PUBLICIDADE

Foto do(a) blog

Notícias e artigos do mundo do Direito: a rotina da Polícia, Ministério Público e Tribunais

Doleiro pagou R$ 150 mil para ex-deputado com hepatite C

Alberto Youssef furou resistência do PP que não queria repassar o valor para Carlos Magno, de Rondônia: ''Pô, vocês vão deixar o cara morrer?', disse o doleiro; assista ao vídeo

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

Carlos Magno. Foto: Gustavo Lima/Agência Câmara

 

Por Julia Affonso, Ricardo Brandt e Fausto Macedo

PUBLICIDADE

O doleiro Alberto Youssef, personagem central da Operação Lava Jato, contou aos investigadores da força-tarefa, em delação premiada complementar, que deu R$ 150 mil para o ex-deputado federal Carlos Magno (PP-RO). O dinheiro teria sido repassado para que o ex-parlamentar pudesse se tratar de uma crise de hepatite C.

A 'doação' furou resistência do próprio partido, que se opunha à entrega do valor para o ex-parlamentar. O depoimento do doleiro foi gravado em vídeo, em 12 de fevereiro deste ano, pela força-tarefa da Lava Jato, formada por delegados da Polícia Federal e procuradores da República.

"Eu também cedi esse dinheiro desses recursos para que ele (Carlos Magno) pudesse fazer esse tratamento em São Paulo, porque ele estava precisando", declarou Youssef. "Na época, ele precisou desse valor e criou-se uma polêmica no partido. Eu falei: 'Pô, vocês vão deixar o cara morrer? Vocês estão de sacanagem, né? Por causa de R$ 150 mil? Eu peguei e mandei esse dinheiro para ele no hotel."

VEJA O QUE YOUSSEF FALA SOBRE O EX-DEPUTADO A PARTIR DO MINUTO 24

Publicidade

Os recursos a que se refere o doleiro eram provenientes do esquema de corrupção e propina instalado na Petrobrás e desbaratado pela força-tarefa da Lava Jato. O PP, PT e PMDB são suspeitos de lotear diretorias da Petrobrás para arrecadar entre 1% e 3% de propina em grandes contratos, mediante fraudes em licitações e conluio de agentes públicos com empreiteiras organizadas em cartel.

Youssef conta que membros do PP "ficavam enrolando" para mandar o dinheiro do tratamento de Carlos Magno. Ele afirmou que diante da situação pegou a quantia e mandou 'mesmo sem a autorização de todos'.

"Ele conseguiu fazer o transplante, então, depois?", perguntou Youssef aos investigadores após eles lhe contarem que o deputado havia conseguido o transplante de fígado.

O doleiro disse nunca encontrou com o ex-parlamentar. Adarico Negromonte - irmão do ex-ministro de Cidades do governo Dilma Rousseff (PT) Mário Negromonte e apontado como um dos carregadores de malas de dinheiro de Youssef -, teria sido o responsável por entregar o dinheiro a Carlos Magno.

O delator reconheceu o ex-deputado após os investigadores exibirem uma foto dele. "É ele mesmo", disse Youssef. "Questão de saúde. O cara estava precisando. Para você ver como é político, né?"

Publicidade

Youssef afirmou que Carlos Magno também recebia a cota mensal de propina do PP. Segundo a Procuradoria-Geral da República, diretores da Petrobrás pagavam mesada a deputados para terem apoio político e permanecerem em seus cargos por longo período.

A Polícia Federal e o Ministério Público Federal identificaram uma estrutura de quatro núcleos do esquema de corrupção na Petrobrás - político, administrativo, econômico e financeiro. Para Rodrigo Janot, chefe do Ministério Público, o "esquema criminoso" contava com a participação de integrantes de pelo menos três partidos, PP, PT E PMDB.

COM A PALAVRA, O EX-DEPUTADO CARLOS MAGNO (PP/RO).

Em entrevista, o ex-parlamentar afirmou que não conhece o doleiro Alberto Youssef e que ele nunca pagou seu tratamento contra hepatite C. Segundo Carlos Magno, a luta contra a hepatite durou 14 anos.

ESTADÃO: O sr. foi citado na delação premiada de Alberto Youssef. Ele disse que repassou R$ 150 mil para o tratamento do sr.

Publicidade

CARLOS MAGNO: Ele acredita, né?

ESTADÃO: O sr. conhece Youssef?

CARLOS MAGNO: Nunca falei, nunca encontrei, nunca participei de nada, nada, nada.

ESTADÃO: O sr. teve hepatite C?

CARLOS MAGNO: Tive. Todo mundo dentro do partido sabia disso. Toda a minha despesa (no tratamento) foi restituída pela Câmara. Eu não tomei vacina. Tomei medicamentos no final do ano passado, depois do transplante. Foram 90 dias entre setembro e novembro. Eu tenho os comprovantes de importação. A Câmara restitui, é um direito do deputado. Está tudo na minha defesa. Estou levantando minha conta bancaria todinha, dos 4 anos de mandato.

Publicidade

ESTADÃO: Como o sr. vê tantos deputados do PP sendo investigados na Lava Jato?

CARLOS MAGNO: Infelizmente, nós estamos participando desse processo, eu e praticamente quase todo os colegas de partido. Nós fomos citados e agora estamos aguardando a apuração para levantar a responsabilidade de cada um. Sou um homem publico, todo mundo sabia da minha luta pela minha doença. Se houve alguém que usou isso, infelizmente não posso fazer nada. Fui transplantado no ano passado, em abril. Passei praticamente o ano todinho, no restabelecimento do meu processo de saúde. Vou comprovar nos autos, com relatório médico, da época que eu tomei os medicamentos. Foram 14 anos de problema de saúde. Era público, isso aí.

ESTADÃO: Como vê seu nome sendo citado por Youssef?

CARLOS MAGNO: Me estranha muito. Em 2012, eu assinei a CPI da Petrobrás, suspeitando de contrato do grupo Schahin com a Petrobrás, e ela foi arquivada pela mesa da Câmara. Se eu tivesse envolvido nesse processo, eu não teria protocolado a CPI.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.