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E-mail mostra doleiro movimentando conta de ex-diretor da Petrobrás

Bernardo Freiburghais, que era usado como operador financeiro da Odebrecht, ordenou a banco na Suíça transferência de US$ 2,3 milhões de Paulo Roberto Costa; movimentação constante era tática para dificultar rastros da propina

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Por Fausto Macedo , Ricardo Brandt e JULIA AFFONSO E MATEUS COUTINHO
Atualização:

Registro de Freiburghaus na Interpol. Foto: Reprodução

Um e-mail enviado pelo doleiro Bernardo Freiburghaus - acusado de ser o principal operador financeiro da Construtora Norberto Odebrecht no esquema de cartel e corrupção na Petrobrás - ao Banco PKB, na Suíça, em 2012, solicitando uma transferência de US$ 2,3 milhões indica à força-tarefa da Operação Lava Jato o poder de gerenciamento que o operador financeiro tinha sobre contas secretas usadas para ocultar propina paga pelo grupo a agentes públicos.

A conta de onde saiu a fortuna foi a da offshore Sygnus Assets S.A., cujo dono era Paulo Roberto Costa - o ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás entre 2004 e 2012, sustentado no cargo por um consórcio entre o PP, o PMDB e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. De lá, o dinheiro foi para outra conta do ex-diretor da Petrobrás em nome da offshore Quinus Service, também na Suíça.

 Foto: Estadão

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"O poder de administração de Bernardo Freiburghaus sobre as contas de Paulo Roberto, fica muito clara diante do e-mail por ele enviado para representantes dessa instituição financeira, no dia 16/10/12, no qual solicita em favor de Paulo Roberto a transferência de USD 2.300.000,00 da conta Sygnus Assets S.A., no Banco PKB, na Suíça, para a conta Quinus Service, no Banco HSBC, também nesse país", registram os 11 procuradores da força-tarefa da Lava Jato, no processo aberto esta segunda-feira, 19, pela Justiça Federal, em Curitiba.

Primeiro delator da Lava Jato, Paulo Roberto Costa confessou que o doleiro foi responsável pelas contas onde ocultava US$ 23 milhões, recebidos da Odebrecht. Segundo a força-tarefa, "o e-mail é bastante interessante pois corrobora o relato de Paulo Roberto no tocante ao 'profissionalismo' de Bernardo Freiburghaus na lavagem de seus capitais".

 Foto: Estadão
 Foto: Estadão

Tática de distanciamento. O delator revelou à Lava Jato que foi a partir de uma primeira reunião em que participou com Freiburghaus e o executivo da Odebrecht Rogério dos Santos Araújo é que ficou estabelecida a sistemática para abertura e movimentações de suas contas na Suíça.

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"Na medida em que Bernard Freiburghaus - operador financeiro indicado e de confiança de Rogério Araújo - ficou responsável por criar, manter e movimentar as contas de Paulo Roberto na Suíça, a Odebrecht ficou ainda mais resguardada em suas operações ilícitas de lavagem de capitais no exterior.", escreve o MPF.

 Foto: Estadão

Para os procuradores, o uso de um operador financeiro de confiança foi tática usada pela Odebrecht. "As cautelas que usualmente eram adotadas por Bernardo Freiburghaus, escolhido pelas empresas do Grupo de Odebrecht, especialmente a Construtora Norberto Odebrecht e Braskem, para operacionalizar os pagamentos de propinas em favor de Paulo Roberto, Renato Duque e Pedro Barusco denotam o modo profissional como ele lavava o dinheiro sujo desta empreiteira", sustenta a nova denúncia contra executivos da Odebrecht, entre eles Araújo e o presidente, Marcelo Bahia Odebrecht. Eles estão detidos em Curitiba desde 19 de junho.

A troca de e-mail do doleiro com representante do banco PKB, na Suíça, ordenando a movimentação de US$ 2,3 milhões do ex-diretor da Petrobrás, revela uma das táticas adotadas para ocultar a origem desses valores pagos, supostamente desviados da estatal.

"Bernardo Freiburghaus achava conveniente 'de tempos em tempos, haver alguma mudança', isto é, movimentar os recursos de uma conta para outra, para fins de segurança, no sentido de não deixar rastros que permitissem que autoridades identificassem os valores ilícitos mantidos no exterior", revelou o delator.

