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Lula diz que 'por benefícios' delatores acusam Vaccari

Em depoimento à Polícia Federal, ex-presidente defendeu ex-tesoureiro do PT preso há oito meses por suspeita de arrecadar propinas para o partido; ele admitiu 'reunião reservada' com o empreiteiro Ricardo Pessoa no Instituto Lula, em 2011

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Por Beatriz Bulla e Gustavo Aguiar
Atualização:

O ex-tesoureiro do PT João Vaccari. Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados

O ex-presidente Lula fez à Polícia Federal uma defesa enfática do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto - preso desde abril e condenado na Operação Lava Jato por corrupção e lavagem de dinheiro. Lula disse à PF, em depoimento na quarta-feira, 16, que atribui as acusações de delatores a Vaccari aos benefícios recebidos. Ele disse, ainda, que 'teve uma conversa reservada', em 2011, com o empreiteiro Ricardo Pessoa, que chefiava o clube vip do cartel de empreiteiras que se apossaram de contratos bilionários na Petrobrás. Segundo Lula, na ocasião, Pessoa o convidou para fazer 'uma palestra'.

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Mesmo acuado, Vaccari permanece em silêncio. Por meio de sua defesa ele nega recebimento de propinas e a arrecadação de valores ilícitos para sua agremiação. Também não parece disposto a fazer delação premiada. Lula afirmou que 'não acredita' que o PT tenha recebido valores equivalentes a 2% de contratos fraudulentos na Petrobrás, como afirmou o ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa.

Lula. Foto: Reuters

Lula relatou que conheceu Vaccari quando este presidia o Sindicato dos Bancários do Estado de São Paulo e que sua relação com o ex-tesoureiro no partido 'foi pequena, posto que em 1996 o declarante deixou a presidência do PT'.

 

"Soube pela direção do partido que Vaccari fez um excelente trabalho à frente da Tesouraria do PT", declarou Lula no inquérito que investiga organização criminosa envolvendo parlamentares de vários partidos supostamente beneficiados com propinas do esquema na Petrobrás que a Lava Jato derrubou. "Todos os membros da direção do partido, inclusive seu presidente, Rui Falcão, declararam a qualidade do trabalho desempenhado por Vaccari no comando da Tesouraria do PT."

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Lula disse que tinha uma relação de amizade com Vaccari, mas não se encontrava com ele 'com grande frequência, às vezes passando meses sem vê-Io'. Ao longo de seus oito anos na Presidência, Lula diz que 'não teve qualquer encontro reservado com Vaccari'.

 

"Não crê na afirmação de Paulo Roberto Costa de que 2% do valor dos contratos celebrados na Diretoria de Abastecimento da Petrobrás eram carreados para o Partido dos Trabalhadores por meio de Vaccari', afirmou o ex-presidente à PF.

Paulo Roberto Costa falou sobre os 2% em sua delação premiada, que lhe garantiu, inicialmengte, prisão domiciliar, agora a liberdade. Lula disse que 'atribui tal afirmação (de Paulo Roberto) aos benefícios que a colaboração premiada dá ao delator'.

Sobre outro delator, o ex-gerente de Engenharia da Petrobrás Pedro Barusco, Lula disse que 'não o conhece'. Também atribui 'aos benefícios concedidos pela colaboração premiada' as afirmações de Barusco de que porcentual do valor dos contratos celebrados pela Diretoria de Serviços eram destinados ao Partido dos Trabalhadores por meio de Vaccari.

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A PF questionou Lula sobre o empreiteiro Ricardo Pessoa, dono da UTC Engenharia, que também virou delator e, em troca, foi para casa. Pessoa disse que repassou valores para a campanha de Lula. "Que deve ter conhecido Ricardo Pessoa em alguma inauguração ou em um dos muitos eventos com empresários dos quais participou; que somente em 2011 esteve de maneira reservada com Ricardo Pessoa, quando o mesmo foi ao Instituto Lula convidar o declarante para proferir uma palestra em uma empresa do próprio Ricardo Pessoa; que não possuía relação de amizade com Ricardo Pessoa."

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"Que a contratação para a palestra foi feita pela UTC, porém, o declarante não se recorda se a palestra foi realizada na sede da UTC; que foi contratado para dar palestra para a UTC apenas uma vez; que não crê na afirmação de Ricardo Pessoa de que realizou o pagamento de vantagens indevidas para o PT por meio de Vaccari; que atribui esta afirmação de Ricardo Pessoa ao seu intuito de obter beneficios por meio da colaboração premiada; que, indagado a que atribui a condenação em primeira instância de Vaccari, o declarante afirma que a mesma se deve às delações premiadas; que a condenação de Vaccari não é definitiva e que acredita que o mesmo será absolvido."

Lula disse que 'não acredita que Vaccari tenha obtido vantagens indevidas a partir dos contratos celebrados pela Petrobrás, uma vez que era conhecedor da legislação'.

Lula disse acreditar que 'as acusações feitas contra João Vaccari Neto, são na verdade resultados dos benefícios referentes às delações dos diversos colaboradores da Operação Lava Jato'.

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