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Eike disse que era 'persona non grata' na Petrobrás

Em depoimento prestado em 2016, empresário afirmou à Lava Jato que era expulso do "clube" de empreiteiras, que funcionários da estatal o "detestavam" e que foi boicotado nos negócios do pré-sal

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Foto do author Fausto Macedo
Por Fausto Macedo , Ricardo Brandt e Mateus Coutinho
Atualização:
 

O empresário Eike Batista, preso desde a segunda-feira, 30, alvo da Operação Eficiência, que apura propina para o ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB), afirmou a procuradores da Operação Lava Jato, em 2016, que "não fazia parte" do clube de empreiteiras que fatiava obras e contratos da Petrobrás e que era "persona non grata" na estatal.

"Olha, eu era como um jogo fora do baralho", afirmou Eike ao ser ouvido por dois procuradores da República, que integram a força-tarefa da Lava Jato, em Curitiba. "É só vocês verem o que aconteceu. Por que que o Eike Batista não está na Lava Jato? Não está envolvido com Petrobrás? Por que?."

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Como parceiro de empresas internacionais, o ex-controlador do Grupo EBX afirmou que era persona no grata na Petrobrás e que ele "não se encaixava" no esquema de cartel e corrupção das empreiteiras brasileiras - que, segundo a Lava Jato, agiam em conluio com políticos da base dos governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, em especial do PT, PMDB e PP, fraudando contratos e pagando propinas.

Foragido desde a quinta, 26, quando foi decretada sua prisão preventiva na Eficiência, desdobramento da Lava Jato, no Rio, Eike foi preso nesta segunda, ao desembarcar, no Rio. Ele presta depoimento na Polícia Federal na tarde desta terça-feira, 31.

 

Ex-controlador do Grupo EBX, o empresário é um dos novos candidatos a delator - mais de 20 negociações de colaboração premiada estão em andamento, em Curitiba. Se decidir falar, pode revelar a investigadores fatos sobre negócios na exploração dos campos de petróleo do pré-sal e também dos campos de gás, e ainda expandir as apurações para outras áreas, como o BNDES, as obras de Olimpíadas, entre outras.

'Clube'. "Eu com os empreiteiros, eu era um bicho que as pessoas nem sabiam me interpretar. O que eles faziam era o seguinte: vamos sugerir para a Petrobrás construir um novo porto. Essa era a cultura", explicou Eike, aos procuradores Roberson Pozzobon e Julio Motta Noronha.

"Um cartel e o Eike Batista que trazia empresas estrangeiras e capital próprio, não encaixava. Esse clube... eu não fazia parte desse clube. E sempre fui expulso do clube."

"Pessoal da Petrobrás me detestava. Eu na Petrobrás? Eu era persona no grata."

O empresário afirmou que tentou aproximação com a ex-presidente da Petrobrás Graça Foster, mas sem sucesso.

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Pré-sal. Uma das áreas que a Lava Jato investiga é a dos contratos que orbitam a exploração de petróleo nos campos do pré-sal. Além dos leilões das áreas, os contratos de construção e fornecimentos de navios-sondas e plataformas são um dos alvos. Em especial, a dos 28 equipamentos contratados via Sete Brasil - empresa criada pela Petrobrás, em parceria com bancos e com dinheiro de fundos de pensão federal.

Eike contou que teria sido boicotado nos leilões dos campos de exploração de petróleo no pré-sal, durante o governo Dilma Rousseff e afirmou que a Petrobrás "gera muito caixa".

 Foto: Estadão

"Eu sempre tive interesse em ocupar o meu espaço. Interesse de pegar, construir sondas no meu estaleiro, mas como eu não fazia parte do grupo...", explicou Eike, ao dizer que não fez parte do grupo de estaleiros subcontratados pela Sete Brasil, para construir os equipamentos. Os vencedores foram estaleiros formados pelas empreiteiras do cartel, como Odebrecht, UTC, Engevix.

O "depoimento espontâneo" de Eike livrou-o de ser preso na 34ª fase da Lava Jato (Operação Arquivo X), deflagrada em setembro de 2016, que levou para a cadeia o ex-ministro Mantega - solto no dia seguinte, pelo juiz federal Sérgio Moro, de Curitiba.

 

Colaborar. No depoimento, o empresário afirmou que estava disposto a colaborar com as investigações.

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Eike ficará preso em uma cela comum, em Bagu, no Rio. Ele foi levado inicialmente para uma cela reservada aos encarcerados da Justiça Federal, no presídio Ary Franco, mas por questões de segurança foi transferido.

Se quiser buscar uma colaboração premiada com a Lava Jato, terá que negociar com pelo menos três forças-tarefas: a do Rio - que decretou sua prisão -, a de Curitiba e a de Brasília.

 
 
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