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'Difícil calcular o tamanho do dano ao País', diz chefe da PF em São Paulo sobre impacto da corrupção

Delegado Disney Rosseti, há um ano no cargo de superintendente regional, reestruturou área de Inteligência e atingiu o recorde de 92 operações especiais, 24 a mais que em todo o ano de 2015

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Foto do author Julia Affonso
Por Fausto Macedo , Julia Affonso e Mateus Coutinho
Atualização:

Disney Rosseti: Foto: DPF/Divulgação

A Polícia Federal em São Paulo alcançou o marco de 92 operações especiais entre janeiro e outubro. Em todo o ano de 2015, foram deflagradas 68 missões dessa natureza, que miram em esquemas de corrupção e também organizações do tráfico internacional de drogas e outros ilícitos contra a União.

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"Batemos um recorde histórico", disse o delegado Disney Rosseti, superintendente regional da PF em São Paulo, há um ano no cargo.

Na quinta-feira, 27, a PF deflagrou a Operação Boca Livre S/A, a 92.ª missão especial de 2016 - o alvo foram 29 empresas e instituições financeiras supostamente envolvidas em desvio de recursos públicos via Lei Rouanet.

Em apenas seis grandes operações contra a corrupção, este ano, as fraudes identificadas chegaram a R$ 325 milhões. No âmbito dessas investigações, a Justiça Federal ordenou o boqueio de quantia aproximada de R$ 340 milhões.

"Desde que a medição começou a ser feita, em 2003, este é o melhor resultado. Este ano já estamos com 92 operações executadas, inclusive as que vêm de outros Estados (para cumprimento de medidas em São Paulo). Só do Estado de São Paulo, originadas aqui, são 54", contabiliza o chefe da PF.

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O balanço indica que, em dez meses de 2016, a PF em São Paulo executou 24 operações a mais que em todo o ano anterior.

É o maior número da série histórica - o recorde tinha sido registrado em 2014, com 71 operações especiais.

Entre as missões mais importantes no combate a malfeitos com recursos públicos, a PF em São Paulo deflagrou a Operação Custo Brasil, que pegou o ex-ministro do Planejamento Paulo Bernardo em supostas fraudes no âmbito de empréstimos consignados - o rombo alcançou R$ 102 milhões e a Justiça Federal decretou o bloqueio de igual montante. A defesa de Paulo Bernardo nega ilícitos a ele atribuídos.

As equipes de Rosseti também foram às ruas para executar a Operação Sevandija, cujo alvo maior é a prefeita do município de Ribeirão Preto, Dárcy Veras (PSD).

Sevandija investiga desvios de R$ 203 milhões. A Justiça ordenou o confisco desse montante.

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Na Operação Boca Livre, deflagrada em junho - desdobrada na Boca Livre S/A no último dia 27 -, o rombo atinge R$ 28,7 milhões, recursos supostamente desviados por uma organização que fraudava convênios com base na Lei Rouanet.

Neste caso, a Justiça decretou o sequestro de imóveis e veículos no valor aproximado de R$ 3,8 milhões. A ação da PF evitou prejuízo ao Tesouro de cerca de R$ 58 milhões.

Metódico e disciplinado, o superintendente tem valorizado a área de Inteligência da instituição.

A estratégia para ampliar a produção 'e otimizar os trabalhos' começa pela alteração da estrutura da área de Inteligência de todas as delegacias, diz o delegado Rosseti.

"A estrutura de Inteligência da Polícia Federal no Estado, de uma forma geral, foi alterada. Também houve remanejamento em algumas áreas, fechando algumas bases e abrindo outras. Houve essa reestruturação da Inteligência para tentar otimizar não só os trabalhos de combate à droga e ao contrabando, mas também no enfrentamento da corrupção, alvo de algumas operações de grande peso este ano."

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"Foram várias operações de combate à corrupção com resultados importantes como o sequestro de valores das fraudes. Tivemos, ainda, uma missão importante de contrainteligência, com prisão e afastamento de alguns policiais que atuavam no combate a fraudes previdenciárias, e um episódio ocorrido em Ribeirão Preto. Nesses dois casos cortamos na própria carne, uma depuração necessária."

