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Jefferson diz que Lula 'reclamava' da ligação de ex-diretor de Furnas com tucano

Ex-deputado, peça-chave do Mensalão, agora réu no processo sobre esquema de desvios na estatal de energia, afirma que 'nunca participou desse conluio'

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Por Mateus Coutinho
Atualização:

O ex-deputado Roberto Jefferson. FOTO: ANDRE DUSEK/ESTADÃO Foto: Estadão

O ex-deputado e presidente nacional do PTB Roberto Jefferson afirmou em nota divulgada nesta terça-feira, 7, que o ex-presidente Lula "reclamava da proximidade" do ex-diretor de Furnas Dimas Toledo com o hoje presidente do PSDB, senador Aécio Neves e que nunca participou "desse conluio em Furnas".

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"Reafirmo novamente que, embora o PTB tenha indicado Francisco Spirandel para a diretoria de Engenharia de Furnas, a nomeação nunca se concretizou. Dessa forma, nem eu nem o PTB temos envolvimento com os supostos desvios de recursos ocorridos durante a gestão de Dimas Toledo na referida estatal", afirma o presidente do PTB.

A manifestação do ex-deputado - peça chave do mensalão - ocorre após vir à tona que a Justiça do Rio aceitou a denúncia do Ministério Público estadual contra Jefferson e outros seis acusados de envolvimento em um suposto esquema de corrupção na estatal de energia. O ex-deputado, condenado a 7 anos de prisão por corrupção e lavagem no mensalão, responde agora pelo crime contra a administração pública. O ex-parlamentar recebeu indulto de sua pensa no mensalão em março deste ano e atualmente está livre.

Na versão de Jefferson, que revelou a existência de um esquema de corrupção na empresa em 2005 durante da CPI Mista dos Correios, o PTB teria escolhido o nome de Francisco Spirandel para assumir a diretoria de Engenharia de Furnas "a pedido do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva", em 2005 afirma o ex-parlamentar. O nome, contudo, acabou não sendo indicado para o cargo.

"Como já afirmei outras vezes à imprensa e relatei em meu livro 'Nervos de Aço', Lula reclamava da proximidade de Dimas Toledo com Aécio Neves, à época governador de Minas Gerais, motivo esse que o levou a querer tirá-lo da estatal. Ao contrário do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, que defendia a permanência dele. Dimas foi nomeado no governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB)", reiterou Jefferson.

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A versão vai de encontro ao depoimento do ex-senador de delator Delcídio Amaral que disse em seu depoimento perante à Procuradoria-Geral da República ter ouvido do próprio ex-presidente Lula, em uma viagem em 2005, que Aécio o teria procurado pedindo que Toledo continuasse na estatal. "Agora o PT, que era contra, está a favor. Pelo jeito ele está roubando muito!", teria dito o ex-presidente, na versão de Delcídio.

Dimas ficou no cargo de diretor da estatal entre 1995 e 2005, e chegou a ser acusado na denúncia do Ministério Público aceita em fevereiro de ser o responsável por organizar o esquema de corrupção na empresa que teria abastecido lobistas e até políticos. Como tem mais de 70 anos, contudo, as acusações contra ele já prescreveram e Dimas se livrou da ação penal.

Jefferson diz ainda na nota que fez as denúncias sobre corrupção em Furnas "conforme o relato descrito pelo próprio Dimas Toledo a mim".

Proposta inicialmente em 2012 pela Procuradoria da República no Rio, a denúncia contra Furnas foi remetida para a Justiça Estadual e voltou para a fase de inquérito até que, em setembro de 2016, o Ministério Público estadual pediu o arquivamento da investigação. Em uma reviravolta, a juíza da 35ª Vara Criminal do Rio remeteu o caso para o procurador-geral de Justiça do Estado, chefe do MP estadual que retificou a denúncia e, em 22 de fevereiro deste ano, a acusação foi aceita pela Justiça do Rio.

A denúncia do Ministério Público aponta desvios de R$ 54,9 milhões em dois contratos de termelétricas (em Campos dos Goytacazes e em São Gonçalo, no Rio) entre 2000 e 2004. Para o ex-parlamentar, a denúncia que a Justiça aceitou é "vazia".

