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Eco Chato, Formatador e Revista, a propina do PT em contrato de submarinos

Delator da Odebrecht apresentou à Lava Jato lista de codinomes e datas de pagamentos ao partido, via ex-tesoureiro João Vaccari, entre 2012 e 2014; total liberado foi de R$ 17 milhões

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Por Redação
Atualização:

O ex-tesoureiro do PT João Vaccari. Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados

Ao todo, o projeto do Prosub, envolve pagamentos de 40 milhões de euros para o lobista José Amaro Pinto Ramos, outros 1,5 milhão de euros e R$ 1,2 milhão ao ex-presidente da Eletronuclear (estatal brasileira) Othon Luis Pinheiro da Silva e os R$ 17 milhões para o PT, via Vaccari.

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O programa para a construção dos submarinos (batizado de Prosub) foi lançado no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que assinou a "parceria estratégica" com o então mandatário da França, Nicolas Sarkozy. A DCNS ficou responsável pela transferência de tecnologia ao País e escolheu a Odebrecht como parceira nacional no projeto, sem realização de licitação.

O pacote previa a construção de um estaleiro, localizado em Itaguaí, no Rio, a operação e manutenção dos submarinos e a construção de quatro submarinos convencionais e o projeto e a construção do submarino com propulsão nuclear. Nenhum deles foi ainda entregue.

 Foto: Estadão

Fábio Gandolfo, um dos 78 delatores da Odebrecht, afirmou que após a liberação do primeiro repasse para a empresa, para início da construção do estaleiro, no Rio, onde seriam construídos os submarinos, Vaccari procurou o grupo e pediu R$ 17 milhões. (aos 35min do vídeo)

Gandolfo era o diretor do contrato para a obra do estaleiro. Quando assumiu, o acerto já teria sido acertado com o superior da área de infraestrutura da empresa, Benedicto Barbosa da Silva Junior, e com o então diretor-presidente, Marcelo Odebrecht. Foi do superior que ele teria recebido os codinomes que tinham relação com pagamentos à legenda. Acabaram liberando os R$ 17 milhões para o PT, do setor de propinas.

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O delator disse que foi informado por Benedicto Júnior sobre compromissos de caixa 2 que ele teria que cumprir (à partir do 16min50seg, do vídeo).

"O primeiro compromisso foi do codinome Champanhe. Eu não sabia quem era e levei um tempo para saber quem era", afirmou o delator. Champanhe era o lobista internacional José Amaro Ramos, que falava em nome dos franceses. "Ele tem um nível bastante alvo, morou na França, trabalhou lá."

Gandolfo também relatou que recebeu do superior o codinome Mergulhador, como um dos compromissos a serem pagos no Prosub. Era o apelido do almirante Othon, ex-Eletronuclear (aos 25min do vídeo).

Conta 'Italiano'. BJ, como é conhecido Benedicto Júnior, detalhou como foi o pedido feito por Vaccari e como se resolveu o pagamento, abatendo o valor da "conta corrente" que a empresa tinha com o PT, controlada por Marcelo Odebrecht e pelo ex-ministro Antonio Palocci, identificado como "Italiano".

O delator disse não ter concordado com o pagamento ao PT, por cobrança de Vaccari. O percentual de propina pelo negócio já estaria acertado com o diretor-presidente do grupo, dentro das contribuições ao PT e suas campanhas presidenciais - fruto da relação entre Lula e o patriarca Emílio Odebrecht.

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 Foto: Estadão

"Procurei o Marcelo Odebrecht e relatei o ocorrido. Marcelo me retornou e disse que minha posição estava correta, pois ele já havia alocado como custo ao projeto por conta do PT o montante de R$ 50 milhões", explicou Benedicto.

Vaccari está preso em Curitiba desde abril de 2015. Ele já foi condenado pelo juiz federal Sérgio Moro, em outros processos, e será alvo central dessa nova investigação da Lava Jato, aberta à partir das delações da Odebrecht, que vão envolver investigadores do Rio de Janeiro e do Paraná.

Por meio de defesa, Vaccari nega qualquer relação com ilícitos. O PT também afirma que todos os recebimentos de valores do partido e suas campanhas foram legais e aprovados pela Justiça Eleitoral.

COM A PALAVRA, A MARINHA DO BRASIL

Por meio de nota, a Marinha do Brasil (MB) informou que "desconhece qualquer irregularidade sobre os pagamentos do contrato de construção dos submarinos do Programa de Desenvolvimento de Submarino (PROSUB)".

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"Por esse motivo, não há qualquer investigação (interna) em andamento."

COM A PALAVRA, A DEFESA DE JOSÉ AMARO PINTO RAMOS

O advogado Álvaro Luís Fleury Malheiros, que representa José Amaro Pinto Ramos, informou que seu cliente recebeu aproximadamente 17,5 milhões de euros - e não 40 milhões de euros, como informou o delator da Odebrecht Benedicto Júnior, o 'BJ'.

Segundo Malheiros, o dinheiro foi pago pela empreiteira a título de honorários. Ramos, segundo seu advogado, recebeu porque levou para a Odebrecht um negócio importante, de grande porte, e também pela atuação intensa que promoveu entre duas sociedades que fecharam parceria.

O advogado esclareceu que a empresa francesa (DCNS) para a qual Ramos vinha trabalhando tinha intenção de fazer parceria com uma empreiteira também francesa no Brasil para construção do estaleiro e da base naval, necessários para implantação do Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub).

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Malheiros destacou que Ramos fazia assessoria para a acionista principal e controladora da DCNS. "Ele mostrou que para a DCNS seria mais importante arrumar um parceiro que fosse uma empresa nacional. Aí apresentou esse projeto para a Odebrecht que acabou pagando honorários a ele."

"O dr. Ramos foi fundamental para o avanço e o êxito desse projeto", afirma Malheiros.

O advogado informou que Ramos declarou o recebimento dos valores. "Tudo está perfeitamente regularizado."

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