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Ex-diretor confirma que Zé Dirceu decidiu sua indicação na Petrobrás

Réu confesso pela primeira vez, Renato Duque contou ao juiz Sérgio Moro que, após racha entre os petistas Silvio Pereira e Delúbio Soares, ex-ministro da Casa Civil arbitrou escolha

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Foto do author Fausto Macedo
Foto do author Luiz Vassallo
Por Fausto Macedo , Luiz Vassallo e Valmar Hupsel Filho
Atualização:

O ex-ministro José Dirceu chega ao apartamento onde vai morar no bairro Sudoeste em Brasília. FOTO: DIDA SAMPAIO / ESTADÃO Foto: Estadão

O ex-diretor de Serviços da Petrobrás Renato de Souza Duque deu detalhes de um episódio controverso nesses três anos de Operação Lava Jato: a sua indicação como nome do PT no esquema de fatiamento de postos estratégicos da estatal, em que partidos da base levantaram mais de R$ 40 bilhões, em dez anos de governos Lula e Dilma.

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Candidato a delator da Lava Jato, o mais longevo preso dos cárceres de Curitiba confessou nesta sexta-feira, 5, ao juiz federal Sérgio Moro que o ex-ministro José Dirceu decidiu sua indicação, como nome do PT, à chefe da área de Serviços. Seu nome, no entanto, teria sido levado à Casa Civil pelo então secretário-geral do PT, Silvio Pereira.

"Esse é um assunto recorrente na minha carreira. Tem gente que eu tinha parentesco com José Dirceu, outros que foi indicação", afirmou Duque, que é condenado e está preso há 2 anos e 2 meses, em Curitiba, preventivamente.

"Até onde eu sei, quando desse processo da minha escolha para a diretoria houve um embate entre Delúbio e o Sílvio Pereira. O Delúbio (Soares) defendia outro nome para a Diretoria de Serviços, defendia o nome de Edmilio Varela, que era o meu antecessor. E o Sílvio Pereira defendia o meu nome."

Delúbio é o ex-tesoureiro do PT, condenado no mensalão e também alvo da Lava Jato. Silvio Pereira, ex-secretário-geral do partido, também pego nos dois maires escândalos dos governos petistas.

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Duque foi diretor da área de 2003 a 2012. A diretoria é a estratégica no esquema de arrecadação de propinas, segundo revelaram os delatores, porque é responsável não só por fazer as licitações para as demais diretorias, como Abastecimento (cota do PP), Internacional (cota do PMDB) e Exploração & Produção (cota do PT), mas também por acompanhar as execuções de obras, via sua Gerencia de Engenharia. Por esse esquema, políticos e agentes públicos cobravam de 1% a 3% em contratos, como propinas.

Duque rememorou a entrevista que teve com Silvio Pereira, em dezembro de 2002, quando estava sendo formado o governo eleito de Luiz Inácio Lula da Silva, que teria ocorrido em um hotel, em São Paulo, que durou cerca de quatro horas.

Decisão. Duque afirmou que foi Dirceu quem tomou a decisão final sobre a indicação de seu nome. O ex-ministro, que estava preso desde agosto de 2015, foi solto nesta quarta-feira, por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF), para responder fora da cadeia, os processos - ele já é condenado em duas ações de Moro, a 32 anos de prisão e foi denunciado em terceira acusação.

"O José Dirceu, então ministro, foi chamado para dar uma decisão. Isso eu fiquei sabendo a posteriori. E a decisão dele foi clara: ele falou assim, não o PSDB já está contemplado na diretoria da Petrobrás, eu não vou atender um pedido do doutor Aécio Neves, então quem vai ficar na diretoria é Renato Duque."

Sem dar maiores detalhes sobre a participação do senador tucano no episódio, Duque menciona algo já detalhado por outros delatores. O delator Fernando Moura, que era ligado a Dirceu, disse que a indicação de Duque foi decidida em uma reunião na Casa Civil.

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"Quando foi questionado quem estava indicando o Edmilio Varela, o Delúbio não poderia falar que era ele. O Delúbio disse que a indicação era do Aécio Neves. Eles chamaram o ministro José Dirceu para decidir qual dos dois seria. Quando ele chegou à reunião, disse que o Aécio fora contemplado com Furnas e ficaria Renato Duque", afirmou o delator, em fevereiro de 2016.

Para Duque, foi desse episódio que nasceu a afirmação de que ele era um indicação de Dirceu para a Petrobrás.

"Eu acho que esse fato, fez com que de alguma maneira eu ficasse ligado a essa imagem de José Dirceu."

 Foto: Estadão

Confesso. Duque confessou que todos os grandes contratos da Petrobrás havia cobrança de propinas. Citou que no caso do PT, os tesoureiros Delúbio Soares, Paulo Ferreira e João Vaccari eram as pessoas que tratavam das propinas com ele.

O candidato a delator da Lava Jato negou que tivesse recebido pedido de propinas de Dirceu. "Eu posso afiançar para o senhor que ele nunca me pediu nada."

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No seu primeiro depoimento a Moro como candidato a delator, Duque imputou a Lula o "conhecimento" e o "comando" do esquema de arrecadação de propinas na Petrobrás. Ele narrou três encontros com o ex-presidente, após ele deixar a Petrobrás, em 2012, em que se falou de contratos da estatal, em que havia pagamentos de propina. Ele não cita cobrança de valores do petista.

"Nessas três vezes ficou claro, muito claro prá mim, que ele tinha pleno conhecimento de tudo, tinha, detinha o comando."

COM A PALAVRA, O INSTITUTO LULA

"O depoimento do ex-diretor da Petrobras Renato Duque é mais uma tentativa de fabricar acusações ao ex-presidente Lula nas negociações entre os procuradores da Lava Jato e réus condenados, em troca de redução de pena. Como não conseguiram produzir nenhuma prova das denúncias levianas contra o ex-presidente, depois de dois anos de investigações, quebra de sigilos e violação de telefonemas, restou aos acusadores de Lula apelar para a fabricação de depoimentos mentirosos.

"O desespero dos procuradores aumentou com a aproximação da audiência em que Lula vai, finalmente, apresentar ao juízo a verdade dos fatos. A audiência de Lula foi adiada em uma semana sob o falso pretexto de garantir a segurança pública. Na verdade, como vinha alertando a defesa de Lula, o adiamento serviu unicamente para encaixar nos autos depoimentos fabricados de ex-diretores da OAS (Leo Pinheiro e Agenor Medeiros) e, agora, o de Renato Duque".

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"Os três depoentes, que nunca haviam mencionado o ex-presidente Lula ao longo do processo, são pessoas condenadas a penas de mais de 20 anos de prisão, encontrando-se objetivamente coagidas a negociar benefícios penais. Estranhamente, veículos da imprensa e da blogosfera vinham antecipando o suposto teor dos depoimentos, sempre com o sentido de comprometer Lula".

O que assistimos nos últimos dias foi mais uma etapa dessa desesperada gincana, nos tribunais e na mídia, em busca de uma prova contra Lula, prova que não existe na realidade e muito menos nos autos."

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