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'Indústria da seca continua brincando com dinheiro público', diz PF

Delegada responsável pela 'Vidas Secas', que apura desvios de R$ 200 milhões nas obras da transposição do Rio São Francisco, se diz revoltada com quadro revelado pela investigação

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Foto do author Fausto Macedo
Por Andreza Matais , Mateus Coutinho e Fausto Macedo
Atualização:

Obras da transposição do São Francisco. Foto: Estadão

Para a chefe da operação Vidas Secas, a delegada da Polícia Federal Mariana Cavalcanti, as suspeitas de desvios de R$ 200 milhões em dois lotes das obras de transposição do Rio São Francisco, megaempreendimento do governo federal para levar água para a população do sertão, mostram que a indústria da seca ainda existe no nordeste. deflagrada nesta sexta

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"A operação mostra que continuamos a ter problemas com a indústria da seca. Essa obra que era grande esperança para acabar com o sofrimento do sertão, era a esperança de muitas pessoas e continua sendo alvo de 'brincadeira' com o dinheiro público'", afirmou a delegada durante entrevista realizada na sede da Policia Federal em Recife (PE). Para ela a situação é "revoltante" e mostra que a indústria da seca, termo designado para se referir à prática adotada por alguns políticos de explorar a pobreza e a falta d'água da população de algumas regiões por meio de obras para fornecer abastecimento como açudes em troca de votos.

A investigação deflagrada nesta manhã apura as suspeitas de desvio em um contrato de R$ 680 milhões do Ministério da Integração Nacional com o consórcio formado por OAS, Galvão Engenharia, Barbosa Mello e Coesa. As investigações mostraram que essas empresas receberam verba do ministério para as obras e repassaram cerca de R$ 200 milhões para as empresas de fachada dos doleiros Alberto Youssef e Adir Assad, já condenados na Lava Jato por lavarem dinheiro e operarem o pagamento de propinas no esquema de corrupção na Petrobrás.

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Ao todo cerca de 150 policiais federais cumpriram nesta manhã 32 mandados, sendo 24 de busca e apreensão, 4 de condução coercitiva e quatro de prisão temporária nos Estados de Pernambuco, Goiás, Mato Grosso, Ceará, São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Bahia e em Brasília. Foram presos quatro diretores das empreiteiras do consórcio, sendo um representando a OAS e a Coesa, um da Barbosa Mello e dois da Galvão Engenharia. Os nomes dos executivos não foram divulgados.

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Obra. A obra de transposição do rio São Francisco é tocada pelo governo federal e foi reiniciada na gestão do ex-presidente Lula. Segundo o Ministério da Integração Nacional, responsável pela execução, a obra engloba a construção de quatro túneis, 14 aquedutos, nove estações de bombeamento e 27 reservatórios. Desde que foi retomada, ela se arrasta há oito anos.

Além da recuperação de 23 açudes existentes na região que receberão as águas do rio São Francisco. O projeto esta orçado em R$ 8,2 bilhões, com base na planilha orçamentária vigente.

O governo diz que a obra beneficiará uma população estimada de 12 milhões de habitantes, em 390 municípios nos Estados de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte, onde a estiagem ocorre frequentemente. A Região Nordeste possui 28% da população brasileira e apenas 3% da disponibilidade de água. O Rio São Francisco apresenta 70% de toda a oferta regional.

Em outubro deste ano, conforme o ministério, 81% da execução física da obra estava concluída, sendo o Eixo Norte com 82,2% e o Eixo Leste com 79,2%.

O Tribunal de Contas da União (TCU) apontou entre 2005 e 2013 irregularidades que somam R$ 734 milhões nas obras da transposição. O que inclui, contratos que não foram honrados ou que tem sobrepreço, pagamento duplicado por obras ou pagamento de serviços que não foram executados.

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COM A PALAVRA, O MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL: O ministério informou que não comenta investigações em curso

COM A PALAVRA, A ASSESSORIA DA GALVÃO ENGENHARIA:

"O Grupo Galvão informa que ainda não tomou conhecimento dos detalhes da investigação denominada Operação Vidas Secas, que cumpriu mandados de busca e apreensão e prisão na presente data.

A Galvão Engenharia, desde já, informa que tem o compromisso de colaborar com o poder público para que tudo seja esclarecido da melhor forma possível.

Assessoria de imprensa do Grupo Galvão".

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COM A PALAVRA, O CRIMINALISTA ANTONIO AUGUSTO FIGUEIREDO BASTO, QUE DEFENDE YOUSSEF

O criminalista afirmou que ainda não teve acesso às investigações do caso e que a defesa de Alberto Youssef só vai comentar depois de estudar o processo.

COM A PALAVRA, O CRIMINALISTA MIGUEL PEREIRA NETO, DEFENSOR DE ADIR ASSAD O advogado Miguel Pereira Neto, que defende Adir Assad, disse que ainda não tomou conhecimento dos detalhes da investigação que deu base à 'Vidas Secas', missão da Polícia Federal. "Depois que tivermos acesso aos autos é que poderemos nos manifestar", anotou Miguel Pereira Neto.

COM A PALAVRA, A DEFESA DA BARBOSA MELLO:

O advogado Leonardo Bandeira, responsável pela defesa da Barbosa Mello afirmou que nenhum diretor ou executivo da empresa foi preso ou conduzido para depor e que não a empresa nem seus executivos foi alvo de buscas nesta manhã. Segundoo defensor a empresa está tomando conhecimento do caso.

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Os demais citados na investigação ainda não se manifestaram sobre a operação.

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