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PF busca elo de propina a Vaccari com marqueteiro

O delator Pedro Barusco diz ter pago US$ 4,5 milhões para ex-tesoureiro do PT; valor é igual ao que João Santana recebeu no exterior

Por Ricardo Brandt e e Fausto Macedo
Atualização:

Pedro Barusco durante chegada para prestar depoimento à CPI da Petrobrás, em 10 de março de 2014. Foto: André Dusek/Estadão

O ex-gerente de Engenharia da Petrobrás Pedro Barusco afirmou à Polícia Federal, em novo depoimento, que o lobista Zwi Skornicki - que trabalha para o estaleiro holandês Keppel Fels - adiantou US$ 4,5 milhões em propina para o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto pelos contratos de fornecimento de plataformas para a estatal via Sete Brasil. A Operação Lava Jato apura se esses valores estão relacionados aos repasses feitos entre 2012 e 2014 para a conta secreta do marqueiro João Santana - das campanhas da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva - preso desde terça-feira, em Curitiba.

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"Que João Vaccari não comentava para quem, no partido, eram realizados os pagamentos destinados ao PT; Que Zwi Skornicki comentava que conversava diretamente com João Vaccari", afirmou Barusco, em depoimento dado no dia 14 de janeiro. Ex-gerente da área que era cota do PT no esquema de loteamento político da Petrobrás - envolvendo ainda PMDB e PP -, ele confessou em delação premiada ser espécie de caixa e operador da propina recebida pelo diretor de Serviços Renato Duque.

"Na questão da Sete, Zwi e Duque comentavam com o colaborador que Zwi havia pago cerca de USD 4,5 MM adiantados para Vaccari; Que eles passaram a valor exato da propina, que era de USD 4.523.000", afirmou Barusco, que para provar o que diz apresentou extratos de recebimento em contas na Suíça de offshore controlada por Zwi Skornicki.

 Foto: Estadão

A Lava Jato apura o recebimento de US$ 4,5 milhões por João Santana na conta secreta que ele mantinha na Suíça, no Banco Heritage, em nome da offshore Shellbill Finance SA - controlada por ele e a mulher. Os valores foram repassados entre 2012 e 2014 em pagamentos de US$ 500 mil das contas da offshore Deep Sea Oil, do operador de propinas da Keppel Fel Zwi Skornicki. A Lava Jato, busca elo entre esses repasses e os valores acertados pelo lobista com o PT, via Vaccari.

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O delator afirmou não saber como o operador de propinas, preso na 23ª fase da Lava Jato - Operação Acarajés, repassa a propina para Vaccari. "As reuniões com Vaccari eram simples, não envolvendo aprofundamento da participação técnica do PT nos projetos, apenas sendo repassado o andamento deles a Vaccari, o que lhe dava condições de cobrar e acompanhar o recebimento de recursos para a agremiação política", detalhou Barusco.

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Desde 2014, a força-tarefa da Lava Jato encontrou provas de que propina desviada da Petrobrás foi oculta em doações registradas aos partidos, entre eles o PT.

Sete Brasil. A Sete Brasil foi criada em 2010 pela Petrobrás, com investimentos de três fundos de pensão federal (Petros, da Petrobrás, Previ, do Banco do Brasil, e Funcef, da Caixa Econômica Federal), e bancos privados BTG Pactual, Bradesco e Santander. Seu primeiro projeto foi a construção de 28 sondas de perfuração marítima para exploração de petróleo nos campos do pré-sal. Valos do pacote, US$ 22 bilhões.

As construções foram divididas em seis grupos, um deles o BrasFel, da Keppel Fels, em Angra dos Reis. Barusco afirmou que a Sete Brasil "foi criada na gestão de Renato Duque" - indicado pelo ex-ministro José Dirceu e pelo PT - e que houve um acerto de que o partido ficaria com dois terços da propina arrecadada.

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"Lembra que o Partido dos Trabalhadores tinha interesse em receber nos contratos gerados pela Sete Brasil, tanto que ficou combinado junto com João Vaccari que a parte destinada a agremiação politica era de 2/3 das comissões", afirmou o delator. Ele entregou uma planilha para a Lava Jato detalhando todos os contratos, valores, operadores de propinas e percentuais da divisão.

O delator é taxativo em afirmar que Duque "recebeu comissões dos estaleiros em razão da participação que teve na implementação do projeto das sondas". "O Partido dos Trabalhadores também recebia comissões através de João Vaccari."

Os contratos da Sete Brasil com os estaleiros foram fechados entre 2010 e 2011, quando começam os projetos de construção das plataformas. Segundo Barusco, nos contratos a propina "normalmente era discutida com os operadores no momento em que as empresas passavam a receber pela execução" dos projetos.

 Foto: Estadão

Segundo ele, quando foram efetivados os contratos da Sete Brasil, a "regra da propina já estava instituída na Petrobrás. "Zwi Skornicki realizava os pagamentos pois, acredita o colaborador, sabia que era assim que funcionava o'jogo' dentro da Petrobrás, isto é, que deveriam existir 'comissões' para alguns funcionários públicos envolvidos, no caso, o colaborador e Renato Duque e para o Partido dos Trabalhadores".

Barusco afirmou que em relação aos valores recebidos por ele do alvo da Acarajé e representante da Keppel Fels foi no contrato de construção da plataforma P-51. O delator havia afirmado, no seus primeiros depoimentos como delator, em novembro de 2014, que no inicio de 2013 "tinha muito dinheiro de propina a receber de Zwi Skornicki". Era propina para ele e para o ex-diretor Renato Duque.

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"Estes valores eram devidos unicamente pelos contratos da Petrobrás com a Keppel", afirmou no novo depoimento do dia 14. "Deixou esta 'liquidação' por último pois sabia que tinha muito dinheiro a receber de Zwi, no total de USD 14 milhões, sendo que USD 12 milhões foram destinados a Renato Duque."

Barusco entregou um extrato de depósito de uma offshore de Zwi Skornicki, a Lynmar Assets Corp, para conta controlada por ele, a Rhea Comercial Inc, para comprovar seu elo com o operador de propina. Ele já havia entregue o registro dos pagamentos feitos por Zwi em nome da Keppel.

Trecho de tabala da propina entregue pelo delator Pedro Barsuco 
 Foto: Estadão

 

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