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Movimentação financeira de 'garçom de Lula' foi de até 69 vezes superior aos rendimentos

Carlos Cortegoso, dono da CRLS e da Focal, teria ocultado R$ 309 mil da propina desviadas dos empréstimos consignados, via Ministério do Planejamento, para o PT, aponta Custo Brasil; alvo foi segundo maior fornecedor da campanha de Dilma, em 2014

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Por Fausto Macedo , Ricardo Brandt , Julia Affonso e Fábio Serapião/Brasília
Atualização:

 

 Foto: Estadão

A movimentação financeira do dono da Focal Confecção e Comunicação Visual - segunda maior fornecedora da campanha de 2014 da presidente afastada Dilma Rousseff (PT) -, Carlos Roberto Cortegoso, chegou a ser "69 vezes maior do que o valor dos seus rendimentos declarados" à Receita Federal. Conhecido como o "garçom do Lula", o empresário de São Bernardo do Campo (SP) é investigado pela Operação Custo Brasil por ter escoado pelo menos R$ 309 mil da propina desviada no Ministério do Planejamento na gestão de Paulo Bernardo - solto ontem, após seis dias de reclusão.

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"A movimentação de Carlos Cortegoso chama a atenção por ser, em muitos casos 69 vezes maior do que o valor de seus rendimentos declarados. Além disso, apresenta uma variação patrimonial descoberta", registra representação da Polícia Federal, nos autos da Custo Brasil, feito com base na quebra do sigilo do investigado feita pela Receita Federal.

O documento mostra que nos anos de 2010, 2012, 2013 e 2014 a movimentação financeira de Cortegoso foi muito superior aos rendimentos declarados (veja tabela anexada a documento da da PF).

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Cortegoso atua em campanhas do PT desde a década de 90 e forneceu material gráfico e camisetas para todas as disputas presidenciais do partido desde 2002. Em 2014, os gastos com a Focal aumentaram ainda mais e chegaram a R$ 23 milhões. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) investiga os pagamentos. Além da campanha presidencial, a empresa de Cortegoso recebeu R$ 158 mil da candidatura da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), mulher do ex-ministro Paulo Bernardo.

O apelido de "garçom do Lula" ele ganhou porque trabalhou em um restaurante em São Bernardo do Campo (SP) frequentado pelo ex-presidente quando ainda era sindicalista. No fim dos anos 90, Cortegoso montou uma empresa de produção de camisetas e material de campanha. Com a chegada do PT ao Palácio do Planalto, em 2002, o negócio cresceu rapidamente e ele virou o principal fornecedor das campanhas do partido.

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Em 2006, na campanha à reeleição de Lula pagou R$ 3,9 milhões à Focal. Quatro anos depois, na primeira campanha de Dilma Rousseff, os gastos do partido com a Focal quase quadruplicaram e chegaram a R$ 14,5 milhões.

O delator da Operação Custo Brasil, o ex-vereador do PT Alexandre Romano, o Chambinho, revelou que Cortegoso é conhecido como "Carlão". "Aparentava ser uma pessoa simples. "Carlão conversava abertamente que tinha sido garçom, mas que tinha aberto essa empresa para atender o PT e que ele fazia todos os eventos do PT. Carlão ficava sempre credor do PT."

A Procuradoria afirma, no pedido de buscas nos endereços de Cortegoso, que "embora tenha declarado renda de 10 mil reais por mês, movimentou R$ 1.450.199,00 em uma ano em sua conta".

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Consist. O dono da Focal havia caído no radar da PF nas investigações da Operação Lava Jato - que resultou na Custo Brasil - em 2015, quando foi descoberto o esquema que desviou R$ 100 milhões dos empréstimos consignados dos servidores federais, via acerto no Ministério do Planejamento com a empresa Consist Software e entidades conveniadas.

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Outra empresa de Cortegoso, a CRLS Consultoria e Eventos, teria servido para ocultar propina destinada para o PT, durante a gestão de Paulo Bernardo no Ministério do Planejamento. É essa empresa que o delator da Custo Brasil cita em seu depoimento.

Romano confessou que o ex-tesoureiro do partido João Vaccari Neto indicou a CRLS como destinatária da propina direcionada à legenda. "Num primeiro momento era a CRLS, representada pelo Cortegoso, que realizava os pagamentos emitindo notas contra a Consist. Num segundo momento, era a empresa Politec, representada pelo Helio Oliveira, que realizava o pagamento. E, por fim, num terceiro momento era a Jamp, representada pelo Miltom Pascowitch", afirmou Romano em um de seus termos de delação.

