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'Não me cabe responder pela construtora', diz Marcelo Odebrecht sobre ação da empresa na Suíça

Em audiência que durou 22 mins e 50 segundos, procurador da República questiona maior empreiteiro do País se ele abriria mão de qualquer questionamento ao envio de extratos bancários apreendidos por investigadores daquele país ao Brasil

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Foto do author Fausto Macedo
Por Ricardo Brandt , Mateus Coutinho , Fausto Macedo e enviado especial a Curitiba
Atualização:
Marcelo Bahia Odebrecht, em depoimento ao juiz federal Sérgio Moro 

Diante do juiz da Lava Jato, o maior empreiteiro do País, Marcelo Bahia Odebrecht, afirmou nesta sexta-feira, 30, que não cabe a ele "responder pela construtora (Norberto Odebrecht)" ao ser questionado se abriria mão da ação movida por advogados contratados pelo grupo na Suíça para evitar o envio de extratos bancários obtidos pelos investigadores daquele país ao Brasil e que poderiam implicar a empreiteira no esquema de pagamento de propinas instalado na Petrobrás entre 2004 e 2014.

Inicialmente, na audiência, Marcelo Odebrecht fez um esclarecimento ao juiz Sérgio Moro sobre pontos que considera importantes da sua defesa. Mas, quando o juiz fez perguntas, o empresário limitou-se a dizer que tudo o que tinha a dizer já estava no documento escrito que sua defesa entregou à Justiça Federal antes da audiência - uma sequência de 60 perguntas e respostas que aborda a essência da acusação formulada pelo Ministério Público Federal. Os procuradores atribuem ao empresário crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

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"Meu questionamento é o seguinte, se o sr disse que essas contas (na Suíça) não são suas, o senhor autoriza aqui, nessa audiência, o juízo a encaminhar um ofício às autoridades suíças informando que o senhor abre mão de qualquer questionamento (na Justiça suíça) em relação a essas contas?", questionou o procurador da República.

"Não me cabe responder pela construtora", disse o empreiteiro. "Eu nem posso responder pela construtora."

O procrador insistiu. "Então o sr não autoriza o juízo a..."

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Odebrecht interrompeu. "Não é questão de autorização, eu não tenho competência para isso."

Na abertura da audiência, que durou 22 minutos e 50 segundos, frente a frente com o juiz que decretou sua prisão em 19 de junho de 2015, Odebrecht pediu a palavra e, por mais de dez minutos, reiterou que sempre colaborou com as investigações e esteve à disposição da Justiça. Ele fez críticas à força-tarefa da Operação Lava Jato e à publicação de suas anotações pessoais apreendidas pela Polícia Federal. Reiterou vários pontos da carta encaminhada a Moro. O documento foi amplamente divulgado pela imprensa.

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"As perguntas que forem feitas ele já as terá respondido", reiterou o advogado Nabor Bulhões, que defende o executivo, durante a audiência da tarde desta sexta-feira, 30. Apesar da estratégia, o juiz Sérgio Moro questionou Odebrecht especificamente sobre contas atribuídas a empreiteira na Suíça que foram identificadas pelo Ministério Público daquele país, e a transação de dinheiro entre elas. O empreiteiro indicou que não tem conhecimento das contas.

O juiz questionou sobre contas na Suíça que seriam controladas pela Construtora Norberto Odebrecht. O empresário disse. "Tudo o que eu sei sobre essas contas está em detalhes respondido nas perguntas escritas."

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"Mas tem alguma resposta para que elas serviam?", prosseguiu o juiz.

"Já encaminhei para Vossa Excelência."

Moro foi adiante, citou conta no Citibank em Nova York que recebeu US$ 21,8 milhões da conta da Construtora Norberto Odebrecht, entre 18 de dezembro e 21 de dezembro de 2006. "Sua resposta (por escrito) não reconhece essas contas, mas pode explicar por que a conta da Construtora Norberto Odebrecht transferiu esse valor?", indagou o juiz da Lava Jato.

"Tudo o que eu conheço sobre as denúncias estão nas minhas respostas", reiterou o empresário.

"Essas transações, não respondeu", disse Sérgio Moro. "Tudo que é do meu conhecimento está nas respostas, eu fiz isso de maneira bastante precisa, bastante detalhada, para evitar inclusive esse processo de publicidade opressiva que estou sofrendo. A melhor maneira de evitar mal entendimento, e dar ampla divulgação às minhas respostas, era fazer por escrito. Tudo o que conheço sobre esse tema está nas minhas respostas. Já respondi a tudo."

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"Minha intenção é e sempre foi de colaborar com as investigações", disse o empresário no início da audiência. "Absolutamente nada ficou comprovado contra mim. Hoje completa 133 dias que eu estou preso, com efeitos à minha imagem, sobre a minha família, sobre a Odebrecht como um todo. Não bastasse a restrição à minha liberdade e à falta de acesso que estou tendo, inclusive, à integralidade dos documentos."

Marcelo Odebrecht fez um desabafo. "As atitudes recorrentes que estou vendo nesse processo evidenciam um perigoso e preocupante quadro de prejulgamento a que eu estou sendo submetido. Temo que esse processo acabe conduzindo para um desfecho que sirva, eu diria, que sirva para justificar a prisão preventiva injusta e desnecessária que me foi imposta", afirmou Odebrecht ao justificar o silêncio que adotou diante dos questionamentos.

"Para melhor expor minha defesa eu estou encaminhando por escrito e de forma detalhada resposta a todos, absolutamente todos os fatos que me são imputados", disse ele. "Para que não fique nenhuma dúvida sobre a minha inocência."

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