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Imaginava que era superfaturamento de obra, diz Monica sobre origem do caixa 2

Delatora da Lava Jato contou ao juiz Sérgio Moro que 'tinha consciência do risco que estava correndo, não só do risco físico de estar lidando com tanto dinheiro, pagando gente, recebendo dinheiro e andando'

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Foto do author Luiz Vassallo
Por Julia Affonso , Ricardo Brandt e Luiz Vassallo
Atualização:

Mônica Moura, mulher do marqueteiro João Santana, que está presa em Curitiba, alvo da Lava Jato 

Durante depoimento nesta terça-feira, 18, ao juiz federal Sérgio Moro, a mulher do marqueteiro João Santana declarou que 'imaginava' a origem 'do dinheiro por fora' que financiava campanha eleitorais. Monica Moura, delatora da Operação Lava Jato, confessou que 'sempre' trabalhou com caixa 2.

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Segundo Monica, 'era uma exigência dos partidos que tivesse sempre a maior parte em caixa 2'. A empresária afirmou que recebia 'em dinheiro, cash no Brasil e em depósitos no exterior'.

"Eu tinha consciência do risco que eu estava correndo, não só do risco físico meu de estar lidando com tanto dinheiro, pagando gente, recebendo dinheiro e andando, como que eu estava sonegando imposto, eu não estava contabilizando aqueles valores. Isso eu tinha certeza. Eu também não posso negar que eu imaginava que algum acordo eles tinham para que uma empresa pagasse tanto dinheiro por fora de uma campanha. Eu imaginava que eles tinham, sei lá, um acordo", afirmou.

"Eu vi a Odebrecht, por exemplo, tinha milhões, tem obras no governo. Então, eu sempre achei que tinha uma contrapartida ali. Agora, exatamente que tipo de negócio eles tinham de onde é que vinha, o que era isso e o que originava esse recurso, eu nunca tive ideia, nunca soube."

Monica Moura e João Santana foram interrogados em ação penal sobre lavagem de dinheiro e corrupção ativa e passiva relacionados à obtenção, pela empreiteira Odebrecht, de contratos de afretamento de sondas com a Petrobrás. O marqueteiro do PT também é delator da Lava Jato.

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A delatora contou que ela e o marido 'conversavam' sobre o pagamento da Odebrecht a campanhas do PT.

"A gente até conversava sobre isso. A Odebrecht está pagando campanha para o PT, todo ano pagava uma parte. A gente até falava sobre isso. Eles têm tanto negócio. Eu imaginava que era... eu imaginava assim: 'como é que esse dinheiro, eles não vão dar de graça isso'. Eu imaginava que era superfaturamento de obra. Tinha uma obra não sei aonde que eles botavam um valor a mais para daí esse valor reverter em colaboração e pagar a gente ou outras coisas que eles pagavam que eu não sei se pagavam. Hoje sei, mas não sabia na época. O João tinha o mesmo conhecimento que eu. A gente sabia que devia ter alguma negociata entre eles", disse.

João Santana foi também marqueteiro das campanhas dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (2006) e Dilma Rousseff (2010 e 2014). Mônica cuidava da contabilidade do casal.

"Em 2006, o João que iniciou a tratativa com (Antonio) Palocci de como é que ia ser. Foi quando o João disse que exigia receber tudo por dentro. Tinha acabado de acontecer o Mensalão, Duda Mendonça, aquela história toda que todo mundo já sabe. A gente falou que não ia fazer. Eu lembro até de uma conversa de Palocci, dizendo: 'não, não se preocupe, a gente vai dar um jeito'", afirmou.

"Ele falou: 'não se preocupe, nós temos uma maneira muito segura de te pagar isso. Tem um pessoal que é de extrema confiança, que colabora para gente, inclusive seus conterrâneos'. A gente não conhecia ninguém da Odebrecht. 'Você vai estar totalmente seguro lá. Você vai receber lá, mas com total segurança'. Isso ele disse ao João. A gente acabou aceitando fazer. Mas também, Dr., um adendo, se a gente não aceitar fazer campanha no Brasil, por fora, a gente não faz a campanha."

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Moro questionou se teria sido melhor não fazer desta forma.

"Talvez fosse. Hoje em dia eu penso isso. Talvez fosse. Mas não teríamos feito nenhuma delas se não tivesse aceitado esse jogo", afirmou.

O casal foi interrogado em ação penal sobre lavagem de dinheiro e corrupção ativa e passiva relacionados à obtenção, pela empreiteira Odebrecht, de contratos de afretamento de sondas com a Petrobrás.

Segundo a denúncia, entre 2006 e 2015, Palocci estabeleceu com altos executivos da Odebrecht 'um amplo e permanente esquema de corrupção' destinado a assegurar o atendimento aos interesses do grupo empresarial na alta cúpula do governo federal.

O Ministério Público Federal aponta que no exercício dos cargos de deputado federal, ministro da Casa Civil e membro do Conselho de Administração da Petrobrás, Palocci interferiu para que o edital de licitação lançado pela estatal e destinado à contratação de 21 sondas fosse formulado e publicado de forma a garantir que a Odebrecht não obtivesse apenas os contratos, mas que também firmasse tais contratos com margem de lucro pretendida.

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COM A PALAVRA, O CRIMINALISTA JOSÉ ROBERTO BATOCHIO, DEFENSOR DE PALOCCI

"O interrogatório do ex-ministro Antonio Palocci está marcado para esta quinta-feira, 20 de abril, ocasião em que ele terá oportunidade de expor, detalhada e cumpridamente, todos os fatos abrangidos por esta ação penal que, não se deve esquecer, versa apenas sobre influência na licitação das 29 sondas e também pagamento de caixa 2 para o sr. João Santana e sua sócia e mulher, Mônica Moura."

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