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Lula diz que seguranças colocaram frango no cofre de hotel histórico de Nova York

Durante depoimento coercitivo à PF, ex-presidente contou que em sua primeira ida à ONU 'companheiros' confundiram local com microondas: 'acho que o frango deve estar lá até hoje'

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Por Julia Affonso , Ricardo Brandt e enviado especial a Curitiba
Atualização:

Fachada do hotel Waldorf Astoria. Foto: Brendan McDermid/Reuters

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva contou um episódio inusitado à Polícia Federal, durante depoimento coercitivo à Operação Lava Jato, em 4 de março. O petista foi ouvido em uma sala da PF, no Aeroporto de Congonhas, e questionado sobre a LILS Palestras, Eventos e Publicações, empresa que leva suas iniciais e é responsável pelas palestras do ex-presidente.

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Lula disse que em sua primeira viagem à sede das Organizações das Nações Unidas (ONU), em 2003, 'companheiros' confundiram o cofre com microondas no histórico hotel Waldorf Astoria, em Nova York.

"A primeira viagem que eu fiz para a ONU, 23 de setembro de 2003, os companheiros que levam a bagagem, alguns companheiros de segurança levaram, eu vou até, porque está filmando aqui, eu vou falar que tive utilidade um dia na vida, levaram frango com farinha, chegaram no hotel, aqui no hotel que todo mundo acha que é chic, o Waldorf Astoria, não tem?", disse Lula.

"Sim", afirmou o delegado.

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"Eles imaginaram que o cofre era o microondas e colocaram o frango lá dentro, e não conseguiram abrir o cofre, acho que o frango deve estar lá até hoje ou o cara do hotel encontrou o frango. O pessoal comia, o pessoal da presidência comia coisa que levava, às vezes cozinhava no quarto, porque a diária não dava para pagar nada", contou.

O episódio foi relatado por Lula durante seu depoimento. Um dos delegados o havia questionado sobre as condições para a LILS Palestras, Eventos e Publicações formalizar os contratos.

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"Eu não sei como é que é feito, eu não sei como é que é feito, eu não, não, eu só vou dizer uma coisa para você, quem quiser me contratar para uma palestra, quem quiser me contratar hoje, amanhã ou depois de amanhã, vai ter que pagar a palestra, vai ter que colocar transporte à minha disposição e vai ter que pagar intérprete, é o mínimo, se quiser quer, se não quiser... Sabe? É o seguinte, se quiser pagar, paga, se não quiser, não paga, eu não sou obrigado a ir, eu tenho o direito de não ir, "Ah, eu não quero ir", então não vou, pronto, tchau e bênção. A pessoa não tem obrigação de me contratar e eu não tenho obrigação de aceitar, é assim que eu faço contrato", explicou Lula.

"E é só para o senhor ou é para equipe junto?", questionou o delegado.

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"Não, o contrato é para mim, a equipe vai comigo, faz parte da minha equipe", disse o ex-presidente.

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O delegado quis saber quem.

"A minha segurança viaja por conta, que a minha segurança é oficial, mas, por exemplo, eles pagam a diária de assessor de imprensa, pagam a diária de intérprete, eu não aceito intérprete deles, ou seja, eu não aceito porque intérprete é você falando pela boca do outro, então eu quero alguém que me entenda, que entenda a linguagem popular desse país, que conheça um pouco da história sindical, que conheça um pouco da história do meu governo, que conheça um pouco da história do PT, eu quero alguém que me conheça para poder me interpretar, então é por isso que eu não aceito, "Ah, vai ter um intérprete na Alemanha", então fica com eles, eu quero o meu", afirmou o petista.

"E o avião é de carreira, comercial?", perguntou o delegado.

"Não, a maioria não, a maioria é avião alugado, se quiser me contratar tem que pagar avião, senão não contrata", respondeu Lula.

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O depoimento prosseguiu.

Delegado da Polícia Federal: Mesmo sendo lá do outro lado do mundo?

Lula: É, senão não faço a viagem.

Delegado da Polícia Federal: A sua segurança é a atual, que vai junto nas palestras, mesmo sendo noutro país?

Lula: Hein?

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Delegado da Polícia Federal: A segurança?

Lula: A segurança vai, a segurança é permanente.

Delegado da Polícia Federal: Mas ela não recebe da LILS. Ela é sempre remunerada pelo...

Lula: Não, as coisas dela são as coisas oficiais.

Delegado da Polícia Federal: Certo.

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Lula: O salário deles é o salário que eles ganhavam das forças, não sei se é das forças armadas, ou seja, a...

Delegado da Polícia Federal: A diária também.

Lula: Não, a viagem deles é paga, eles vão de avião de carreira antes, e a viagem deles é paga pelo esquema da presidência, no meu tempo era bem pouquinho, devia ser uns cem reais, ou seja, querido, eu vou lhe contar uma coisa, eu quando vejo denúncia de corrupção, eu vejo e acho que tem muita, eu devo lhe contar uma história, deputado Paulo, a primeira viagem que eu fiz para a ONU, 23 de setembro de 2003, os companheiros que levam a bagagem, alguns companheiros de segurança levaram, eu vou até, porque está filmando aqui, eu vou falar que tive utilidade um dia na vida, levaram frango com farinha, chegaram no hotel, aqui no hotel que todo mundo acha que é chic, o Waldorf Astoria, não tem?

Delegado da Polícia Federal: Sim.

Lula: Eles imaginaram que o cofre era o microondas e colocaram o frango lá dentro, e não conseguiram abrir o cofre, acho que o frango deve estar lá até hoje ou o cara do hotel encontrou o frango. O pessoal comia, o pessoal da presidência comia coisa que levava, às vezes cozinhava no quarto, porque a diária não dava para pagar nada.

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Delegado da Polícia Federal: Ainda hoje é assim no poder executivo.

Lula: Não, nós depois, depois das duas CPI's, nós criamos um mecanismo que valorizou um pouco a diária, mas era uma vergonha, o ministro de estado aqui no Brasil, o Roberto, se viesse um ministro da Espanha aqui ele não podia convidar para jantar porque ele não podia pagar, não tinha verba para pagar, e é uma vergonha porque você viaja para qualquer lugar do mundo, você vai jantar, as pessoas nem, você não tem nem que olhar se vem nota ou não porque alguém já foi pagar, aqui no Brasil você é obrigado a pagar do teu bolso ou você é obrigado a falar para o cara "Olha, dá para você contribuir, repartir aqui?", agora melhorou um pouquinho, mas era uma miséria, era uma miséria. Então, eu...

Delegado da Polícia Federal: Mas continua não sendo possível pagar um hotel decente, eu acho que a diária do poder executivo ainda continua...

Lula: Não, eu acho que continua pequena ainda, pequena, mas melhorou um pouco, era bem pior, você não tem noção do que era isso.

Delegado da Polícia Federal: Eu tenho, eu viajei muito ganhando 59 reais e 60 centavos de diária, eu viajei para fazer combate ao crime organizado, contra tráfico de drogas na fronteira, crime organizado, tive que ficar 6 meses ganhando 59 reais e 60 centavos, isso...

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Lula: Mas a partir do meu governo melhorou.

Delegado da Polícia Federal: Isso em 2006.

Lula: A partir daí melhorou. Eu acho, não, era uma vergonha isso, o poder executivo brasileiro.

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