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Odebrecht usou esquema da 'Câmbio, desligo' para repasses a aliados de Temer

Empreiteira teria utilizado operador financeiro e uma empresa de entrega de valores para fazer chegar valores ao ministro da Casa Civil Eliseu Padilha e ao advogado José Yunes, amigo do presidente

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Por Fabio Serapião e BRASÍLIA
Atualização:

Michel Temer. Foto: Dida Sampaio/Estadão

A Odebrecht teria utilizado um operador financeiro e uma empresa de entrega de valores investigados na operação 'Câmbio, desligo' para efetuar supostos repasses ao ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, e ao amigo e ex-assessor do presidente Michel Temer, José Yunes. Deflagrada na quinta-feira, dia 3, a operação investiga um sistema financeiro paralelo comandado por Dario Messer, apontado como o "doleiro dos doleiros". O esquema teria movimentado cerca de US$ 1,6 bilhão entre os anos de 2011 e 2017 por meio de 3 mil offshores espalhadas em 52 países.

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Os delatores Vincius Claret, conhecido como Juca Bala, e Cláudio Barboza, o Tony, revelaram aos investigadores da "Câmbio, Desligo" que a Odebrecht era cliente do grupo comandado por Messer e que o doleiro chegou a emprestar US$ 8 milhões, em 2011, para o caixa 2 da empresa utilizado para pagar propina a políticos.

Os pagamentos aos aliados do presidente seriam parte dos R$ 10 milhões supostamente prometidos pela empreiteira baiana ao grupo político de Temer em jantar realizado, em 28 de maio de 2014, no Palácio do Jaburu. Os repasses, delatados pelo ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht Cláudio Mello, são alvos de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) em que Temer e os ministros Moreira Franco (atualmente em Minas e Energia) e Padilha são investigados por suspeitas de repasses de propinas para campanhas eleitorais do MDB em troca de favorecimento à empresa.

Ouvido nesse inquérito que tramita no STF, o policial militar Abel de Queiroz confirmou ter realizado ao menos duas entregas no endereço de Yunes, entre os anos de 2013 e 2014. O Estado teve acesso ao depoimento de Queiroz, revelado pelo jornal "Folha de S.Paulo" no domingo, 7. Queiroz era funcionário da Transnacional. A empresa é a filial paulista da Transexpert, investigada na operação "Câmbio, Desligo" e apontada como integrante do sistema financeiro paralelo comandado por Messer, considerado o maior doleiro em atuação no Brasil.

O PM esteve no local onde fica o escritório de Yunes acompanhado dos investigadores e confirmou "com absoluta certeza" ter ido realizar entregas "pelo menos duas vezes". A versão do policial contradiz a dada por Yunes em depoimento à Procuradoria-Geral da República (PGR). O ex-assessor e amigo de Temer assumiu à PGR ter recebido um pacote em seu escritório em apenas uma ocasião a pedido de Padilha. O advogado disse que não sabia que a entrega era de dinheiro e afirmou que atuou como uma "mula" de Padilha.

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Além da entrega no escritório de Yunes, o inquérito no STF apura as revelações de Cláudio Mello sobre entregas de valores para Padilha. Nesse caso, segundo o delator da Odebrecht, o pagamento teria sido efetuado em Porto Alegre, cidade natal de Padilha, pelo doleiro Antônio Cláudio Albernaz Cordeiro, codinome Tonico. Cordeiro foi alvo de pedido de prisão na "Câmbio, desligo".

De acordo com os delatores da operação da semana passada Cordeiro é "um doleiro conhecido no mercado e fica sediado em Porto Alegre". "O colaborador Cláudio Barboza acredita que a empresa Odebrecht era o principal cliente de Albernaz Cordeiro. Desta maneira, o colaborador acredita que, além de operar diretamente com os colaboradores, a empresa Odebrecht ainda usava Cordeiro para suprir ilegalmente suas necessidades de reais em Porto Alegre", diz trecho do pedido de prisão contra o operador na "Câmbio, desligo".

COM A PALAVRA, AS DEFESAS

O advogado Brian Alves Prado, que representa a defesa do presidente, reiterou que as respostas já foram dadas 'há muito tempo sobre esse mesmo enredo, ou seja, nega qualquer envolvimento do presidente Michel Temer com os fatos em apuração'. Já o advogado do ministro Moreira Franco, Antônio Pitombo, reitera que não há qualquer vínculo entre o seu cliente e os fatos sob apuração na investigação.

Em nota, por meio de seu advogado Daniel Gerber, o ministro Eliseu Padilha esclarece que 'repudia tais acusações e vai se manifestar exclusivamente perante o Poder Judiciário'.

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A Odebrecht, por meio de nota, afirmou que a empresa 'está colaborando com a Justiça no Brasil e nos países em que atua' e que 'implantou um sistema para prevenir, detectar e punir desvios ou crimes'.

O advogado José Luis Oliveira Lima afirmou que que seu cliente, José Yunes, 'não conhece e nunca teve contato com Abel de Queiroz'. Segundo o defensor, Yunes é um 'advogado com mais de 50 anos de atividade profissional e jamais foi intermediário de qualquer pessoa'. "A defesa não teve acesso a esse eventual depoimento, mas refuta de maneira taxativa qualquer ilação feita a respeito de José Yunes", afirmou Oliveira Lima.

O Estado não conseguiu contato com a Transnacional e com os doleiros Albernaz Cordeiro, Vinicius Claret e Cláudio Barboza, todos alvos da 'Câmbio, desligo'.

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