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Lava Jato avança sobre multinacionais em esquema de corrupção do PMDB na Petrobrás

Processo por propina de US$ 31 milhões na Diretoria Internacional levou pela primeira vez um executivo estrangeiro para banco dos réus; principal partido da base aliada do governo teria ficado com US$ 10,8 milhões

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Por Redação
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 Foto: Estadão

Por Ricardo Brandt, enviado especial a Curitiba, Fausto Macedo e Julia Affonso

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A denúncia aceita pelo juiz federal Sérgio Moro, na semana passada, contra o esquema de propina na Diretoria Internacional da Petrobrás, envolvendo o PMDB, para contratação de um navio-sonda de exploração de petróleo em alto mar, levou pela primeira vez para o banco dos réus nos autos da Operação Lava Jato um executivo de uma multinacional - o chinês Hsin Chi Su, conhecido como "Nobu Su", presidente da Taiwan Maritime Transportation Co (TMT).

Foi a TMT que prometeu o pagamento de US$ 31 milhões em propina para o esquema envolvendo o ex-diretor de Internacional da Petrobrás Jorge Luiz Zelada - cota do PMDB no esquema de corrupção na estatal - pela contratação para fornecimento do navio-sonda Titanium Exporer, em 2008. Valor do contrato: US$ 1,8 bilhão.

Nobu Su é filho de uma das maiores acionistas da Vantage Drilling, que era a empresa que fechou o aluguel do equipamento com a Petrobrás, via Diretoria de Internacional, informa a Lava Jato.

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"O executivo chinês Nobu Su, presidente da empresa chinesa TMT, proprietária do navio afretado pela Vantage a Petrobrás, ficou responsável pelo pagamento da propina", informa o processo aberto na 13ª Vara Federal, em Curitiba, sede das apurações da Lava Jato.

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A força-tarefa da Lava Jato apurou que Nobu Su e Hamylton Padilha, lobista que atuava na Petrobrás, iriam repassar aproximadamente US$ 31 milhões, sobre o contrato do Titanium Explorer, a título de propina para o ex-diretor de Internacional da Petrobrás Jorge Zelada, para o ex-gerente da estatal Eduardo Musa e para o PMDB - partido responsável pela indicação e manutenção dos executivos em seus respectivos cargos.

Deste total, por causa de brigas societárias, US$ 20,8 milhões teriam sido pagos. Segundo a Procuradoria, desse montante, US$ 10 milhões foram repassados pelo lobista João Augusto Henriques ao PMDB.

Encontros em hotel. Na denúncia aceita pela Justiça, o MPF explica que em 2008, o lobista Hamylton Padilha passou a atuar como representante da empresa Vantage Drilling nas negociações com a área Internacional da Petrobrás, para afretamento do navio-sonda.

O delator diz que foi procurado por Raul Schimidt Felippe Junior, "que explicou que para o fechamento do negócio" seria necessário "o pagamento de vantagem indevida a empregados públicos da área Internacional". Padilha, que aceitou devolver R$ 70 milhões, confessou terem sido feitos dois contratos de comissionamento de US$ 15,5 milhões cada, para respaldar o repasse de maneira aparentemente legal.

"Na conversa, Raul Schmidt Felippe Junior informou a Hamylton Padilha que nesta negociação o interlocutor direto sobre o tema de propina seria João Augusto Rezende Henriques, ex-funcionário da Petrobrás e conhecido como um lobista ligado ao PMDB, partido que dava sustentação política para Zelada permanecer no cargo", sustenta a força-tarefa do MPF.

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Com base no que revelou o delator Hamylton Padilha, a Lava Jato descobriu que ele, após ser procurado por Raul Schmidt Felippe Junior, buscou o executivo Paul Bragg, presidente da Vantage Drilling, ocasião em que teria informado que diretores da Petrobrás "estavam criando dificuldades para o fechamento da negociação".

"Conforme as declarações de Hamylton Padilha, Paul Bragg se recusou a saber de detalhes das "dificuldades" que estavam sendo criadas, mas agendou a reunião", registra a denúncia.

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O encontro entre o lobista Hamylton Padilha e o presidente do Grupo TMT Nobu Su aconteceu em Nova York. Primeiramente, foram reuniões no Hotel Four Seasons, entre os dias 21 de novembro e 1º de dezembro de 2008.

"Ficou acordado que o pagamento da propina seria realizado diretamente pela empresa TMT ou por uma de suas subsidiárias."

Além de Padilha e Nobu Su, participaria das negociações o lobista João Augusto Rezende Henriques, investigado como novo operador de propinas do PMDB.

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A força-tarefa registra um outro encontro entre os três no dia 20 de dezembro de 2008, desta vez no Rio de Janeiro. "Nobu Su viajou ao Rio de Janeiro para ser apresentado por Hamylton Padilha a João Augusto Rezende Henriques para acertar a forma do pagamento da propina", informa o processo.

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"Em 21 de dezembro de 2008, no município do Rio de Janeiro, os denunciados Hamylton Padilha, Nobu Su, Raul Schmidt Felippe Junior e Eduado Musa, de modo consciente e voluntário, por intermédio da simulação de um contrato de agenciamento (Comission Agreement) entre duas empresas offshores no exterior ocultaram e dissimularam a natureza, origem, localização, disposição, movimentação e propriedade ilícita de USD 10.841.826,99 provenientes de crimes contra o sistema financeiro nacional e crimes de corrupção em face da Petrobrás."

No Rio, as reuniões ocorreram no Hotel Copacabana Palace, onde o presidente da TMT ficou hospedado. O registro de sua estadia no local foi confirmado pelos investigadores, por documento enviado pelo hotel.

O registro do fluxo migratório corroborou a viagem de Nobu Su ao Rio no dia 21 de dezembro e seu retorno na mesma data. Neste dia foi registrada a assinatura do contrato de Comission Agreement, que serviu para ocultar a propina.

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"Na sequência, Nobu Su e João Augusto Rezende Henriques acertaram os detalhes do recebimento da parte da vantagem indevida que caberia ao lobista ligado ao PMDB distribuir."

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O acerto foi de que os US$ 31 milhões seriam pagos mediante simulação da celebração de dois contratos de Brokerage and Comission Agreement.

Um foi assinado com uma offshore de Padilha, outro com offshore a ser identificada de João Augusto Henriques, o novo operador do PMDB. Com as disputas societárias na Vantage, que tinha como acionista majoritária a mãe de Nobu Su, uma terceira parte da propina acertada não chegou a ser paga - reduzindo o valor total da propina para US$ 20,8 milhões.

Para Padilha, a TMT pagou propina via Valencia Drilling Corporation para uma offshore controlada por ele, a Oresta Associated.

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"Na sequência, como contrapartida pela contratação da Vantage Drilling, durante o ano de 2009, os denunciados Jorge Zelada e Eduardo Musa receberam a vantagem indevida prometida por intermédio de depósitos em contas offshores localizadas na Suíça, utilizando e sendo beneficiários de complexas operações de lavagem de capitais transnacionais arquitetadas pelos denunciados Raul Schmidt Felippe Junior, Hamylton Padilha e Nobu Su", sustentam os nove procuradores da Lava Jato.

A reportagem não conseguiu contato com a TMT.

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COM A PALAVRA, O PMDB

A assessoria de imprensa do partido negou todas as acusações e disse que a sigla nunca autorizou quem quer que seja a ser intermediário do partido para arrecadar recursos.

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