O ex-diretor de Abastecimento apontou ainda outras dos estratégias empreendidas, como segmentação de informação, isso é, Freiburghaus tinha contato direto com a Odebrecht e Costa não ficava sabendo as contas de origem. O controle das contas era feito sempre pelo doleiro, que bimestralmente em seu escritório, no Rio, se reunia com Costa para mostrar os extratos e os saldos das contas receptoras de propinas. O delator também não levava consigo nenhum documento, "os extratos depois de vistos eram triturados, para não deixar vestígios".

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Registros. Alvo ostensivo da Lava Jato, desde que as apurações atingiram o comando do esquema de desvios na Petrobrás, no início do ano, os investigadores da Lava Jato conseguiram nesta segunda-feira, 19, a renovação da prisão do presidente do grupo e Rogério Araújo, que seria um dos elos entre a empreiteira e o doleiro.

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Na busca de mais provas sobre a lavagem de dinheiro, a Lava Jato identificou além do e-mail do doleiro, enviado em 2012, anotações do ex-diretor de Abastecimento, em sua agenda pessoal. O registro seria resultado de uma dessas reuniões mantidas bimestralmente com Freiburghaus para prestação de contas da propina.

"Não obstante toda essas cautelas adotadas por Bernardo Freiburghaus e Paulo Roberto para não deixar vestígios da existência dessas contas na Suíça, este último confirmou que, em uma reunião realizada entre eles no dia 13/09/12, fez anotações em sua agenda pessoal com o saldo de algumas dessas contas", aponta a nova denúncia contra os executivos.

São referências aos nomes da offshores titulares das contas (Sygnus, Quinus Services e Sagar Holding), bancos em que foram abertas (PKB, HSBC e Deutsche Bank) e valores.

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A Lava Jato anexou os documentos que mostram as sete contas abertas por Paulo Roberto Costa, via Freiburghaus, por indicação de Rogério Araújo. Todas registradas em nome de offshores, entre 2008 e 2013: Royal Bank of Canda, Banque Cramer & Cia SA, Banque Pictet & Cia SA, PKB Privatbank SA (onde foi aberta a conta da Sygnus, HSBC (conta da offshore Quinus, Julius Baer e Deutsche Bank.

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Freiburghaus está foragido na Suíça. Ele é cidadão suíço e mora no País desde que foi deflagrada a Lava Jato, em março de 2014. O doleiro não foi denunciado nesta nova acusações da Lava Jato. "Não obstante não seja denunciado nesta peça acusatória, cumpre-se salientar a participação de  Bernardo Freiburghaus nesta organização".

O doleiro era "importante operador financeiro e autêntico representante dos interesses da Odebrecht, mormente no que respeita às operações de lavagem de dinheiro que se faziam alheias ao percentual dedicado às agremiações políticas", sustenta a denúncia do MPF. "Em razão de sua expertise na área, sobretudo por sua formação em ciências econômicas e por ter trabalhado em bancos suíços antes de abrir negócio próprio como agente autônomo de investimentos, a Diagonal Investimentos, Bernardo Freiburghaus era bastante requisitado pelos integrantes do esquema criminoso."

Foi identificado ainda intenso fluxo de ligações telefônicas entre Freiburghaus e o executivo da Odebrecht. Araújo seria seu principal interlocutor.

"Rogério Araújo pode ser apontado com um forte elo de ligação com agentes públicos da Petrobrás, aquele que negociava com os diversos diretores e gerentes as propinas e sua forma de pagamento, dada sua relação de proximidade com Pedro Barusco, Paulo Roberto Costa e Renato Duque, servindo ainda de elo de ligação inclusive com operadores clandestinos do mercado financeiro, caso de Bernardo Freiburghaus.

Prisão. Araújo, o presidente da Odebrecht e outros dois executivos tiveram nova prisão decretada pelo juiz federal Sérgio Moro - que conduz os processos da Lava Jato - nesta segunda-feira. No novo processo aberto pela Justiça Federal contra Odebrecht e executivos do grupo, é imputado a ele o  "o conhecimento, o controle e a gestão" sobre as contas mantidas pela empreiteira na Suíça e EUA.

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"Os documentos aqui descritos evidenciam, assim, a postura ativa adotada por Marcelo Odebrecht nos negócios das empresas, participando em momentos estratégicos e determinantes, possuindo controle efetivo das ações ilícitas desempenhadas pela Odebrecht na organização criminosa em comento, tanto no cartel, quanto na corrupção e pagamento de vantagens indevidas a agentes públicos, ou, ainda, na lavagem do dinheiro sujo."

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