Por Ricardo Brandt, enviado especial a Curitiba, Julia Affonso, Andreza Matais e Fausto Macedo
A Polícia Federal afirmou em relatório de investigação que o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (Governo Lula) 'capitaneava quadrilha'. Segundo o documento subscrito pelo delegado Márcio Adriano Anselmo, da força-tarefa da Operação Lava Jato, Dirceu não perdeu influência mesmo depois de perder a cadeira de ministro mais poderoso do Governo Lula, em 2005, no auge do escândalo do Mensalão.
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A ÍNTEGRA DO RELATÓRIO DA PF"Observa-se portanto que o fato de ter deixado o posto de ministro da Casa Civil e a cassação do mandato de deputado federal não serviram para retirar do investigado José Dirceu todo o poder político que o mesmo angariou no primeiro mandato do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, sendo o homem forte do primeiro mandato", assinala a PF no relatório em que indicia o ex-ministro, o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto e mais 12 investigados por corrupção, lavagem de dinheiro, organização criminosa e falsidade ideológica.
+ PF afirma que esquema de Dirceu movimentou R$ 59 milhões em propinas
A PF invoca a ministra Carmem Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF) em seu voto no julgamento da célebre Ação Penal 470 (Mensalão). "O dinheiro é para o crime o que o sangue é para a veia. Se não circular com volume e sem obstáculo, não temos esquemas como esse", disse a ministra, na ocasião.
"E aqui no presente caso o que se observa é que o dinheiro jorra abundante, seja pelas artérias da Petrobrás, seja por meio de pequenos vasos sanguíneos irrigando toda sorte de "pequenos" corruptos", afirmou o delegado Márcio Adriano Anselmo, da força-tarefa da Lava Jato.
O ponto central da investigação que culminou com o enquadramento penal de Dirceu é sua empresa, a JD Assessoria e Consultoria, que movimentou R$ 34 milhões entre 2009 e 2014. A PF suspeita que o maior volume desses recursos tenha tido origem em pagamentos de empreiteiras para as quais Dirceu abriu as portas, inclusive, na Petrobrás.
A PF ressalta que 'sequer o fato de responder à ação penal do Mensalão, na condição de réu junto ao Supremo (Tribunal Federal), lhe retirou os clientes das vultosas consultorias vazias. É possível identificar, até aqui, o recebimento, por José Dirceu e outros membros da quadrilha por ele capitaneada."
Em um trecho do relatório de indiciamento, a PF destaca a ligação do ex-ministro com empresário Fernando Moura, emblemático lobista ligado ao PT. Também cita o delator Milton Pascowitch, pivô da Operação Pixuleco, que levou Dirceu para a prisão no dia 3 de agosto - Pascowitch denunciou o esquema de propinas supostamente liderado por Dirceu. As condutas de Dirceu identificadas até o momento pela PF, em resumo, foram reunidas em dois tópicos:
"I - relacionamento com os executivos das empresas Hope e Personal, que atuam na terceirização de serviços no âmbito da Petrobrás e que, por terem sido "apresentadas" à empresa por Fernando Moura e seu irmão Olavo Moura, "apadrinhadas" por José Dirceu, o grupo passou a "titularizar" uma parcela do faturamento dessas empresas, cujo pagamento era instrumentalizado por Milton Pascowitch.
II - relacionamento com empreiteiras que atuam no âmbito da Petrobrás, notadamente Engevix, OAS, UTC, Odebrecht, Galvão Engenharia e Camargo Corrêa, que teriam carregado vantagens ilícitas, dissimuladas como "serviços de consultoria" para José Dirceu, seja diretamente ou ainda por meio da Jamp Engenharia."