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Moro diz que delações premiadas estão trazendo 'bastante peixe'

Em evento do 'The Economist', em São Paulo, juiz da Lava Jato afirma que acordos de colaboração, usados em larga escala nas investigações sobre corrupção na Petrobrás, estão previstas em lei

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Foto do author Fausto Macedo
Por Elizabeth Lopes e Fausto Macedo
Atualização:

O juiz federal Sérgio Moro conduz os processos da Lava Jato / Foto: Sylvio Sirangelo/TRF4

Atualizado às 13h41

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O juiz responsável pela Lava Jato, Sérgio Moro, disse que os remédios amargos são necessários para conter a sangria que ocorreu nos cofres da Petrobrás. No seu entender, a opinião pública tem desempenhado um papel importante em todo este processo e disse que ela tem se posicionado mais a favor e tem sido fundamental, "o que é essencial em uma democracia". E sobre os críticos das delações premiadas, que a comparam a uma pesca, Sérgio Moro disse que "tem vindo bastante peixe".

Moro faz exposição no Brasil Sumit, evento organizado pela The Economist em um hotel de São Paulo.

O magistrado afirmou que quando as investigações começaram não se sabia aonde ia dar a Lava Jato. E falou que é difícil prever o que vai acontecer no futuro. Investigações criminais levam a pistas, mas também a becos sem saída. "Gostaria, até por uma questão pessoal que estivéssemos chegando perto de um final", disse, afirmando, dizendo que está "um pouco cansado" e arrancando risos da plateia que assiste sua palestra.

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Sobre possíveis consequências da decisão do STF que fatiou processos da Lava Jato, o magistrado disse que a decisão foi jurídica e não afeta o remanescente do caso que continua em Curitiba.

Corrupção. Moro disse que é difícil prever o futuro político do Brasil com todo o escândalo de corrupção. Mas defendeu que a sociedade cobre da classe política e que este caso sirva de exemplo e clareza para ver que o problema existe e trabalhar para as instituições serem fortalecidas.

"Temos que fortalecer as instituições, fazer que esses casos tenham tratamento mais ordinário. Assim o risco Berlusconi será reduzido." E se posicionou a favor do PL que reduz a morosidade nos casos complexos, criticando o excessivo sistema recursal. "É preciso fazer algo para que este problema não ocorra no futuro e as coisas não piorem."

O juiz da Lava Jato afirmou ainda que todos reclamam da morosidade do Judiciário brasileiro, defendendo um sistema mais ágil. "No criminal, há um problema adicional porque gera um sentimento de impunidade, crimes que levam décadas nas cortes, isso faz com que as pessoas percam a confiança na lei e na democracia, o problema principal é a excessiva morosidade que passa pelo sistema recursal."

E defendeu o PSL 402, apresentado pelas associação dos juízes federais e em tramitação no Senado Federal. Moro já esteve no parlamento defendendo o projeto que prevê o cumprimento da pena no segundo grau, o quer causou resistência na advocacia.

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Ações. Durante a palestra, Sergio Moro cobrou ações do poder público contra a corrupção. Depois de mandar "um recado" aos empresários, dizendo "não paguem propina", o juiz disse que lhe causa angústia ver que a Lava Jato, que deveria servir de propulsor para mudanças mais profundas por parte do poder público, não tenha efetivamente deflagrado ações de combate à corrupção no País.

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Aos empresários presentes ao evento da The Economist, o Brazil Summit o juiz disse que não fiquem só esperando as mudanças do setor público, lembrando que há todo um movimento empresarial na área de compliance. "Há um contexto global a ser considerado quanto à corrupção, existe transparência internacional e a possibilidade de brasileiros serem descobertos (em atos ilícitos lá fora)."

E voltou às críticas com relação à falta de vontade do poder público em assumir "uma iniciativa relevante em matéria de aprimoramento da legislação de combate à corrupção".

Moro cobrou: "Não seria este o momento de se tomar as iniciativas? Mas de maneira efetiva, não apenas no discurso? Se perde um bom momento de mudança, o Congresso (Nacional) deveria ser pressionado pela opinião pública (para essas mudanças)." E emendou: "Não se pode confiar só no poder público, mas este seria um bom momento para ele ser pressionado."

Nas perguntas da plateia, Moro foi questionado se tinha planos de entrar na política. "As propensões políticas não estão no meu horizonte e eu falo francamente sobre isso", respondeu.

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