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A Operação Custo Brasil, deflagrada no dia 23, apura o pagamento de propina entre os anos de 2010 e 2015 a pessoas ligadas a funcionários públicos e agentes públicos ligados ao Ministério do Planejamento, em especialo ex-ministro Paulo Bernardo (também éx-Comunicações no governo Lula), marido da senador Gleisi Hoffmann (PT-PR).

Há indícios de que o Ministério do Planejamento direcionou a contratação da Consist para a gestão do crédito consignado na folha de pagamento de funcionários públicos federais com bancos privados, interessados na concessão de crédito consignado. "Segundo apurou-se, 70% dos valores recebidos por essa empresa eram repassados a pessoas ligadas a funcionários públicos ou agentes públicos com influência no MPOG por meio de outros contratos - fictícios ou simulados."

Na representação do Ministério Público Federal, que pediu a prisão de Bernardo e dois ex-tesoureiros do PT, João Vaccari e Paulo Ferreira, a CRLS é descrita como a " primeira empresa" a operar os repasses de propina desviados dos empréstimos consignados pela Consist para o PT. "Referida empresa é uma empresa produtora, que fazia eventos para o PT, e que tinha créditos com o PT. Carlos Cortegoso teve evolução patrimonial bastante rápida, tendo sido garçom e atualmente teria inclusive avião em seu nome."

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Cortegoso foi alvo de buscas em seus endereços e também no endereço da CRLS, em São Bernardo do Campo. A Polícia Federal e o Ministério Público Federal não chegaram a pedir sua prisão "porque figuraram como parceiros da Consist no início do esquema, com intermediação de Alexandre Romando", registra a PF na representação de prisão da Custo Brasil, deferida pela 6ª Vara Criminal de São Paulo.

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"Houve o pagamento de três parcelas para a CRLS pela Consist Software, no total de R$ 309.590,00, sem prestação de qualquer serviço lícita correspondente", apontam os procuradores da República Andrey Borges de Mendonça, Rodrigo de Grandis, Sílvio Luís Martins de Oliveira e Vicenti Solari Mandetta. As notas fiscais foram anexadas aos autos.

Ouvido pela Polícia Federal no dia 12 de agosto de 2012, o dono da Consist, Pablo Kipersmit, reconheceu "desconhecer a empresa CRLS Consultoria e disse que a empresa não é fornecedora da Consist, negando serviço declarado em notas fiscais". O delator da Custo Brasil, Alexandre Romano, que fazia a ponte entre a empresa de software e os recebedores da propina, declarou em março deste ano que os R$ 309 mil eram repasses do esquema.

Além dos valores repassados diretamente pela Consist, a empresa de Cortegoso recebeu em 2011 R$ 255 mil da Politec Tecnologia da Informação S.A., que teria sido sucessora da CRLS na operação dos repasses de propinas desviados dos contratos consignados.

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Cortegoso não tem seu nome oficialmente ligado à Focal, ela está em nome de um funcionário e de uma filha. Em 2014, no entanto, ele admitiu publicamente ser o dono da empresa, após a empresa ser alvo da Justiça Eleitoral. Seus negócios surgem em dois outros episódios suspeitos, no mensalão, nas operações de propina de Marcos Valério e na Lava Jato. O "garçom de Lula" faz parte de uma transação imobiliária, em São Bernardo do Campo, realizada por dois amigos do ex-presidente - o pecuarista José Carlos Bumlai e a família Demarchi.

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"A Receita Federal informou que Carlos Roberto Cortegoso adquiriu diversos imóveis de José Carlos Costa Marques Bumlai e os revendeu posteriormente", registra a Procuradoria, no pedido de prisão da Custo Brasil.

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Os investigados responderão, de acordo com suas ações, pelos crimes de tráfico de influência, corrupção ativa, corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa, com penas de 2 a 12 anos de prisão.

COM A PALAVRA, A DEFESA DE CARLOS CORTEGOSO

O advogado Marcio Antonio Donizete Decresci, que defende o empresário Carlos Cortegoso, informou que vai se pronunciar nos autos do processo. "Restará demonstrado que Carlos Cortegos não foi operador, apenas prestador de serviços. E se houve algum tipo de problema, foi de ordem fiscal e não criminal."

 

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