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O recado do além de Janene ao PT

Em 2005, José Janene, o ex-deputado (morto em 2010) que é a origem da Lava Jato, alertou o então presidente Lula que 'sem espaço e poder' base aliada desintegraria; Lula está indiciado na Lava Jato e Dilma está fora da Presidência

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Foto do author Fausto Macedo
Foto do author Julia Affonso
Por Ricardo Brandt , Fausto Macedo , Julia Affonso e enviado especial a Curitiba
Atualização:

O ex-deputado José Janene (morto em 2010) em entrevista na TV Câmara, em 2005 / Reprodução 

"Se nós estamos com o governo em matérias impopulares, é necessário que a gente tenha um espaço necessário para recuperar essas medidas que nós aprovamos, que são impopulares. É espaço, é poder." O alerta, de onze anos atrás, foi dado pelo então líder do PP na Câmara dos Deputados, José Janene (PR). Foi uma advertência endereçada ao então presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre as regras do fisiologismo político que o PT teria que adotar em sua relação com o Congresso.

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"É necessário que o governo faça uma abertura maior para a base aliada, para trazer essa base aliada, que é consistente", disse Janene, em entrevista concedida no dia 13 de abril de 2005, no programa Brasil em Debate, da TV Câmara.

Morto em 2010, o líder do PP mandou naquela oportunidade um aviso direto a Lula que resumia um problema indelével que o PT teve que conviver nos seus 13 anos no Planalto: sem distribuição de cargos e emendas no Orçamento da União para parlamentares aliados, a governabilidade e a reeleição estariam comprometidas.

O tema da entrevista - que contou também com o então líder do PMDB na Câmara, José Borba - era a paralisia do Congresso, decorrente de um "excesso de medidas provisórias" enviadas pelo governo Lula, trancando a pauta de votações. O pano de fundo era a reforma ministerial iniciada pelo petista de olho na reeleição do ano seguinte.

"Eu acho que, falar em governo de coalizão, não é um governo que vai espetar a base aliada. Ele tem que conquistar, até porque, se quiser aliança política, os partidos têm que estar contentes com o governo, para dizer 'olha, se estamos bem com o governo, o governo está indo bem e nós participamos do governo, por que não apoiar a reeleição do presidente?."

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A um ano da disputa eleitoral - em que Lula seria reeleito, em 2006 -, Janene explicou ao entrevistador que aliados na Câmara estavam insatisfeitos com a falta de "espaço" no governo. "Os deputados não têm respeitadas suas emendas parlamentares, não têm sido respeitados no que tange aos cargos nos estados, que são cargos políticos."

Lava Jato. Janene foi figura emblemática dos escândalos que esmagaram a imagem do PT e culminaram nesta quarta-feira, 31, com a cassação do mandato da presidente Dilma Rousseff. Na semana passada, Lula foi indiciado pela Polícia Federal na Operação Lava Jato, por corrupção, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica - os investigadores suspeitam que ele foi contemplado com R$ 2,4 milhões da empreiteira OAS, valor usado inclusive para reformas e mobiliário do tríplex no Guarujá que o petista nega ser o dono.

No processo do Mensalão, que seria revelado dois meses depois da entrevista que deu à TV Câmara, José Janene foi denunciado pelo Ministério Público Federal. Morreu dois anos antes do julgamento final do Supremo Tribunal Federal, realizado em 2012.

Os ex-presidentes Lula e Dilma e Paulo Roberto Costa / Reprodução 

Responsável pela indicação do ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa no esquema de loteamento político da estatal para arrecadação de propinas, o deputado foi a origem das investigações da Operação Lava Jato, em Curitiba.

Visionário. Na entrevista à TV Câmara - quando ele integrava a base de apoio do governo -, o líder do PP advertiu que "a coordenação política do presidente Lula" deveria estar atento para os reflexos que a falta de coalizão no Congresso traria para o projeto de reeleição.

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"Quando se está em uma disputa eleitoral, a sua base praticamente desintegra. Porque são os interesses partidários que irão nortear o destino das bancadas dentro da Casa. E, lamentavelmente, isso é uma verdade absoluta, a base aliada está desalinhada."

Lula foi reeleito em 2006, com apoio do PP e do PMDB.

Em 2010, o ex-presidente conseguiu eleger sua sucessora Dilma Rousseff, cassada nesta quarta-feira, 31, pelo Congresso. O vice, era o presidente empossado, Michel Temer (PMDB).

Em constatação óbvia, mas visionária, Janene disse ao governo Lula, em 2005, que "não se impõe uma aliança a ninguém".

"Estar no governo, não significa que você tem que apoiar o governo. Alguns partidos são da base aliada e acabam fazendo oposição. Outros partidos não são da base aliada, mas acabam votando com oportunismo determinadas matérias e faz com o que o governo acredite que vai ter o apoio (deles) para outras medidas polêmicas. E na votação seguinte, vem o troco bem dado."

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