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Não adianta martelar uma mentira mil vezes, diz procurador sobre Odebrecht

Carlos Fernando dos Santos Lima, da força-tarefa da Lava Jato, diz que empreiteira não realizou nenhum trabalho interno de apuração contra corrupção 'porque a investigação atingiria seus altos escalões’

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Por Redação
Atualização:

Procurador Carlos Lima. Foto: Gisele Pimenta/Frame

Por Ricardo Brandt, enviado especial a C uritiba, Fausto Macedo e Julia Affonso

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O procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima, da força-tarefa da Operação Lava Jato, mandou um recado à empreiteira Odebrecht, que teve seu presidente, Marcelo Bahia Odebrecht e sua cúpula formalmente denunciados nesta sexta-feira, 24. O procurador afirmou que a verdade vai aparecer no processo.

"Não adianta martelar uma mentira mil vezes, o Ministério Público Federal, a Polícia Federal e a Receita Federal vão mostrar que é mentira. A verdade foi trazida hoje (durante o oferecimento da denúncia) através de uma série documentos. Se é uma estratégia continuar mentindo ela vai ser rebatida em todas as fases do processo até o julgamento final. Não adianta martelar mentira mil vezes. A verdade vai aparecer no processo, conforme as regras legais", disse ele.

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'A Lava Jato é um suspiro de esperança', diz procurador

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A Odebrecht, maior empreiteira do País, tem reiterado taxativamente, durante meses, por meio de notas e comunicados à imprensa, que nunca participou do esquema de corrupção e propina na Petrobrás. A companhia também nega depósitos para ex-funcionários da Petrobrás.

Em 22 de junho, três dias após a prisão de sua cúpula, a Odebrecht publicou um comunicado nos principais jornais do País. Na ocasião, o grupo considerou uma afronta aos princípios básicos do Estado de Direito o decreto de prisão de Marcelo Odebrecht - alvo da Erga Omnes, 14.ª etapa da Lava Jato.

"Em relação às empreiteiras, desde o início, o Ministério Público Federal teve a intenção de se aproximar delas, permitindo que elas realizassem investigações internas e levantassem os dados de ocorrência de ilícitos internamente e nos trouxessem esses fatos, como hoje se exige de qualquer empresa moderna, em qualquer lugar do mundo. Entretanto, isso não aconteceu. Aconteceu parcialmente em relação à Camargo Corrêa. Em relação às demais, não", disse o procurador.

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Carlos Fernando dos Santos Lima explicou. "Especialmente, em relação à Odebrecht, nós verificamos uma atitude de negação, que vem desde o começo das investigações. Hoje, nós sabemos porque se nega e porque não foi feito nenhum trabalho interno de investigação. Porque a investigação atingiria os altos escalões da Odebrecht. Não era algo feito a níveis inferiores da instituição, mas sim no alto escalão, tanto que nós estamos fazendo uma denúncia, hoje, contra os dirigentes."

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Offshores. Documentos enviados pela Suíça indicam oito novas contas supostamente usadas pelo grupo em nome de empresas offshores Smith & Nash Engeinnering Company, Arcadex Corporation, Havinsur S/A, Golac Project, Rodira Holdings, Sherkson Internacional. Duas delas já eram conhecidas, a Constructora Del Dur e a Klienfeld.

As contas eram usadas supostamente pela empreiteira para os pagamentos e por beneficiários para recebimento. Os pagamentos foram de duas formas, segundo o MPF.

"Diretamente, pela utilização de contas em nome das off-shores Smith & Nash Engeinnering Company, Arcadex Corporation, Havinsur S/A, das quais é a beneficiária econômica final e, portanto, controladora, com transferências diretas dessas contas para contas controladas por dirigentes da Petrobrás."

A investigação suíça apontou pagamentos de US$ 10.924.390,04 do Grupo Odebrecht, investigado na Operação Lava Jato, aos ex-diretores da Petrobrás Paulo Roberto Costa (Abastecimento), Renato Duque (Serviços), Pedro Barusco (Gerência de Engenharia), Jorge Zelada (Internacional) e Nestor Cerveró (Internacional).

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COM A PALAVRA, A BRASKEM

Nota de esclarecimento da Braskem

Em relação ao preço do contrato de nafta

- A negociação do contrato de nafta em 2009 foi feita pela Petrobras simultaneamente com a Braskem e com a sua concorrente à época, a Quattor.

- As duas empresas assinaram contratos com condições idênticas e, portanto, tiveram acesso a matéria-prima nas mesmas condições.

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- A Petrobras é a única produtora de nafta no Brasil, sendo que Quattor e Braskem eram as únicas consumidoras por ocasião da negociação do contrato.

- Caso a Petrobras não vendesse sua produção localmente, a estatal seria obrigada a exportar a nafta, incorrendo em relevantes custos logísticos.

- Da mesma forma, caso Braskem e Quattor não comprassem nafta da Petrobras, elas teriam de importar esse volume de nafta, incorrendo, também, em custos relevantes de logística.

- O intervalo de preço contratado, entre 92,5% e 105% de ARA, representava, portanto, a melhor alternativa de comercialização desse produto, tanto para a vendedora Petrobras como para as compradoras Braskem e Quattor.

- De acordo com depoimento dado à Polícia Federal, no dia 15 de julho, já no âmbito das investigações da Operação Lava Jato, executivo do grupo técnico da própria Petrobras confirmou que "um valor estimado entre 91% e 93% de ARA não geraria prejuízo contábil à Petrobras".

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Em relação ao volume contratado e importação de nafta

- A Petrobras é a única produtora de nafta no Brasil com capacidade de produção de 11 milhões de toneladas, sendo que desde 1999 fornece aproximadamente 7 milhões de toneladas por ano ao setor petroquímico brasileiro, destinando o restante para a produção de gasolina.

- É de conhecimento público que, a partir de 2010, o congelamento de preço da gasolina no Brasil gerou um crescimento de demanda de aproximadamente 70% pelo combustível, levando a Petrobras a passar de exportadora de gasolina para importadora.

- Para resolver esse desequilíbrio no setor de combustível, que não guarda nenhuma relação com o setor petroquímico, a Petrobras tomou uma decisão unilateral de usar a nafta nacional, que estava contratada com o setor petroquímico, para aumentar a produção de gasolina.

- Para fazer frente ao seu compromisso contratual com o setor petroquímico, a Petrobras decidiu também unilateralmente importar a nafta para atender o setor industrial.

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- Essa decisão da Petrobras, segundo relatório interno da Petrobras, minimizou seus custos em US$ 543 milhões.

- Dito isso, não faz nenhum sentido falar em R$ 6 bilhões de prejuízo à Petrobras a partir do conhecimento técnico do mercado de combustíveis e petroquímicos brasileiros.

- Por fim, essa questão não é assunto novo e já foi objeto de ampla discussão do setor petroquímico com a estatal e com o governo, tendo sido debatido abertamente pela Imprensa.

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