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'Eu não dava a opção de dar ou não dar. Eu dizia: é para dar', relata Emílio Odebrecht sobre pedidos de Lula

Patriarca da maior delação premiada da Lava Jato afirmou que ex-presidente pedia ajuda a ele para campanhas presidenciais e municipais; acerto de valores era delegado ao filho Marcelo e ao ex-ministro Palocci, o 'Italiano'

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Por Ricardo Brandt , Julia Affonso , Fausto Macedo e Fabio Fabrini
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 Foto: Eraldo Peres/AP

O patriarca da maior delação premiada da Operação Lava Jato, o empresário Emílio Odebrecht afirmou que a relação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o Grupo Odebrecht - que confessou ter acertado mais de R$ 200 milhões de propinas para o PT na última campanha presidencial, em 2014 - era concentrada nele e que não dava opção para o filho Marcelo Odebrecht de pagar ou não os pedidos "de ajuda" feitos pelos emissários do petista.

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"Quando o Lula me pedia, em vários momentos, não só para presidente, como para eleições municipais, ele sempre me disse que poderia ajudar, pedia para ajudar. 'Emílio, veja você pode lá ajudar alguma coisa para a gente lá do PT'. Eu digo: 'chefe, quem é que você vai mandar?'. Esse eu me lembro perfeitamente, era Palocci, esse eram quem ele credenciava para ir lá tratar", revelou Odebrecht, em um dos termos de delação fechado com a Procuradoria Geral da República (PGR).

O patriarca da delação, que é presidente do Conselho de Administração do Grupo Odebrecht, disse que mandava o diretor-presidente da companhia para negociar: Marcelo Odebrecht, a partir de 2008, e Pedro Novis, antes disso.

Palocci e Lula são alvos das investigações da Lava Jato abertas à partir da mega delação da Odebrecht - que tem 78 nomes envolvidos. Identificado como "Italiano" nas planilhas da propina do Setor de Operações Estruturadas, o ex-ministro da Fazenda de Lula e da Casa Civil da ex-presidente Dilma Rousseff era quem acertava com Marcelo para quem haveria liberação de dinheiro da conta-corrente que o PT tinha com a empresa, por essa relação com Lula.

Em 2014, na eleição de reeleição de Dilma, a conta-corrente Italiano chegou a ter mais de R$ 200 milhões em crédito. Todo dinheiro era caixa 2, não contabilizado nos registros contáveis da empresa. Para a Lava Jato, todo valor é propina pelos contratos da Odebrecht com Petrobrás e outros setores do governo.

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O procurador da República Sérgio Bruno questionou o delator Emílio Odebrecht se Marcelo ou Novis tinha autonomia para decidir se pagariam Palocci ou não. "Ou eles tinham que cumprir o que o senhor e Lula acertaram?"

"Fique certo de o seguinte. Lula não conversava comigo sobre isso, sobre os valores, ele não conversava", garantiu Odebrecht.

Mas acrescentou que ele não dava opção de não ser paga a "ajuda" para o PT.

"Quero ser muito claro. Quando eu falava com Novis ou falava com Marcelo, eu não dava a opção de dar ou não dar. Eu dizia: é para dar. Negociem, mas é para dar. Vejam, o que muitas vezes eu até alertava, é para que eles tivessem cuidado para estar evitando conflitos da organização com os diversos candidatos. Porque aí, vinha o ciúmes, deu mais a um, deu a mais a outro...."

A relação da Odebrecht com Lula sempre foi concentrada em Emílio e no ex-executivo Alexandrino Alencar, que foi escalado pelo patriarca da delação para ajudar nos contatos com o ex-presidente petista, contou o delator. "Eu precisa ter alguém que me ajudasse em algumas providências. Tipo, precisava ter uma audiência com ele."

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Emílio afirmou que Marcelo Odebrecht não tinha relação direta com Lula. Sua relação com o PT e o governo

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O patriarca da delação-bomba da Lava Jato disse que todos seus encontros com Lula, depois que ele assumiu a Presidência, foram "sempre no Planalto". "Fora disso era quando encontrava em alguma inauguração, em alguma recepção, fora isso, era sempre lá, os encontros."

Crocodilo. Emílio registrou em seu anexo de delação, que antecede o depoimento filmado, que discutia com Lula doações para campanhas do PT. O "apoio" ao petista e seus aliados, segundo o empreiteiro, remonta à época em que ele nem sequer era candidato e se estendeu ao período em que ele comandou o País.

"Lembro de, em uma dessas ocasiões, ter disso ao então presidente que o pessoal dele estava com a goela muito aberta. Estavam passando de jacaré para crocodilo'", contou Emílio, sobre um episódio vivido em 2010, quando Lula elegeu sua sucessora Dilma Rousseff.

Os relatos do empresário fazem parte dos documentos que serviram de base para os pedidos de abertura de inquérito remetidos pela PGR ao Supremo Tribunal Federal (STF).

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Em algumas ocasiões, segundo Emílio, Marcelo pediu ao pai que conversasse com Lula para "informar valores e esclarecer dúvidas". "Lembro de, algumas vezes, ter dito a ele algo como: 'Presidente, seu pessoal quer receber o máximo possível, e meu pessoal quer pagar o mínimo necessário. Já instruí meu pessoal para chegar ao melhor acordo, e peço também ao senhor para conversar com seu pessoal para aliviar a pressão'", afirmou Emílio.

COM A PALAVRA, O ADVOGADO DE LULA

A imprensa dedicou no dia 12/4/2017 inúmeras manchetes às delações que o Ministério Público Federal negociou com executivos do Grupo Odebrecht e, como tem ocorrido, o ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi o destaque da maioria delas. O vazamento ilegal e sensacionalista das delações, nos trechos a ele referentes, apenas reforça o objetivo espúrio pretendido pelos agentes envolvidos: manchar a imagem de Lula e comprometer sua reputação. Mas o que emergiu das delações, ao contrário do que fez transparecer esse esforço midiático, é a inocência de Lula - ele não praticou nenhum crime.

É nítido que a Força Tarefa só obteve dos delatores acusações frívolas, pela ausência total de qualquer materialidade. O que há são falas, suposições e ilações - e nenhuma prova. As fantasiosas condutas a ele atribuídas não configuram crime.

Desde 4 de março de 2016. o ex-Presidente passou a ser vítima direta de sucessivas ilegalidades e arbitrariedades praticadas no âmbito da Operação Lava Jato para destruir sua trajetória, construída em mais de 40 anos de vida pública. Lula já foi submetido à privação da liberdade sem previsão legal; buscas e apreensões; interceptações telefônicas de suas conversas privadas e divulgação do material obtido; e levantamento dos sigilos bancário e fiscal, dentre outras medidas invasivas.

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A despeito de não haver provas, o ex-Presidente foi formalmente acusado, apenas com base em "convicções". Depois de 24 audiências em Curitiba e a oitiva de 73 testemunhas apenas em um dos processos, salta aos olhos a inocência de Lula. Ao final dessa nova onda, o que sobrará é o mesmo desfecho melancólico vivido pelo senador cassado Delcídio do Amaral: caíram por terra suas teses. Delcídio aceitou acusar o ex-Presidente em troca da sua liberdade e depois foi desmentido por testemunhas ouvidas em juízo, quando então não podiam mentir.

Cristiano Zanin Martins

 

 

 

 

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