(Estácio Holly Estácio, de Luiz Melodia)
Marielle e Anderson morreram no Estácio. Duas pessoas que não foram mortes à toa.
Não existem mortes à toa. Foram mortes de ódio.
No caso de Marielle, ódio a uma mulher negra, jovem e oriunda da Favela da Maré, que sobreviveu à miséria e à violência. Sobreviveu à sabotagem estatal à educação e à saúde, e conseguiu ser eleita vereadora no Rio de Janeiro."
Não 'mais uma vereadora', numa casa legislativa onde muitos são sanguessugas da miséria, exploradores do medo, vendedores de uma vida melhor após a morte.
Uma mulher que, no pequeno espaço do que resta de democracia, colocou sua vida a serviço dos seus, enfrentando as incontáveis violências que a população negra e favelada sofre todos os dias.
Marielle e Anderson não foram vítimas do delírio fascista chamado 'falta de segurança pública'.
Foram vítimas do aparelho estatal que não admite mudar, que não admite ser criticado, causador em primeiro e último grau de toda essa violência que ele, ao fingir combater, multiplica e retroalimenta. Vítima também é a ideia de comunidade com sua vida em rede e seus laços de solidariedade.
A intervenção militar, um ato de força e ignorância, não deteve as nove balas que mataram Marielle e Anderson.
Nunca deterá. Não se combate violência com mais violência.
As mortes de Marielle e Anderson foram, repita -se, mortes de ódio, ódio à democracia.
A falsa democracia brasileira permite que uma pessoa como Marielle seja eleita, mas não que exista e muito menos que resista.
Pela real possibilidade de participação de agentes estatais no extermínio de Marielle e Anderson, e suas famílias e amigos: a AJD, Associação Juízes para a Democracia, exige uma investigação independente. Propõe ainda uma discussão democrática e radical de alterações na sangrenta 'política de segurança pública' conduzida pelo Estado antidemocrático e violador dos direitos humanos.
Nossa proposta marca nosso repúdio ao recado dado por aqueles que odeiam a democracia e semeiam a violência em todas as partes.
São Paulo/Rio de Janeiro, 15 de março de 2018.
*Texto divulgado pela Associação Juízes para a Democracia