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Mulher de Funaro relata reclamações de Geddel, ligações noturnas e promessa de falar com 'Padilha'

Em depoimento à Polícia Federal, Raquel Pitta revelou abordagens que afirma ter recebido do ex-ministro do governo Temer que, nesta quarta-feira, 12, ganhou prisão domiciliar com tornozeleira

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Por Breno Pires
Atualização:
Geddel em sua primeira audiência de custódia, quando foi preso por suposta pressão para evitar que o doleiro Lúcio Funaro firmasse acordo com a Procuradoria para confessar seus crimes. Foto: Reprodução de vídeo da 10ª Vara Federal de Brasília

Em depoimento à Polícia Federal, a mulher do corretor Lúcio Funaro, Raquel Pitta, detalhou as abordagens que recebeu do ex-ministro Geddel Vieira Lima, interessado em saber da disposição do marido dela de firmar acordo de colaboração premiada. Ligações noturnas, insistentes, reclamações e uma promessa de falar com 'Padilha' são alguns conteúdos que ela apresentou à investigação contra Geddel.

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A mulher de Funaro disse que o peemedebista passou a fazer ligações 'insistentemente' após a prisão do marido, querendo saber do 'estado de ânimo' dele, e que esses contatos feitos em horários noturnos "passaram a incomodar". Roberta disse que chegou a ligar ao marido para dizer que não iriaa atender mais a Geddel, mas foi desaconselhada porque, segundo Funaro, o peemedebista "poderia estranhar e pensar que Lucio poderia estar delatando".

Raquel Pitta disse ter ouvido do marido que "ele [Geddel] está sendo homem e cumprindo o combinado". Mas ela não explicou que combinado era esse, apenas imaginava que seria alguma "assistência à família".

Na referência feita a 'Padilha' no depoimento transcrito de Raquel Pitta, ela afirmou também que, em dado momento antes da audiência de custódia de Funaro, "Geddel fez uma ligação para a declarante informando-a que estaria indo pra Brasília/DF e falaria com Padilha, para tentar resolver a situação de Lúcio". A transcrição não especifica se se trata ou não do ministro da Casa Civil Eliseu Padilha, aliado de Geddel Vieira Lima.

Ainda sobre o tema da audiência de custódia, realizada em novembro, Raquel Pitta disse que, após a realização dela, Geddel mandou mensagem via 'Whatsapp' reclamando da troca de advogado do marido.

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"Que porra é essa", teria dito Geddel de acordo com o depoimento da mulher de Lúcio Funaro. O peemedebista teria dito que "o advogado era bom e estaria fazendo tudo certinho, que estaria tudo certo para a saída dele, mas que com a entrada de Vera Carla tinha 'ficado ruim para o juiz'", segundo a depoente.

Outra reclamação de Geddel que Raquel Pitta narrou foi uma que teria acontecido após ela comentar com a irmã de Funaro, Roberta, sobre uma mensagem de Geddel.

Segundo ela, "um ou dois dias depois" o próprio ex-ministro teria ligado para a esposa do corretor para reclamar disso dizendo que falar sobre ele poderia o comprometer.

A mulher de Funaro disse ainda que, no dia em que foi divulgada a delação de Joesley Batista, Geddel teria ligado para saber como Lucio estava, e então contou ao político que o marido teria ficado bastante abalado. E que no dia em que Roberta Funaro foi para a prisão domiciliar Geddel ligou para perguntar se Lúcio estava mais calmo. Segundo ela, o peemedebista ficou "bastante preocupado com o estado de nervosismo da declarante e de Lúcio, e que estava contente por esse problema já ter sido superado".

Ainda no depoimento à PF, a esposa do corretor disse que não tem mais as mensagens enviadas por Geddel porque trocou o celular.

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Prisão domiciliar. Preso no dia 3 de julho por suspeita de tentar atrapalhar investigações, Geddel deixará a Penitenciária da Papuda e passará para a prisão domiciliar, por decisão do desembargador Ney Bello, do Tribunal Regional Federal da 1.ª Região, publicada nesta quarta-feira, 12.

