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Empreiteiro revela 'metodologia' de Vital do Rêgo e Gim Argello para barrar CPI da Petrobrás

Léo Pinheiro da OAS diz que o atual ministro do Tribunal de Contas da União e o ex-senador traçaram plano de trabalho para postergar propositadamente a Comissão Parlamentar de Inquérito da estatal

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Por Julia Affonso , Ricardo Brandt , Mateus Coutinho e enviado especial a Curitiba
Atualização:

Vital do Rêgo. Foto: Ed Ferreira/Estadão

O empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS, revelou nesta terça-feira, 13, ao juiz federal Sérgio Moro a 'metodologia' usada em 2014 pelos então senadores Vital do Rêgo - hoje ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) - e Gim Argello (PTB-DF) para barrar as investigações da CPI da Petrobrás. Segundo o executivo, a dupla de senadores traçou um plano de trabalho que postergava propositadamente a investigação sobre corrupção na estatal petrolífera.

Léo Pinheiro foi questionado por seu advogado sobre medidas tomadas para que a CPI não aprofundasse os trabalhos investigativos. De acordo com o empreiteiro, retardar a investigação envolveu ajustes no calendário da CPI.

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O executivo declarou que tinha conhecimento do plano de trabalho da CPI - o documento foi apreendido pela Lava Jato com Léo Pinheiro.

"Eu li várias vezes para entender como era o processo desde que eu estava à frente 100% desse assunto", afirmou. "Tinha propositadamente as datas de reunião, por exemplo. Só votava requerimento de depoente a cada 15 dias. Reunião para escolha de temas passava por um outro processo postergatório. Eram quatro temas, no plano (de trabalho) ele chama de quatro eixos. RNEST (Refinaria de Abreu e Lima, investigada na Lava Jato e alvo da CPI), por exemplo, que tem a ver conosco. RNEST era um eixo, então, para que o assunto RNEST voltasse, se ele foi para uma reunião, demorava 45 dias."

O empreiteiro disse detalhes a Moro. "A CPI tem um calendário que pegava dois recessos parlamentares. O do mês de junho e o do final do ano, que acabou encerrando com recesso. Isso tudo, eu vou usar a palavra, mas não sei se ela é correta, me perdoe, mas inteligentemente traçado isso e com alguns feriados para que não houvesse reuniões. Eu tratei disso juntamente com o senador, presidente da CPI, Vital do Rêgo, e com o senador Gim. Eles me mostrando esse calendário", afirmou.

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"Outra coisa importante, as horas dessas reuniões que às vezes coincidiam com sessões do plenário da Câmara, do Senado ou do Congresso. Automaticamente as sessões são encerradas. Havia toda uma metodologia para que não se chegasse às investigações que o Ministério Público e a Justiça chegaram."

Gim Argello. Foto: Reprodução

É a primeira vez que Léo Pinheiro, que perdeu no último mês sua negociação de delação premiada com o Ministério Público Federal, confessa crimes no esquema de cartel e corrupção na Petrobrás.

A confissão de Léo Pinheiro faz parte de sua estratégia para tentar reconquistar a liberdade que a Lava Jato lhe tomou.

Após ver malograr sua delação premiada junto à Procuradoria-Geral da República, o empreiteiro está preso desde a semana passada, por ordem do juiz federal Sérgio Moro.

Moro acolheu pedido da força-tarefa do Ministério Público Federal que atribui a Léo Pinheiro obstrução da Justiça nos autos do processo em que é réu o ex-senador Gim Argello.

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A confissão pode render benefícios ao empreiteiro, que já foi condenado em outra ação penal da Lava Jato a 16 anos e quatro meses de prisão.

Esta sentença encontra-se sob o crivo do Tribunal Regional Federal da 4.ª Região, que deverá confirmar a primeira condenação, impondo a Léo Pinheiro regime de prisão fechada por uma longa temporada.

Nesta terça, 13, ele foi interrogado por Moro porque também é réu por pagar propina de R$ 350 mil a Gim Argello, via doação a uma igreja.

Léo Pinheiro foi preso pela primeira vez na Operação Juízo Final, sétima fase da Lava Jato, em novembro de 2014, e ficou custodiado preventivamente até abril de 2015 quando o Supremo Tribunal Federal (STF) deu habeas corpus a nove executivos de grandes empresas.

Em agosto de 2015, ele foi condenado a 16 anos e 4 meses de reclusão por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

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O executivo voltou a ser preso pela Lava Jato em 5 de setembro, desta vez por obstrução de investigação.

COM A PALAVRA, RICARDO BERZOINI: O ex-ministro afirma que Léo Pinheiro cometeu uma imprecisão em seu relato ao citar a presença de Vital do Rêgo (então senador, hoje ministro do Tribunal de Contas da União), que não estava no encontro. "Nunca estive com Vital do Rêgo junto com o Gim Argello para tratar de qualquer assunto fora do Congresso. Era uma conversa que o Gim me convidou para ter com ele sobre a pauta no Senado na semana seguinte", afirma Berzoini.

Ainda segundo o ex-ministro, Argello o teria convidado para o encontro na residência do senador em Brasília, sem nem mencionar o empreiteiro. "Não tinha a menor ideia que o Léo poderia aparecer. Conversamos (ele e Gim Argello) por mais de uma hora e, quando estava de saída, apareceu o Léo Pinheiro, com o qual não tenho nenhuma intimidade, e conhecia apenas de vista", relata o petista.

Berzoini diz ainda que não houve nenhum tipo de pedido ao empreiteiro. "O que houve foi uma conversa do tipo, 'está começando a comissão parlamentar e é importante que seja uma investigação séria, não uma disputa política eleitoral'", afirma o ex-ministro.

COM A PALAVRA, A ASSESSORIA DE VITAL DO RÊGO:

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"O ministro informa que jamais negociou, com quem quer que seja, valores relacionados a doações ilícitas de campanhas eleitorais ou qualquer tipo de vantagem pessoal. Repudia, com veemência, as infundadas alegações, que são novamente desacompanhadas de qualquer prova relacionada ao seu nome."

COM A PALAVRA, O DEPUTADO MARCO MAIA: "Com relação ás declarações dadas pelo Sr. Léo Pinheiro as quais cita a minha pessoa, gostaria de dizer.

Tais afirmações são mentirosas, fruto de retaliação de um criminoso por mim indiciado na CPMI. Refuto com indignação tais ilações!

Fui relator de uma CPMI em 2014, onde foi pedido o indiciamento daqueles que hoje me acusam.

Foram 52 indiciamentos, mais o pedido de investigações de 20 empresas ao CADE pela prática de crime de cartel.

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Como já havia afirmado anteriormente, não recebi nenhuma doação para minha campanha eleitoral de 2014 de quaisquer empresas que estivessem sendo investigadas por tal CPMI.

Por fim, utilizarei de todas as medidas legais para que a verdade seja estabelecida e para que os possíveis desgastes a minha imagem parlamentar seja reparado em sua integralidade.

Brasília, 13 de setembro de 2016.

MARCO MAIA

Deputado Federal PT/RS"

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