Na sessão de terça-feira, 1, da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal em que se decidiu pela revogação da prisão preventiva do procurador da República Ângelo Goulart - infiltrado da JBS -, o ministro Gilmar Mendes desferiu o mais duro ataque já lançado contra o Ministério Público Federal na Corte máxima. Ele disse que a Procuradoria 'joga' com a mídia para dar publicidade a vídeos e áudios de delações premiadas.
"Nós passamos a permitir que ele, Ministério Público, autorizasse a divulgação prévia (das delações), violando a lei. Mas isso não é um direito renunciável por ele (Ministério Público). É óbvio que não. Porque isso atinge o delatado. Mas nós passamos a permitir."
Gilmar votou pela revogação da prisão de Ângelo Goulart, que estava preso desde 18 de maio sob acusação de recebimento de mesada de R$ 50 mil do empresário Joesley Batista em troca de informações privilegiadas da Operação Greenfield - investigação sobre rombo bilionário nos maiores fundos de pensão do País.
"Por que é que isso tem relevância?", seguiu Gilmar, ainda no ataque sem tréguas ao Ministério Público. "Porque é assim que se faz esse modelo de envolvimento da mídia no contexto geral. Como é que se faz? Divulgando a delação ao bel talante do Ministério Público. Nós estamos chancelando isso, notórios abusos, violação clara da lei. Não se pode mais deixar que isso transite."
"É preciso dizer chega! Basta! Já erramos demais, já erramos demais em relação a isso. E isso é claro, é transparente. Qual é o jogo? Ah, pega-se o vídeo e joga-se no Jornal Nacional e empodera-se o procurador. E nós vamos chancelar esse tipo de patifaria? e vamos referendar isso? E somos tolos? As pessoas podem desprezar tudo, podem não nos respeitar, mas não vilipendiem a nossa inteligência."
"Estamos dando curso a um projeto autoritário e totalitário. É isso que estamos permitindo. Seja por covardia, seja por medo, por não percepção. Nós estamos permitindo isso. Combate ao crime, sim, mas sem cometimento de crime. Isso é fundamental."