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O primeiro dia oficial da mulher

Transexual conseguiu, na Justiça, mudar seu nome e ter a guarda da filha adotada com o ex-marido

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Por Redação
Atualização:

Dinah na frente de sua casa em Mogi das Cruzes 

Por Julia Affonso

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A dona de casa Dinah Pinheiro da Motta, de 38 anos, nasceu lá na Bahia. E se a hoje ela mora em Mogi das Cruzes, região metropolitana de São Paulo, a mudança se deve à mãe. Na vida dela, tudo foi rápido. Na cidade de Ubatão, interior baiano, foram apenas 41 dias de vida. Nasceu e, com 1 mês e meio, desembarcou em São Paulo com a mãe e quatro irmãos.

Dinah fala rápido. Em 26 minutos de conversa, ela contou 38 anos de vida. Falou de todos os bairros onde morou em Mogi, dos tempos de escola e do casamento aos 14 anos.

Ela e o namorado, então com 12 anos, se conheceram em uma festa no município. Ele morava em um orfanato da cidade e ela, com a mãe. Juntaram as vidas e compraram 'um barraco na Favela do Mangue Seco por R$ 200'.

Foram duas décadas juntos. Tempo em que ela conta que realizou dois dos três maiores sonhos da vida: ter a própria casa e uma filha. Vitória, de 12 anos, está em vários porta-retratos e na parede da casa, ao lado de duas duplas: os cantores Sandy & Júnior e Zezé Di Camargo & Luciano.

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A casa de Dinah com fotos da filha na parede. 

"A irmã de uma vizinha estava grávida e disse que ia dar a criança. Eu perguntei se ela queria me dar a menina. Ela disse que sim, não queria filhos, queria curtir a vida. Em 24 de fevereiro de 2003, às 6h10, a Vitória nasceu", conta. "Eu escolhi o nome."

Em março daquele ano, a mãe biológica da menina a deixou com Dinah. Vitória tinha 11 dias. A menina foi registrada no nome da mãe biológica e do pai adotivo, o hoje ex-marido de Dinah. Os dois se separaram há cinco anos.

"Eu cuidei sozinha dela durante 2 anos e 4 meses, depois que a gente se separou. O juiz me deu a guarda definitiva em 2013", diz. "Criei e fiz tudo por ela. Como se eu tivesse carregado no meu ventre. Por ela, eu movo céus e montanhas."

Dinah Pinheiro Motta com seu novo RG 

Depois de conseguir a casa e de ter adotado a filha, faltava realizar o terceiro sonho. Os planos de Dinah tomaram forma no fim do ano passado. O nome dela já havia mudado, informalmente, há mais de 15 anos. Mas o registro oficial ela conseguiu somente em 2014, na Justiça de São Paulo, mesmo sem ter passado por cirurgia. O processo de alteração de seus dados, ela conta, durou cinco meses.

"Foi rapidinho. Fiquei emocionada, né?", diz. "A minha sobrinha era criança quando escolheu o nome. Adinaldo com Dinah rima, né? Ficou Dinah."

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Dinah sempre foi Dinah. Mesmo quando ainda se chamava Adinaldo. Questões de gênero nunca tiraram seu sono. O duro, ela diz, sempre foi aguentar o bafafá.

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"Eu ia no posto de saúde, ficava quase na porta do médico, para quando ele me chamasse, não falasse Adinaldo. Eu tinha vergonha. Muita gente fica debochando, rindo, às vezes aponta. Eu vejo, mas finjo que não vejo para não responder à altura. É difícil, principalmente para conseguir serviço", relata.

Hoje, ela cuida da casa e da filha e vende lanches pela janela da cozinha de casa. Com a documentação nova, Dinah espera arrumar um emprego e melhorar de vida. Neste domingo, 8, ela passará seu primeiro Dia Internacional da Mulher com o registro oficial de identidade.

"Queria desejar a todas as mulheres transexuais que lutem pelos seus objetivos, um feliz dia das mulheres a todos", diz. "Era meu sonho ter minha casa, trocar meu nome e ser mãe. E eu consegui realizar tudo."

 

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