Lava Jato. Batizada de Triplo X, essa etapa mirou negócios da Mossack Fonseca na ocultação de proprietários dos imóveis do Edifício Solaris, no Guarujá, onde o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi dono de uma cobertura - reformada pela OAS e transformada em tríplex.

Novas frentes. Pelo menos 44 offshores abertas pela Mossack Fonseca, que teriam relação com o FPB Bank, são o ponto de partida para a descoberta de novos esquemas de lavagem, que vão além do descoberto no esquema Petrobrás. A Lava Jato acredita que pode chegar a outros crimes, além da corrupção, ao analisarem os dados da agência clandestina do banco panamenho.

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No caso do esquema alvo da Lava Jato na Petrobrás, pelo menos quatro nomes aparecem usando offshores da Mossack. Os investigadores apuram se recursos desviados da estatal circularam nas contas do FPB Bank. "O objetivo da Caça-Fantasmas é investigar quem foram os clientes, como movimentaram dinheiro, quanto foi movimentado, desde quando funcionava esse banco", explicou o Sanfurgo.

"Detectou-se a existência de uma instituição bancária estabelecida no exterior sem autorização de atuação no Brasil, que mantinha uma espécie de parceria com a Mossack. eu abro a offshore e você abre a conta. Isso para nós se insere no contexto de Petrobrás, temos quatro investigados que têm offshores abertas pela Mossack Fonseca, Roberto Trombeta, Pedro Barusco, Mário Góes e Renato Duque. E as conexões são muito claras entre Mossack e FPB", explicou o delegado da Polícia Federal Igor Romário de Paula.

 

'Disk offshore'. Foi depois da descoberta de um telefone criptografado que servia de comunicação exclusiva entre o banco panamenho e o escritório da Mossack, que a Lava Jato chegou ao FPB. Pelo menos quatro alvos do esquema de corrupção na Petrobrás, entre eles dois ex-executivos da estatal ligados ao PT, e dois operadores de propinas, tinham offshores abertas pela Mossack e podem ter algum elo com o esquema de delivery da conta secreta. A Polícia Federal anexou nos pedidos da Caça-Fantasmas as fotos do "disk offshore".

"Era uma linha direta entre Mossack Fonseca e FPB no Brasil. Servia para falar de forma segura entre as duas partes", explicou o delegado Rodrigo Sanfurgo, novo membro da equipe da Lava Jato, em Curitiba.

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"Não existia uma agência, eles atuavam de forma clandestina. Essa captação de clientes e a suposta movimentação de valores ocorria em escritórios, relacionados aos investigados. Mas existia também um serviço que eles iam até o cliente, cuidavam disso", afirmou Sanfurgo.

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Os escritórios de "representação clandestina" do banco ficavam em São Paulo e foram alvos de buscas, na Caça-Fantasmas. Um desses alvos representantes do banco é um tio de um delegado da Polícia Federal, que acusou colegas da Lava Jato de atuação irregular nas investigações. Edson Paulo Fantom, tio do delegado Mário Fantom, atuava em nome do FPB no Brasil. Ele foi conduzido coercitivamente para depor.

"É um pacote completo. A instituição financeira registrava as offshores, cuidava dessa parte gerencial da offshore e ao mesmo tempo cuidava da estruturação da conta lá fora para possibilitar a movimentação desse dinheiro. Não é razoável que uma pessoa busque uma instituição financeira sem autorização no Brasil se não para fins ao menos duvidosos."

 

 

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