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Na crise dos áudios contra a Lava Jato, políticos silenciam nas redes

Na semana que Brasília entrou em polvorosa, caciques tucanos e peemedebistas adotaram a cautela e não comentaram os áudios que pegaram Renan Calheiros, José Sarney, Romero Jucá e Sérgio Machado, ex-Transpetro, todos tramando contra a Lava Jato

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Por Mateus Coutinho
Atualização:

Ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, investigado pela Lava Jato 

Na semana em que as conversas do ex-diretor da Transpetro Sérgio Machado com integrantes da cúpula do PMDB para tentar obstruir os avanços da maior operação de combate à corrupção no País abalaram o partido do governo interino de Michel Temer (PMDB), algumas da principais lideranças políticas do País silenciaram nas redes sociais.

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Até o final da tarde desta sexta-feira, 27, os perfis oficiais de Fernando Henrique Cardoso, Aécio Neves, Michel Temer e Lula não falaram sobre o caso e se limitaram a divulgar "notas" de suas defesas ou mesmo dos próprios partidos em repúdio às acusações e citações que aparecem nos diálogos bombásticos de Machado com Romero Jucá, José Sarney e Renan Calheiros.

O presidente em exercício Michel Temer (PMDB), de perfil mais discreto em seu Facebook oficial, fez a última postagem em 13 de maio, logo após tomar posse interinamente. Seu perfil no Twitter é mais ativo, e postou dezenas de mensagens ao longo da semana, todas relacionadas às atividades de governo, seus discursos e agendas de sua gestão e seus ministros.

Não há nenhum comentário sobre os diálogos que atingem em cheio graduados do seu partido e tampouco qualquer menção a Romero Jucá, que aparece nas conversas discutindo sobre como "estancar" a Lava Jato - o que acabou provocando sua queda do Ministério do Planejamento, após a repercussão.

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FHC. Foto: Fábio Motta/Estadão

FHC. Desde segunda-feira, 23, quando foi divulgado o primeiro áudio da conversa entre Machado e Romero Jucá (PMDB), que acabou derrubando o peemedebista do Ministério do Planejamento ainda nos primeiros 12 dias do governo interino de Temer, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso não fez nenhum comentário sobre o episódio em seu perfil oficial no Facebook. Suas únicas postagens foram uma na própria segunda-feira, 23, compartilhando a entrevista que deu ao Estadão na qual afirmou que "se o governo (Temer) for para o lado errado, o PSDB sai".

Na quinta-feira, 26, ele fez sua segunda postagem da semana, na qual mencionou o título de "Doctor of Law" que recebeu da Universidade de Harvard, uma das mais importantes dos Estados Unidos.

Aécio Neves. Foto: Dida Sampaio/Estadão

O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, também evitou comentar o teor dos áudios, divulgando apenas notas oficiais de seu partido em resposta às citações a ele. Em um dos diálogos com Renan, Machado chega a afirmar que Aécio é "o cara mais vulnerável do mundo". Em outra ocasião, na conversa com Jucá, o ex-presidente da Transpetro indaga "quem não conhece o esquema do Aécio".

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No Facebook e no Twitter, o tucano divulgou notas de seu partido em repúdio às citações e afirmando que a sigla acionará Sérgio Machado judicialmente, além de que as gravações não apontam provas contra ele. Em meio à grande repercussão das conversas, o tucano publicou fotos suas com apoiadores no Congresso e até uma mensagem sobre um projeto de lei que prevê mudanças na gestão dos fundos de pensão.

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O comportamento contrasta com a postura de Aécio quando vieram à tona, em março, as conversas grampeadas do ex-presidente Lula com a então presidente Dilma Rousseff nas quais ela afirma que vai encaminhar o termo de posse para ele assumir a Casa Civil. "Essas gravações que vieram agora a público não apenas contaminam a nomeação do ex-presidente Lula. Contaminam todo esse governo. A presidente Dilma perdeu definitivamente as condições de continuar governando o Brasil", afirmou o tucano na época.

Em relação aos diálogos de Jucá, Renan e Sarney, que sugerem desde um "pacto nacional" com o Judiciário para evitar que a Lava Jato avance sobre novos políticos, até mesmo a tentativa dos caciques peemedebistas de tentarem contatar pessoas "próximas" ao ministro Teori Zavascki, relator da operação no STF, o tucano preferiu o silêncio.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, alvo da Lava Jato / Foto: Adriano Machado/Reuters

PT. No espectro petista, a situação não foi muito diferente. À exceção de Dilma Rousseff, o ex-presidente Lula se limitou a divulgar uma nota na quinta-feira, 26, afirmando que o diálogo de Renan Calheiros com Machado não traz nada de ilegal contra ele, que foi vazado de forma ilegal e que 'confirma o clima de perseguição contra o ex-presidente'.

Com as revelações bombásticas dos diálogos ao longo da semana, o petista divulgou mensagens em repúdio ao estupro de uma jovem no Rio, sobre atividades do Memorial da Democracia, sobre avanços sociais dos governos petistas, dentre outros assuntos.

Dilma Rousseff e o ex-ministro José Eduardo Cardozo. Foto: Reprodução/Facebook

No dia em que a primeira gravação entre Machado e Jucá foi divulgada, Dilma divulgou uma mensagem afirmando que os diálogos reforçam que houve um 'golpe' contra sua gestão. "A revelação do diálogo entre Romero Jucá e Sérgio Machado demonstra a verdadeira razão do golpe contra a democracia e o mandato de Dilma Rousseff. O objetivo é frear a Lava Jato e empurrar para baixo do tapete as investigações. O povo brasileiro tem o direito de saber tudo sobre essas gravações. Não podemos admitir que um diálogo como esse não seja investigado a fundo", disse.

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Ao longo da semana, porém com novas conversas, inclusive do ex-presidente José Sarney afirmando que a delação da Odebrecht vai "pegar a Dilma", em relação aos pagamentos ao marqueteiro João Santana - preso na Lava Jato -, que atuou na campanha presidencial da petista, a presidente afastada divulgou uma nota sobre os pagamentos ao publicitário e depois não fez mais nenhum comentário sobre as gravações.

Na tarde de ontem ela ainda divulgou uma nota negando as supostas acusações contra ela no depoimento do ex-depoutado Pedro Corrêa, cuja delação premiada está sob análise do Supremo.

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