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Lula tinha forma 'bem-humorada' de falar caixa 2, relata João Santana

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tinha uma maneira "bem-humorada" de tratar dos atrasos no pagamento de caixa 2, disse o marqueteiro João Santana ao Ministério Público Federal.

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Por Rafael Moraes Moura , Breno Pires , Beatriz Bulla , Fabio Fabrini e BRASÍLIA
Atualização:

Lula. Foto: Marcio Fernandes/Estadão

"O presidente Lula tinha também uma forma bem-humorada de tratar dos pagamentos por fora que estavam em atraso. Para demonstrar que estava preocupado (...) vez por outra pergunta a João: "E aí, os alemães têm lhe tratado bem?" (os alemães, no caso, era a Odebrecht)", diz anexo da delação premiada de João Santana, tornada pública nesta quinta-feira (11).

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João Santana e a mulher, Mônica Moura, foram responsáveis pelas campanhas do PT à Presidência da República em 2006, 2010 e 2014.

O anexo de delação premiada é o documento em que o delator informa ao Ministério Público Federal (MPF) o que vai contar no processo de delação. A colaboração de João Santana, assim como a de sua mulher, Mônica Moura, e de André Santana, funcionário do casal, foi assinada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Isso significa que, a partir de agora, o que foi dito à Lava Jato pode ser usado como base para a abertura de inquéritos ou reforçar investigações já em curso.

AJUDA. De acordo com João Santana, tanto Lula como a ex-presidente Dilma Rousseff sabiam que os atrasos nos pagamentos feitos ao casal se referiam a recursos não contabilizados.

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Segundo o anexo da delação premiada de Santana, a primeira abordagem direta com Lula sobre caixa 2 se deu em 2009, "no episódio de ajuda à campanha de Mauricio Funes, em El Salvador, quando ele mandou João procurar diretamente Emilio Odebrecht".

Já com Dilma Rousseff, o tema teria sido abordado em "várias oportunidades" durante o seu primeiro mandato.

"Isso ocorreu, por exemplo, quando ela informou João no primeiro semestre de 2014 que havia viabilizado um meio de saldar, antecipadamente, todo o pagamento não oficial da sua campanha de reeleição. Algo em torno de R$ 35 milhões. A operação, segundo Dilma informou a João, seria articulada por Guido Mantega, por fora, sem registro contábil. Todavia isso não se efetivou", diz o anexo da delação.

De acordo com o delator, o tema caixa 2 e depósitos no exterior foram abordados ainda mais diretamente em setembro de 2014, quando Dilma perguntou se os depósitos no exterior feitos pela Odebrecht foram feitos de forma segura.

A mesma pergunta teria sido feita por Dilma Rousseff à empresária Mônica Moura, em novembro de 2014, quando a chamou às pressas para um encontro em Brasília.

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DEFESA. Procurada pela reportagem, a assessoria do ex-presidente Lula informou que não vai comentar "declarações de pessoas que buscam benefícios judiciais" e que "delações, pela legislação brasileira, não são provas".

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A assessoria de Dilma Rousseff informou que a defesa da petista ainda não teve acesso aos autos e que deve se pronunciar até o final do dia.

Procurada, a defesa de Mantega ainda não foi localizada. Em depoimento à Justiça Eleitoral, Guido Mantega disse que não pediu ao empreiteiro Marcelo Odebrecht doações nem para o PT nem para a campanha de Dilma ao governo em 2014. Mantega negou que tenha se envolvido na captação de recursos da campanha e sustentou que a participação foi restrita à formulação de propostas econômicas e à preparação de respostas para debates eleitorais da ex-presidente.

COM A PALAVRA, A DEFESA DE LULA

A defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva informou que não conhece as declarações de João Santana e Mônica Moura. "Como foram prestadas em uma delação, elas nada provam. Delações são negociações que o Ministério Público Federal faz com pessoas que confessam a prática de crimes e desejam sair da prisão ou obter outros benefícios", argumentou, em nota, o advogado do petista, Cristiano Zanin Martins.

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A defesa de Lula alegou que 'veículos de imprensa já denunciaram que a força-tarefa da Lava Jato tem exigido referências a Lula como condição para aceitar delações'. "O assunto foi oficialmente levado ao procurador-geral da República para que seja investigado com isenção, mas, até o momento, desconhecemos qualquer providência nesse sentido", diz a nota.

Zanin acrescentou que 'a perseguição política por meios jurídicos ('lawfare') em relação a Lula fica cada dia mais clara e está sendo vista pelo mundo'.

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