"Faz sua parte aí deputado, que aqui, deixa comigo."
A frase acima é de um dos alvos da Operação Carne Fraca, que estava com o telefone grampeado pela Polícia Federal, sob suspeita de integrar o esquema de corrupção envolvendo fiscais federais do Ministério da Agricultura, em conluio com executivos de dois grandes grupos do setor alimentício, BRF e JBS.
A Carne Fraca monitorou os telefones dos investigados durante quase um ano, com autorização do juiz federal Marcos Josegrei da Silva, da 14ª Vara Federal, em Curitiba. A PF local não investiga alvos com foro privilegiado, por isso encaminhou à Justiça, com sugestão para envio à Procuradoria-Geral da República, os grampos que citam deputados. Entre eles o atual ministro da Justiça, Osmar Serraglio, que em 2016 era deputado federal pelo PMDB do Paraná, João Arruda (PMDB-PR) e Rogério Peninha Mendonça (PMDB-SC).
Como deputados federais, os citados detém prerrogativa de foro perante o Supremo Tribunal Federal. Não há evidências claras de crimes nas conversas. Nem há identificação de quem é o parlamentar que conversa nessa conversa com o alvo da Carne Fraca.
"E aí, companheiro", atende o suposto parlamentar.
"Alô, deputado, tudo bem?", responde o investigado.
"Liguei.. ele tava fora... vai lá na secretaria, vai me ligar assim que chegar"", responde o "deputado", indicando conhecer o pedido e o tema tratado pelo alvo da Carne Fraca.
"Mas ele não mandou nada, nem um ofício, nada?", questiona o suposto parlamentar.
"Nada, nada nada."
E então responde que ia acionar uma pessoa de nome Ronaldo. "Dá uma ligadinha para o Ronaldo para ele dar um pulo lá também."
O investigado que estava com o grampo disse que tenta "falar com ele, e ele não atende". É complicado aí, né? Secretário nacional, que a gente tá ajudando aqui..."
"O que ele não pode fazer, não prometa, né?", responde o "deputado".
"Só falar que não dá. Não pode ficar escondendo da gente. Eu estou mandando mensagem para ele para apurar ele lá, tá?."
O deputado responde afirmativamente e diz que vai tentar também conversar com a pessoa, não identificado. E então recebe a cobrança do interlocutor: "Faz sua parte aí deputado, que aqui, deixa comigo".
A Operação Carne Fraca mira corrupção na Superintendência Federal de Agricultura no Estado do Paraná (SFA/PR) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. No rol de empresas investigadas pela Polícia Federal estão a JBS, dona da Seara e da Big Frango, a BRF, controladora da Sadia e da Perdigão, e os frigoríficos Larissa, Peccin e Souza Ramos. Os alvos são suspeitos por adulteração ou alteração de substância ou produtos alimentícios, peculato, concussão, corrupção passiva, prevaricação, advocacia administrativa, falsificação, lavagem de dinheiro e organização criminosa.