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"E, para concluir, afirmo com extrema convicção: 1) nunca fui chamado para depor nesse processo, que investiga fatos de mais de 15 anos; 2) nunca tive nenhum envolvimento com Furnas ou qualquer relacionamento com pessoas e empresas que gravitam em torno da estatal; 3) e o processo foi arquivado e desarquivado por decisão judicial", assinala.

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Procurada, a assessoria de Aécio Neves informou que ele não iria comentar o caso. A assessoria de Lula não encaminhou um posicionamento sobre as afirmações de Jefferson até o fechamento deste texto.

A ÍNTEGRA DA NOTA DE ROBERTO JEFFERSON: "Em 2005, a pedido do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Partido Trabalhista Brasileiro indicou um nome para ocupar o cargo de diretor de Engenharia de Furnas Centrais Elétricas. O nome escolhido pelo PTB foi o do funcionário de carreira do setor elétrico Francisco Spirandel, que ocuparia o lugar de Dimas Toledo.

Como já afirmei outras vezes à imprensa e relatei em meu livro "Nervos de Aço", Lula reclamava da proximidade de Dimas Toledo com Aécio Neves, à época governador de Minas Gerais, motivo esse que o levou a querer tirá-lo da estatal. Ao contrário do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, que defendia a permanência dele. Dimas foi nomeado no governo Fernando Henrique Cardoso.

Portanto, reafirmo novamente que, embora o PTB tenha indicado Francisco Spirandel para a diretoria de Engenharia de Furnas, a nomeação nunca se concretizou. Dessa forma, nem eu nem o PTB temos envolvimento com os supostos desvios de recursos ocorridos durante a gestão de Dimas Toledo na referida estatal.

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E ressalto uma informação ímpar para os que não se lembram: fui eu que denunciei o suposto esquema de corrupção em Furnas. Faz 12 anos desde que fiz as primeiras denúncias, em 2005. Denúncias essas que fiz conforme o relato descrito pelo próprio Dimas Toledo a mim. Dessa forma, ressalto novamente: nunca participei desse conluio em Furnas.

Dito isso, afirmo, portanto, que a matéria de O Estado de S. Paulo 'Após 12 anos, Justiça abre ação penal do caso Furnas', publicada na edição desta terça-feira (7/3), é denúncia vazia. Recebi com surpresa e estranheza a decisão de reabertura do referido processo, tendo em vista que já havia arquivamento do mesmo desde setembro de 2016.

E, para concluir, afirmo com extrema convicção: 1) nunca fui chamado para depor nesse processo, que investiga fatos de mais de 15 anos; 2) nunca tive nenhum envolvimento com Furnas ou qualquer relacionamento com pessoas e empresas que gravitam em torno da estatal; 3) e o processo foi arquivado e desarquivado por decisão judicial.

Serenamente passarei por mais essa provação. Provarei o equívoco desse processo de Furnas e consagrarei minha inocência.

Agradeço o carinho, a confiança e o respeito das pessoas que acreditam em mim."

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Roberto Jefferson Monteiro Francisco Presidente nacional do PTB

COM A PALAVRA, O CRIMINALISTA ROGÉRIO MARCOLINI, QUE DEFENDE DIMAS TOLEDO:

"Em 2005, quando Dimas Toledo integrava a Diretoria de Furnas, todas decisões eram tomadas pelo conjunto dos diretores, amparadas em pareceres das áreas técnicas e jurídica. Nenhuma irregularidade foi praticada naquela gestão, não existindo qualquer pretenso esquema, conluio ou desvio de recursos, ao contrário do sugerido pela fértil imaginação do ficcionista e ex-deputado cassado Roberto Jefferson, provavelmente motivado pela insatisfação por não ter emplacado à época seu protegido.

COM A PALAVRA, O CRIMINALISTA ROBERTO PODVAL, QUE DEFENDE DIRCEU:

O advogado informou que Roberto Jefferson tem "credibilidade nula" para fazer acusações.

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