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E-mails mostram investida de Odebrecht por atuação de Lula no exterior

Troca de mensagens entre presidente afastado do grupo e executivos foram destacadas em inquérito da Lava Jato; interesse de maior empreiteira do País era que ex-presidente ajudasse em negócios na Argentina, Bolívia e Peru

Foto do author Fausto Macedo
Por Ricardo Brandt , Fausto Macedo e Mateus Coutinho
Atualização:
Marcelo Bahia Odebrecht, preso desde 19 de junho, e o ex-presidente Lula 

Uma série de e-mails trocados entre Marcelo Bahia Odebrecht e executivos afastados do grupo mostra como a maior empreiteiro do País usava de sua proximidade com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ex-diretores da Petrobrás para tentar influenciar governos de outros países para obter contratos bilionários. Anexados aos autos da Operação Lava Jato em dezembro, as mensagens tratam de negócios da Odebrecht na Argentina, Bolívia e Peru.

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Em uma das trocas de e-mails destacadas pela Polícia Federal, o dono da Odebrecht - afastado da presidência do grupo em novembro, após ser preso pela Lava Jato em 19 de junho - conversa com executivos do grupo. São eles, Carlos Brenner, Roberto Prisco Ramos, Márcio Faria e Rogério Araújo. O assunto tratado, negócios da Braskem - petroquímica da empresa em sociedade com a Petrobrás - no Peru e a visita do ex-presidente Lula.

Para a PF, o documento indica a tentativa de Odebrecht e executivos de uso da influência do ex-presidente para fechar o negócio. Quem também participa da troca de mensagens é o ex-diretor de Internacional da Petrobrás Nestor Cerveró e o ex-gerente da estatal Luis Moreira.

No dia 25 de janeiro de 2008, Brenner escreve para Roberto Ramos. "Vi no jornal que o Lula estará e Lima (capital do Peru) em 05/03 para encontrar-se com Alain Garcia. O foco é a discussão de das relações bilaterais. Já pensou se conseguirmos incluir na agenda a assinatura do MoU???", inicia a conversa.

 

O negócio buscado pelo grupo, "MoU", era um acordo para a implantação de um polo petroquímico no Peru, que envolvia a parceria entre Petrobrás e Petroperu. O projeto, segundo a Braskem, previa a industrialização de etano, encontrado no gás natural local.

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Cinco dias depois, em 30 de janeiro, Ramos envia a outro executivo, Rogério Araújo - preso na Lava Jato e suposto operador de propinas do grupo - mensagem sobre o tema. "Só para sua informação. O ideal era voltar ao assunto depois do carnaval e ver se conseguimos combinar com nosso amigo Nestor (Cerveró) estar em condições de assinar o protocolo durante a visita de Lula!."

No mesmo dia, Araújo repassa o e-mail de Ramos intitulado "Lula no Peru" para Cerveró - ex-diretor de Internacional, preso pela Lava Jato e novo delator - com a seguinte mensagem: "O que você acha desta estratégia?".

Um dia depois, dia 31, o ex-diretor de Internacional responde o executivo da Odebrecht e copia o ex-gerente da Petrobrás em seu e-mail funcional: "Este assunto já foi acertado com o Cesar Gutierrez (presidente da Petroperu) na minha reunião da ultima semana, quando estive em Lima. Acho boa ideia e vamos andar rápido com o assunto". A troca de mensagens é copiada para Marcelo Odebrecht. "Apenas para inf. Assunto em evolução."

 

No dia 7 de fevereiro, é o próprio dono da Odebrecht que responde aos executivos. "Ótimo. Estes eventos com Lula são bons pois criam um deadline."

O acordo buscado pela Braskem foi assinado durante a visita do então presidente Lula.

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Argentina. Os e-mails anexados há 15 dias em um dos inquéritos que executivos da Odebrecht são investigados pela Lava Jato, há também a atuação do presidente afastado do grupo em visita feita em fevereiro de 2008 por Lula à Argentina.

No relatório da PF, foi destacado trecho de mensagem enviada por Odebrecht para Henrique Valladares no dia 4 de fevereiro. "Preciso uma nota sobre Garabi para preparar a ajuda memoria final que quero enviar para Lula até amanhã, referente a visita a dele a Argentina."

 

O projeto é o da usina hidrelétrica Garabi-Panambi, a ser construída no rio Uruguai, na fronteira entre o Brasil e a Argentina envolvendo uma parceria entre a Eletrobrás - estatal do setor elétrico brasileira - e a empresa argentina Emprendimientos Energéticos Binacionales S.A. (Ebisa).

Marcelo recebe material para repassar ao ex-presidente e responde: "Roberto. Um terço de página apenas ou o cara não lê". Para a PF, o presidente afastado da Odebrecht se referia a Lula.

 

"Pela dimensão e importância dos projetos atualmente em execução e em estudo pela Odebrecht na Argentina, havendo oportunidade, seria importante que o presidente Lula pudesse reforçar, junto à presidente Cristina, a confiança que tem na Odebrecht".

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Bolívia. Nas mesmas mensagens tratando sobre interesses da Odebrecht na Argentina, há referência ao presidente da Bolívia, Evo Morales.

 

 

"Sugere-se ao presidente Lula comentar com o presidente Evo Morales sua satisfação em relação a boa evolução do projeto". O negócio de interesse naquele país era um polo de gás-quimico. O encontro entre Lula, a ex-presidente argentina Cristina Kirchner e o presidente boliviano Evo Morales ocorreu em 23 de fevereiro de 2008.

 

Lula não é alvo de um inquérito da Lava Jato, mas sua atuação direta e indireta em favor de empreiteiras do cartel tem sido apurada. Pagamentos de palestras, após deixar a Presidência, em 2010, são um dos pontos de partida nessas investigações. Procurado, o Instituto Lula não respondeu aos questionamentos. O ex-presidente tem negado irregularidades.

COM A PALAVRA, ODEBRECHT

"A Odebrecht Infraestrutura reafirma que busca manter relações institucionais transparentes com chefes de Estado brasileiros, de forma condizente com a importância do cargo em benefício de interesses nacionais e das empresas brasileiras, prática que também é exercida por presidentes e ex-presidentes de outras nações, como Estados Unidos, França e Espanha, quando promovem empresas dos seus respectivos países na busca por uma maior participação no comércio global.

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A Odebrecht lamenta que se repita o expediente de vazamento de mensagens descontextualizadas de ex-executivos da empresa e destaca que as mensagens citadas expressam fatos absolutamente normais. Como no caso de fornecimento de informações e subsídios para viagens oficiais para países onde as empresas brasileiras mantêm operações comerciais, como acontece na diplomacia de todas as nações do mundo. Finalmente, tenta-se promover uma leitura maliciosa de mensagens em que o ex-presidente da holding Odebrecht se mantém informado sobre investimentos do acionista (o que era parte de suas atribuições) em projetos que envolvem mais de uma empresa do Grupo, dando a entender que ele teria alguma ingerência sobre a autonomia da direção de cada uma das empresas. Previsões de mercado também são propositalmente confundidas com informações privilegiadas".

COM A PALAVRA, BRASKEM

Braskem esclarece que um acordo para a implantação de um polo petroquímico no Peru, parceria entre Petrobras e Petroperu, já estava em gestação desde antes da visita do ex-presidente Lula ao país.

O acordo foi efetivamente assinado durante a visita, dentro do rol de acordos bilaterais e com empresas privadas comum a missões presidenciais.

A Braskem informa ainda que, neste momento, prosseguem as negociações para a implantação do polo com empresas privadas do Peru e a Petroperu na condição de sócia minoritária.

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