Foto do(a) blog

Notícias e artigos do mundo do Direito: a rotina da Polícia, Ministério Público e Tribunais

Juiz da Lava Jato convoca sociedade a impedir um 'aventureiro' como Berlusconi

Juiz da Lava Jato cita Operação Mãos Limpas, na Itália, e alerta que Justiça e Poder Público não bastam para resolver problema da corrupção no Brasil; magistrado deu palestra em São Paulo

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

Por Fausto Macedo e Ricardo Brandt

PUBLICIDADE

O juiz federal Sérgio Moro, que conduz os processos em primeiro grau da Lava Jato, alterou que nem a operação nem o Poder Público bastam para acabar com os problemas da corrupção no Brasil, durante palestra na manhã desta sexta-feira, 28, em São Paulo, na sede da Procuradoria da República.

Moro comparou a Lava Jato com a Operação Mãos Limpas, na Itália - maior ofensiva contra a corrupção das autoridades italianas que varreu do mapa partidos e políticos, a partir da década de 90.

O juiz foi indagado pelo repórter Andre Guilherme Delgado, do jornal Valor Econômico, se não haveria riscos de o Brasil ver surgir um "Sílvio Berlusconi" no pós-Lava Jato - o controverso ex-premier da Itália envolto em escândalos, que consolidou seu poder político após a Mãos Limpas, deflagrada em 1992. 

"Não acho que é inevitável que ocorra como aconteceu na Itália que algumas dessas conquistas tenham sido perdidas e que tenha sido propiciado ali um aventureiro assumir o cargo de primeiro-ministro", afirmou Moro.

Publicidade

Ex-primeiro ministro da Itália Sílvio Berlusconi Foto: Estadão

O magistrado foi convidado pela Procuradoria da República, em São Paulo, para a palestra "Aspectos Controvertidos do Crime de Lavagem de Dinheiro". O evento aconteceu na sede do órgão, na manhã desta sexta-feira, 28..

"O futuro não está escrito e se algumas oportunidades forem perdidas na Itália, não necessariamente devem ser perdidas aqui no Brasil, depende mais da sociedade do que propriamente do Poder Público", alertou Moro.

Juiz federal da 13ª Vara Federal, em Curitiba, ele costuma comparar a Lava Jato com a Mãos Limpas em palestras e mesmo em sentenças. Na Itália, a operação durou quarro anos, com 2.993 mandados de prisão e 1.300 réus, dos quais 150 absolvidos.

O juiz chegou a brincar, ao dizer que havia um "saldo" ao se comparar as mais de 800 prisões italianas com os decretos expedidos por ele, no Brasil. Moro é alvo de críticas por parte das defesas e investigados pelo excesso de medidas cautelares nos processos.

"Não vamos esperar que a Justiça criminal ou o Poder Público vão resolver o problema da corrupção no Brasil", afirmou o juiz da Lava Jato. "O que precisa é não nos acomodarmos seja como agente publico, privado e cidadãos."

Publicidade

Na Itália, a Mãos Limpas varreu partidos tradicionais da política, que estavam envolvidos com a corrupção sistematizada desbaratada pela Procuradoria local, como a Democracia Cristã (DC) , o Partido Socialista (PSI) e o Partido Comunista (PCI).

PUBLICIDADE

Dessa transformação vivida na Primeira República Italiana, surgiu Berlusconi, um magnata dono de emissoras de TV e presidente do time de futebol Milan, que virou o primeiro-ministro  que mais tempo ficou no poder da Itália no pós-guerra. Conhecido como O Cavaleiro, ele ficou nove anos no poder, em três mandatos seguidos, entre 1994 e 2011.

Privado. "A iniciativa privada tem  condições de mudanças mais rápidas porque não tem os mecanismos burocráticos que o poder público tem, como liderar um movimento contra a corrupção de maneira muito mais direta e clara."

É o que defendeu o juiz federal Sérgio Moro. "Porque na corrupção, tem quem paga e quem recebe a propina." O magistrado é o titular da 13ª Vara Federal, em Curitiba, sede das investigações da Lava Jato, e um dos maiores especialistas do País em crimes de lavagem de dinheiro.

O juiz comentou ainda os acordos de cooperação que as empresas têm buscado. "Se as empresas querem fazer acordo, têm que indenizar completamente o Poder Público, reconhecer suas faltas não só as que o Poder Público já conhece."

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.