Por Ricardo Brandt, enviado especial a Curitiba, Julia Affonso e Fausto Macedo
O empreiteiro João Ricardo Auler, ex-presidente do Conselho de Administração da Camargo Corrêa e réu da Operação Lava Jato, disse à Justiça Federal que o ex-deputado José Janene (PP/PR) - apontado como mentor do esquema de fraudes a propinas na Petrobrás -, certo dia, em 2009, "invadiu" a sede da empreiteira para exigir pagamento de propinas nas obras da refinaria REPAR. Auler, preso em novembro de 2014 por suspeita de corrupção e lavagem de dinheiro e solto na semana passada por ordem do Supremo Tribunal Federal, declarou que Janene - morto em 2010 - "era um homem truculento".
ASSISTA AO DEPOIMENTO DE JOÃO AULER À JUSTIÇA
Auler depôs à Justiça Federal na segunda feira, 4. O juiz Sérgio Moro, que conduz as ações da Lava Jato, perguntou ao empresário se ele conheceu José Janene e o doleiro Alberto Youssef, peça central do esquema de propinas instalado na Petrobrás desde a indicação de Paulo Roberto Costa pelo PP para a Diretoria de Abastecimento da estatal.
"(Janene) eu conheci nos idos de 2005, examinando um oleoduto. Ele, como deputado federal, na época era membro da Comissão de Minas e Energia ou de Infraestrutura, uma dessas duas comissões. Ele tinha interesse nos projetos ligados à área de Minas e Energia.Tinha interesse de saber sobre planos de investimentos e de projetos ligados à área de Minas e Energia e me procurou."
O empreiteiro disse que fez "algumas reuniões" com Janene. "Discutimos esse projeto, mais ou menos em 2005. Em 2006 ele me procurou junto com o sr. Paulo Roberto Costa, que eu já conhecia. Ele me apresentou ao sr. Paulo Roberto Costa como 'homem dele, de indicação dele' e essa indicação também era do partido que ele pertencia, o PP. Ele disse que o sr. Paulo Roberto Costa era um homem dele. Nesse momento, nesse dia, ele me solicitou que fossem feitas doações eleitorais. Na presença do sr. Paulo Roberto Costa. Eu disse: não vejo problema, temos um procedimento interno na empresa, eu levo para quem de direito na empresa, a gente analisa, dentro da lei, a gente faz ou não faz, se for o caso."
Auler disse que ficou "um período" sem encontrar Janene. Segundo ele, por volta de 2008, Janene voltou a procura-lo.
"Ele estava com o sr. Alberto Youssef, me apresentou o sr. Youssef como homem de confiança dele. Estavam começando os projetos na área de Abastecimento (da Petrobrás). Ele disse que nós seríamos obrigados a pagar uma comissão, na realidade uma propina, num projeto da REPAR, que estava começando. Eu disse: sr. Janene não combinei nada com o sr., desconheço esse assunto. Não é minha área, estou afastado do dia a dia da empresa, da parte operacional e não concordo com isso."
"Mas ele (Janene) não se deu por vencido", relatou o empreiteiro à Justiça Federal. "Encerrou essa reunião, marcou uma outra. Voltou a insistir nesse assunto. A reunião foi tensa e ele me disse que se a gente não providenciasse isso aí a gente iria ser punido pela Área de Abastecimento. Ele voltou a me procurar, eu parei de atende-lo quando um dia ele invadiu a empresa. A minha assistente avisou, eu disse 'não vou atender esse sr., não tenho o que falar com ele'. Eu disse: não falo mais com o sr, assuntos relacionados com a Petrobrás o sr. fala com Eduardo Leite (executivo da empreiteira), que assumiu em 2008 a área de Óleo e Gás da Camargo Corrêa. Deixei os dois conversando e saí da sala, foi um momento muito crítico para mim. Essa invasão foi em 2009. Ele (Janene) era um homem truculento, eu queria sair fora daquilo."