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Olhar renovado sobre a Advocacia

Por Ricardo Freitas Silveira
Atualização:
Ricardo Freitas Silveira. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

A Ford decidiu trocar seu presidente mundial e justificou tal medida pela necessidade de um "olhar renovado", capaz de recolocar a centenária companhia no caminho do crescimento. O escolhido para esta missão foi Jim Hackett, que liderou a divisão de smart mobility focada em inovações em transporte. Jim, de 52 anos, acredita que a mudança é fator crítico para a sobrevivência de uma empresa. Pelo seu currículo, tem a experiência e o conhecimento para liderar uma empresa com mais de 100 anos. Dentre seus atributos estão a velocidade na tomada de decisões, a capacidade de reinventar e reenergizar a companhia, implementação de ações duras e medidas de redução de custo.

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A palavra-chave nos dias de hoje é mudança. Seja na Ford, como em qualquer outra empresa pequena, média ou grande, ou escritório de advocacia, existe uma crescente e constante necessidade de adaptar os negócios à nova realidade. Novas empresas, novos negócios, novas tecnologias, novas demandas jurídicas, de fato, um novo mundo de possibilidades.

Mas o mundo como conhecemos continua coexistindo com o novo. A mudança é agora. E o desafio de compatibilizar as regras então vigentes com o cenário vindouro não pode turvar ou até mesmo cegar as lideranças organizacionais. A indústria automobilística continua produzindo os veículos "tradicionais", mas tem plena consciência de que uma revolução, sem precedentes, irá atingi-la violentamente.

A advocacia vive o mesmo cenário. Processos no papel versus processos eletrônicos. Controles manuais versus a utilização sistemas integrados de gestão. Alimentação manual de sistemas versus robôs de automatização. Certidões extraídas obtidas em papel no fórum no papel versus inteligência artificial na mineração de milhares de dados. Audiências presenciais versus audiências online. E não para por aí, a lista é muito mais extensa.

E junto com as inovações, chegam os questionamentos, os debates e até as matérias sensacionalistas sobre o fim da advocacia com a substituição do advogado pelo robô-advogado. Muitas são as respostas apresentadas sem que as melhores e mais efetivas perguntas tenham sido feitas. Neste momento, o olhar renovado proposto pela Ford, bem como os atributos do seu novo presidente mundial, deve inundar as mentes dos profissionais que atuam no mercado jurídico.

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A questão não é se o robô irá substituir o advogado, mas sim quais são as tarefas repetitivas, realizadas em larga escala, com custo alto e com baixo valor agregado que podem ser automatizadas. Imputar manualmente os dados de um processo em um sistema ou pesquisar quantos processos existem sobre um determinado tema, o status de cada um deles, em uma comarca específica, são exemplos de atividades que deixarão de ser realizadas por profissionais com formação jurídica e serão realizadas por robôs.

Decidir pela aquisição destas tecnologias pressupõe o olhar renovado, isto é, decidir rápido e implementar ações duras focadas na redução de custo, este último que atinge todo e qualquer tipo de empresa, inclusive escritórios jurídicos que refletem as demandas dos departamentos jurídicos.

O outro ponto do olhar renovado que merece destaque é a capacidade de reinventar e reenergizar a companhia. As novas tecnologias, tanto aquelas que serão utilizadas no dia-a-dia das organizações jurídicas como aquelas que serão objeto de demandas jurídicas consultivas e contenciosas, indubitavelmente irá trazer um novo ânimo para os profissionais da área jurídica.

Estudar ou trabalhar em casos envolvendo tecnologias como Inteligência Artificial, Blockchain, Robótica, Internet das coisas, Biotecnologia, Bioinformática, Neurociência, Ciência de Dados, Impressão 3D, Nanotecnologia, entre outras, certamente irá reinventar e reenergizar advogados, escritórios e departamentos jurídicos.

Cada uma dessas tecnologias produzirá novos produtos e serviços na advocacia. Assim como a indústria automobilística está extremamente convicta de que "vender carros" já não basta, a advocacia do futuro precisa se reinventar e pensam muito além do contencioso.

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Estes novos "conteúdos" certamente contribuirão para reacender o interesse de inúmeros jovens pelo Direito e até mesmo fazer com que muitos desistentes retornem à advocacia, movimentando também o mercado de educação na área jurídica que carece urgentemente de um olhar renovado, tanto no conteúdo como na forma de ensino.

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Se nas últimas duas décadas o profissional do direito agregou ao conhecimento técnico-jurídico ensinamentos sobre administração, gestão e marketing, agora deverá compreender de algoritmo, estatística, entre outros temas. A graduação ainda focada no contencioso torna-se cada vez mais insuficiente para os desafios desta nova era.

A efetiva compreensão do olhar renovado pressupõe ainda uma reflexão sobre o tempo, o ritmo dos acontecimentos, ou melhor dizendo, sobre a velocidade com que todas estas mudanças serão vivenciadas em nosso cotidiano. Para compreender esta nova realidade é preciso compreender a substituição do linear pelo exponencial, o local pelo global.

Os últimos 50 anos trouxeram inovações superiores aos 500 anos precedentes. E nos próximos 5 anos, a velocidade das mudanças surpreenderá a todos. A democratização do acesso à informação com 3 bilhões de novas mentes ao redor do mundo contribuindo para o avanço da civilização, a desmaterialização e desmonetização de serviços e produtos e a redução do custo da tecnologia batem à porta. E por falar em porta, um carro autônomo na porta das residências não pode mais suscitar a questão sobre verdade ou mentira, a dúvida é quando, ou mais precisamente em quantos anos.

O otimismo deste texto está alicerçado em fatos e números. Mais do que nunca, o momento é de transformar problemas em oportunidades. A Ford está fazendo a parte dela. O futuro da advocacia será muito melhor do que se imagina, acredite.

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*Advogado e empreendedor. Fundador da Federal Inovação e Negócios, plataforma colaborativa de educação jurídica, e sócio do Benício Advogados

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