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Ex-deputada diz que 'não conhece' empresa citada na Lava Jato

Solange Almeida, ex-parlamentar do PMDB, afirmou aos investigadores da operação que nada sabe sobre Grupo Mitsui, que teria deixado de pagar propina e sido 'pressionado' por presidente da Câmara, Eduardo Cunha, em 2011, por meio de requerimentos oficiais

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Por Redação
Atualização:

A ex-deputada Solange Almeida. Foto: Saulo Cruz/Agência Câmara - 27/05/2010

Por Talita Fernandes, Mateus Coutinho e Ricardo Brandt

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A ex-deputada federal Solange Almeida (PMDB-RJ) afirmou em depoimento à Polícia Federal que não conhecia grupo japonês Mitsui - investigado no esquema de corrupção e propina alvo da Operação Lava Jato - nem se lembra dos requerimentos assinados por ela, em 2011, em que cobrou informações e providências do Tribunal de Contas da União (TCU) e do Ministério de Minas e Energia em relação a contratos e aditivos feitos com a Petrobrás.

"Não conhece o Grupo Mitsui nem nada sabe a seu respeito, lembrando apenas que tinha alvo a ver com sondas", afirmou Solange, ao ser ouvida no dia 18 de março, por um delegado da Polícia Federal e dois procuradores da República.

A Operação Lava Jato apura se dois requerimentos protocolados pela ex-parlamentar atenderem pedido do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) - investigado em inquérito aberto pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em fevereiro, a pedido da Procuradoria Geral da República.

As suspeitas são que os documentos foram feitos para pressionar a Mitsui a pagar propina pelos contratos milionários obtidos na Petrobrás na área de exploração marítima de petróleo.

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O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, investigado pela Lava Jato. Foto: Ed Ferreira/Estadão

O doleiro Alberto Youssef - peça central da Lava Jato - afirmou em sua delação premiada que houve uma suspensão de pagamentos de propina pelo grupo japonês e que Cunha teria pedido "a uma Comissão do Congresso para questionar tudo sobre a empresa Toyo, Mitsui e sobre Camargo, Samsung e suas relações com a Petrobrás, cobrando contratos e outras questões".

A Lava Jato tem os requerimentos considerados suspeitos. O argumento que embasa os pedidos é que "vários contratos envolvendo a construção, operação e financiamento de plataformas e sondas da Petrobras, celebrados com o Grupo Mitsui, contém especulações de denúncias de improbidade, superfaturamento, juros elevados, ausência de licitação e beneficiamento a esse grupo que tem como cotista o senhor Júlio Camargo, conhecido como intermediário".

A Mitsui era representada no Brasil pelo lobista Julio Gerin Camargo - réu e delator da Lava Jato. Ele admitiu à Justiça Federal ter pago propina no negócio envolvendo o operador do PMDB Fernando Antônio Falcão Soares - preso desde novembro, em Curitiba.

Nesta terça-feira, o ex-diretor de Internacional da Petrobrás Nestor Cerveró - também preso pela operação, desde janeiro - admitiu que Fernando Baiano era "lobista", assim como Julio Camargo, atuando no bilionário mercado de navios sondas.

 Foto: Estadão

Depoimento. Solange - hoje prefeita de Rio Bonito (RJ) - diz que ocupou a Comissão de Minas e Energia e a Comissão de Fiscalização Financeira e Controle. Ela afirmou à PF que desde que se tornou congressista (em 2006, pela primeira vez) "ouvia comentários no Congresso sobre irregularidades na Petrobrás, em especial em círculos de oposição".

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A ex-deputada do PMDB diz não lembrar-se em qual período foi da Comissão de Fiscalização e Controle, porque "não era a comissão mais interessante".

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"Participou desse comissão porque era onde havia vaga, e o trabalho nas comissões era mais interessante que o de plenário", registrou a PF em seu termo de depoimento.

"Não se recorda de requerimentos que tenha feito nessa comissão", afirmou a ex-deputada. Solange explicou que foi eleita em 2010 como quarta suplente do PMDB. Assumiu cadeira na Câmara em fevereiro de 2011 e permaneceu como parlamentar até outubro daquele ano.

Solange disse "achar" que pertencia à Comissão de Fiscalização Financeira e Controle quando foi apresentando o requerimento de informações sobre a Mitsui na Petrobrás. A atual prefeita afirma "não se lembra" das motivações que a fizeram assinar os requerimentos e que o tema envolvendo a Petrobrás "não se inseria em suas pautas de atuação parlamentar".

Segundo Solange, "suas pautas principais eram a saúde pública, havendo fundado a frente parlamentar em defesa dos hospitais universitários". Negativa. A ex-deputada federal nega que Cunha tenha pedido que ela formulasse o requerimento sobre a Petrobrás e diz não se recordar de que o parlamentar tenha falado com algum outro congressista sobre a elaboração do requerimento.

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O presidente da Câmara também nega qualquer relação com o esquema de corrupção na Petrobrás e sustenta que não solicitou nem tem participação nos requerimentos feitos pela ex-deputada em 2011.

Nesta semana, a Câmara foi alvo de buscas autorizadas pelo STF, para que fossem colhidas provas em relação a elaboração desses requerimentos. Para investigadores da Lava Jato, reforçam as suspeitas o fato de o TCU ter deixado sem resposta o pedido da parlamentar, questionando em resposta a falta de dados específicos para proceder o levantamento.

 Foto: Estadão
 Foto: Estadão

COM A PALAVRA, A MITSUI & CO

A Mitsui & CO, por meio de sua assessoria de comunicação, esclareceu que "não está envolvida em nenhuma iniciativa irregular". A Mitsui & CO destaca que "não é investigada pelas autoridades públicas por irregularidades em seus negócios com a Petrobrás".

LEIA A NOTA DA MITSUI & CO

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"Com relação à matéria "Ex-deputada que teria sido usada por Cunha diz que 'não conhece' empresa investigada", a Mitsui & Co gostaria de esclarecer que não está envolvida em nenhuma iniciativa irregular e que não é investigada pelas autoridades públicas por irregularidades em seus negócios com a Petrobras. A Mitsui & Co gostaria de reforçar que o sr. Júlio Camargo nunca foi representante ou consultor em nenhum dos projetos da empresa."

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