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O magistrado disse não haver crime que justificasse a prisão preventiva. Mas determinou a proibição do peemedebista de usar telefone e de contatar qualquer investigado ou familiares de investigados e ordenou ainda o monitoramento eletrônico, feito normalmente por meio de tornozeleira eletrônica.

Aliado do presidente Michel Temer e ex-ministro da Secretaria de Governo até o fim do ano passado, Geddel foi preso sob suspeita de tentar obstruir as investigações da Operação "Cui Bonno?", na apuração de irregularidades na concessão de financiamentos da Caixa Econômica Federal. Segundo a investigação, Geddel teria tentado evitar que o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e o corretor Lúcio Funaro firmem acordo de colaboração com o Ministério Público Federal.

Funaro foi quem primeiro relatou a pressão feita por Geddel à sua própria esposa, Raquel Pitta para evitar que o marido de Raquel fizesse um acordo de delação premiada. Este foi um dos principais fundamentos da decisão do juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal do Distrito Federal, quando autorizou a prisão do ex-ministro.

O advogado de Geddel, Gamil Foppel, afirmou que a decisão que permite a saída do político da Penitenciária da Papuda para a prisão domiciliar é "apenas o primeiro passo do irreversível caminho de restauração das liberdades fundamentais, tão violentamente ofendidas".

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"Não há como sustentar a prisão preventiva, assim como não se pode amparar qualquer acusação contra Geddel Vieira Lima", disse o advogado.

Ele afirmou, também, estar confiante no "restabelecimento da verdade histórica dos fatos, evidenciando a inabalável inocência do senhor Geddel Vieira Lima, acusado sem provas de ilegalidade que jamais praticou".

COM A PALAVRA, A DEFESA DE GEDDEL VIEIRA LIMA

O E. TRF da primeira região, em fiel e estrito cumprimento à legalidade e à ordem Constitucional, concedeu ordem de Habeas Corpus a Geddel Vieira Lima. Refutaram-se as infundadas presunções, encarando-se altivamente a verdade: não há como sustentar a prisão preventiva, assim como não se pode amparar qualquer acusação contra Geddel Vieira Lima.

Destacou-se, na aludida decisão, então, que "até o presente momento, não há sequer indícios mínimos de cometimento contemporâneo de Lavagem de Dinheiro a justificar a prisão por encarceramento".

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Reconheceu-se, portanto, ainda na decisão, que "não há fatos e nem dados concretos donde se possa inferir que o paciente usa sua força política para interferir nas investigações". Até, porque, desde que se viu enredado no procedimento contra si instaurado, o Senhor Geddel Vieira Lima não apenas demonstrou uma postura colaborativa, como se recolheu à sua intimidade, cortando qualquer contato que não do seu círculo familiar mais próximo.

Ainda assim, a irretocável decisão consignou: "não há delito aparente em obter informação, quando este ato não é ilegal e muito menos criminoso. Mais que isso, é um ato até esperado considerando a inexistência de proibição de contato com a esposa do Delator e a natureza da posição de investigado do próprio Geddel". "Donde o ilícito?".

A concessão do habeas corpus decerto foi apenas o primeiro passo do irreversível caminho de restauração das liberdades fundamentais, tão violentamente ofendidas, que decerto resultará no restabelecimento da verdade histórica dos fatos, evidenciando a inabalável inocência do Senhor Geddel Vieira Lima, acusado sem provas de ilegalidade que jamais praticou.

Dessa forma, permanece, como sempre permaneceu, à inteira disposição de todas as autoridades constituídas, para prestar todos os esclarecimentos que forem julgados necessários, mantendo sua postura de obediência e respeito às instituições.

Salvador/BA, 12 de julho de 2017.

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Gamil Föppel

OAB-Ba 17.828

COM A PALAVRA, ELISEU PADILHA

O ministro Eliseu Padilha afirma, por meio de sua assessoria de imprensa, que 'o ex-ministro Geddel Vieira Lima nunca lhe falou para resolver nada para Lúcio Funaro'.

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