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Lobista do PMDB diz que mandou 'um milhão e pouco de dólares' para Eduardo Cunha

João Henriques, réu da Lava Jato, afirmou ao juiz Sérgio Moro que fez a transferência para o filho de um ex-deputado do partido, mas que soube depois que a conta era do presidente da Câmara

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Foto do author Fausto Macedo
Por Ricardo Brandt , Mateus Coutinho , Fausto Macedo e enviado especial a Curitiba
Atualização:

O lobista João Augusto Henriques 

O empresário João Augusto Rezende Henriques, apontado como lobista do PMDB na área Internacional da Petrobrás, declarou ao juiz federal Sérgio Moro nesta sexta-feira, 30, que transferiu 'um milhão e pouco de dólares' para uma conta no exterior do deputado Eduardo Cunha (PMDB/RJ), presidente da Câmara.

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Henriques foi interrogado como réu na ação penal em que também é acusado o ex-diretor de área Internacional da Petrobrás Jorge Zelada. Ao todo, o PMDB teria recebido, segundo a denúncia US$ 10 milhões em propinas, referente ao contrato de construção do navio-sonda Titanium Explores da Petrobrás com a empresa americana Vantage Drilling, em 2009.

O lobista afirmou que fez a remessa do valor para uma conta que pensava pertencer a um filho do ex-deputado Fernando Diniz (PMDB/MG) - o parlamentar, que já morreu, era amigo de Henriques e o ajudou em um grande negócio de interesse da Petrobrás em Benin, na África.

A PRIMEIRA PARTE DO DEPOIMENTO DE JOÃO HENRIQUES:

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"O que é essa história dessa transferência para o sr. Eduardo Cunha?", perguntou o juiz Moro.

"Foi o que eu falei, eu queria pagar o filho do Fernando Diniz, que já tinha morrido, e a conta que ele tinha me dado eu soube depois que era do Eduardo Cunha", respondeu João Henriques.

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"E quanto que foi essa transferência?", continuou o juiz da Lava Jato.

"Foi um milhão e pouco."

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"De dólares?"

"É"

"Quando foi, aproximadamente?"

"Em 2012, 2013, por aí. Não tenho mais ou menos a data."

O juiz Moro quis saber do lobista do PMDB se ele fez transferências de dinheiro para outros agentes políticos. "Não, fiz para pessoas que trabalharam comigo."

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"Algum empregado da Petrobrás?", perguntou Sérgio Moro.

"Não, nenhum empregado da Petrobrás."

A Procuradoria da República afirma na denúncia contra Zelada e Henriques que o lobista repassou para o PMDB parte da propina relativa à contratação do navio sonda Titanium Explorer. "Nunca fiz para o partido, não tinha razão de fazer pro partido."

Ele também afirmou que não repassou valores para Zelada e nem para Eduardo Musa, ex-gerente da estatal petrolífera.

O deputado Eduardo Cunha negou recebimento de propinas no esquema Petrobrás. O PMDB reafirma que nunca autorizou ninguém a arrecadar recursos ilícitos para a legenda.

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VEJA A SEGUNDA PARTE DO DEPOIMENTO DE JOÃO HENRIQUES:

Propina. Nesta denúncia, a força-tarefa apurou que Hsin Chi Su, executivo da empresa chinesa TMT, e Hamylton Padilha, lobista que atuava na Petrobrás, repassaram aproximadamente US$ 31 milhões a título de propina para Zelada (diretor Internacional da Petrobrás entre 2008 e 2012), para Eduardo Musa e para o PMDB, responsável pela indicação e manutenção destes em seus respectivos cargos.

De acordo com a denúncia, em troca desses valores Zelada e Eduardo Musa beneficiaram a sociedade americana Vantage Drilling no contrato de afretamento do navio-sonda Titanium Explorer, celebrado com a Petrobrás no valor de US$ 1.816.000,00. A Comissão Interna de Apuração instituída pela estatal a partir das investigações da Operação Lava Jato apontou diversas irregularidades neste contrato, como por exemplo a não submissão de pedido à diretoria executiva da estatal para o início das negociações e da contratação; a finalização dos trabalhos da Comissão de Negociação antes da conclusão do processo de negociação e contratação; a inexistência de provas do recebimento das propostas de todos os fornecedores; a inexistência de elaboração de relatório final da contratação; propostas comerciais enviadas por e-mail; e submissão de relatório incompleto à Diretoria Executiva.

Além disso, auditoria interna da Petrobrás constatou indícios de manipulações, a pedido de Zelada, dos estudos que indicavam a necessidade da contratação deste navio-sonda; falta de governança corporativa adequada ante o não registro de reuniões de negociações; falta de uniformidade de parâmetros de comparação entre as propostas; alta de prova de análise da economicidade da redução de taxa em troca de aumento de prazo contratual quando da realização do aditivo contratual; e concessão de extensão de prazo para apresentação do navio-sonda sem aplicação de penalidade.

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