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'Dilma vai agir', disse Delcídio, segundo filho de Cerveró

Bernardo Cerveró afirmou à Procuradoria-Geral da República que senador do PT e então líder do Governo lhe garantiu que presidente tomaria medida para ajudar seu pai, preso desde janeiro e condenado na Lava Jato por corrupção e lavagem de dinheiro

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Foto do author Fausto Macedo
Por Ricardo Brandt , Beatriz Bulla , Mateus Coutinho e Fausto Macedo
Atualização:

A presidente Dilma Rousseff. Foto: AP Photo

O senador Delcídio Amaral (PT/MS) afirmou que "Dilma vai agir". "Não sei se por filantropia ou porque a água chegou no pescoço", disse o ex-líder do Governo, segundo depoimento de Bernardo Cerveró - filho do ex-diretor da Petrobrás Nestor Cerveró (Internacional), preso desde janeiro e condenado na Operação Lava Jato por suspeita de corrupção e lavagem de dinheiro.

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O relato de Bernardo foi dado à Procuradoria-Geral da República em 19 de novembro. Em onze páginas ele descreve encontros com o então líder do Governo nos quais discutia-se uma estratégia para tentar livrar seu pai da cadeia. Ele gravou uma das reuniões com Delcídio em um hotel em Brasília, ocorrida no dia 4 de novembro. Nessa reunião, o senador disse ao filho de Cerveró que iria conversar com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), insinuando que poderia obter apoio na Corte máxima.

Seis dias depois do depoimento de Bernardo, o STF mandou prender Delcídio, sob suspeitar de tentar barrar a Lava Jato e tramar a fuga de Nestor Cerveró, que supostamente seria financiada pelo banqueiro André Esteves, do BTG Pactual, que também foi detido.

 

À Procuradoria-Geral, Bernardo Cerveró contou ter recebido R$ 50 mil em dinheiro vivo em um escritório de advocacia no Rio, valor que teria sido enviado por Delcídio. Ele citou o advogado Edson Ribeiro, ex-defensor de seu pai, preso também por ordem do Supremo.

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À página 5 do depoimento, Bernardo afirmou. "O senador percebeu que o depoente estava constrangido e filtrava informações; que o senador procurou 'quebrar o gelo', dizendo coisas como 'pode falar', 'você está entre amigos'; que o senador perguntou se ajuda 'estava chegando', dando a entender que os envios de dinheiro eram periódicos, e não consistirem em uma única remessa, que fora tudo o que o depoente recebera até então; que isso levou o depoente a se indagar se Edson Ribeiro estaria embolsando algum valor; que o senador prometeu, durante toda a reunião, movimentação política, recordando-se o depoente de ele ter dito que "Dilma vai agir, não sei se por filantropia ou porque a água chegou no pescoço."

O filho de Cerveró disse que 'teve a impressão de que esse comentário era um blefe do senador'.

 Foto: Estadão

Em outro trecho, o pivô da prisão de Delcídio apontou outro protagonista da Lava Jato, Fernando Falcão Soares, o Fernando Baiano, suposto operador de propinas do PMDB - também delator, Fernando Baiano afirmou ao Ministério Público Federal que o ex-líder do Governo recebeu US$ 1,5 milhão em propinas na compra da Refinaria de Pasadena, nos EUA.

"Que o depoente tinha a impressão de que 95% dos comentários sobre movimentação política eram blefes, mas 5% podiam ser reais; que a impressão do depoente de que nem toda promessa do senador era falsa se devia ao fato de que o senador efetivamente estava envolvido em atos de corrupção na Petrobrás e tinha interesse em evitar que Nestor Cerveró e Fernando Baiano dissessem o que sabiam à Polícia e ao Ministério Público."

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Em um encontro, Delcídio sugeriu ao filho de Cerveró que buscasse apoio de dois senadores do PMDB.

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"O depoente confirma; que, na reunião, o senador Delcídio Amaral prometeu movimentar-se politicamente para ajudar Nestor Cerveró e sugeriu que a família também procurasse Renan Calheiros e Edison Lobão, porque Nestor Cerveró teria 'trabalhado com essas pessoas'; que, indagado sobre como, concretamente, Delcídio Amaral prometeu movimentação política, o depoente explica que o senador disse que 'tinha entrada no Supremo', 'esteve com Dilma', 'esteve com lideranças', sempre procurando sinalizar que poderia haver uma melhoria da situação de Nestor Cerveró a partir desses contatos políticos."

Indagado sobre o que esperava de Delcídio com sua movimentação política, Bernardo esclareceu. "Esperava que o senador, sozinho ou com mais políticos, convencesse um ou mais juízes a conceder habeas corpus a seu pai; que o depoente acrescenta que, segundo o advogado Edson Ribeiro, um habeas corpus era juridicamente viável, havendo sido contratado, inclusive, um parecerista de renome para exarar parecer em respaldo dessa pretensão."

Preso em Brasília, Delcídio disse à Polícia Federal que prometeu ajuda a Bernardo Cerveró 'por questões humanitárias'. Ele afirmou que nunca procurou nenhum ministro do Supremo para interceder em favor do ex-diretor da Petrobrás. Sobre Dilma, o senador disse que ela indicou Cerveró para a Diretoria Internacional, em 2003. A presidente negou ter feito a escolha.

Na ultima terça, 8, o senador se revelou disposto a fazer delação premiada. Ele contratou o advogado Figueiredo Basto, notório defensor de delatores.

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A assessoria de imprensa de Renan informou que ele não iria se manifestar sobre o caso. O criminalista Carlos Alberto de Almeida Castro, Kakay, que defende Edison Lobão, disse que Delcídio nunca comentou nada com ele sobre o assunto. "Se Edison tivesse todo esse prestígio para salvar alguém ele não seria alvo de quatro inquéritos no Supremo", afirmou.

A assessoria de imprensa da Presidência da República ainda não retornou ao contato da reportagem para comentar sobre o caso.

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