"A prioridade não é só o combate ao tráfico de drogas, mas o combate à corrupção", ele reafirma.

Apesar da larga experiência em investigações contra o crime organizado, o delegado ainda se impressiona com a ousadia dos corruptos. "Algo que chega a ser difícil de mensurar, o tamanho do dano ao país, por mais que a gente consiga mensurar bens apreendidos, valores apreendidos. O tamanho do impacto disso é difícil de mensurar. Basta ver a situação que o País atravessa."

O superintendente destaca que o enxugamento orçamentário não refletiu nas operações especiais. "Recursos de custeio continuamos tendo, não tem faltado verba para combustível, diárias e passagens. Claro que a crise nos afeta no sentido de investimentos, mas aí não é só a Polícia Federal. O País como um todo não tem dinheiro praticamente para investimento e reposição de pessoal."

O chefe da PF em São Paulo lembra que 'não estão ocorrendo concursos na área federal'. Isso o preocupa. "Realmente nos preocupa, mas estamos fazendo frente à nossa missão. A interrupção dos concursos nos afeta, o momento que o país está passando. A gente espera que as coisas de ajeitem o quanto antes."

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INQUÉRITOS ENCERRADOS - Sua primeira meta, ao assumir o comando da Superintendência em São Paulo, foi enxugar o acervo de inquéritos antigos. Até 30 de setembro foram instaurados 11.713 inquéritos. O volume finalizado, em todo o Estado, foi de 11.338 inquéritos.

"A produtividade atingiu a marca de 97%", anota Rosseti. "Estamos mirando passar os 100%. É um aumento significativo em relação a 2015, que fechou com 92%."

Sobre sua mesa, Rosseti mantém os dados que indicam a produção dos delegados, agentes, escrivães, papiloscopistas, peritos e funcionários administrativos que compõem o efetivo da superintendência.

"Reduzimos o número total de inquéritos, de 26 mil para 23 mil, em números arredondados. Estamos conseguindo finalizar as investigações mais antigas. Havia um acervo de inquéritos abertos há alguns anos que precisavam ter um desfecho. Acabamos com pendências mais antigas."

As estatísticas mostram que o maior número de inquéritos é relativo a crimes fazendários - são cerca de 8 mil inquéritos.

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Em seguida vem a Delegacia de Crimes Previdenciários, que combate fraudes na concessão de benefícios, com 3 mil inquéritos, aproximadamente.

FORAGIDOS INTERNACIONAIS - O balanço mostra, ainda, que o escritório regional da Interpol em São Paulo é o que mais prende fugitivos internacionais no Brasil. Em 2015, foram capturados 19 estrangeiros. Em 2016, foram, até aqui, 12 os fugitivos localizados e presos em São Paulo pela Interpol.

O escritório paulista recebeu menção honrosa - em 2015, a Interpol em todo o Brasil prendeu 49 estrangeiros procurados em todo o mundo, dos quais 19 em São Paulo, o escritório que mais prende.

"O Brasil foi no ano passado o que mais prendeu no mundo. Este ano estamos caminhando para o mesmo rumo, uma nova marca. O País está deixando de ser um atrativo para criminosos internacionais procurarem abrigo aqui, esconderijo para evitar a ação da Interpol", destaca Rosseti.

TRÁFICO DE DROGAS - O superintendente aponta para uma outra meta de sua gestão: o combate ao tráfico internacional de drogas.

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Nesta área, um outro recorde da PF paulista.

Em 2015, foram apreendidas 24 toneladas de cocaína. "Este ano, só no Estado de São Paulo, chegamos ao confisco de dez toneladas de cocaína. Principalmente, no Porto de Santos e no Aeroporto de Guarulhos batemos recordes históricos de apreensões e prisões por tráfico."

No porto de Santos, uma única apreensão pode bater em meia tonelada de droga. "O trabalho tem sido muito proveitoso este ano", resume o delegado.

"É o maior porto da América Latina, um movimento extraordinário, de dimensões excepcionais. Por transporte marítimo o tráfico consegue levar grandes quantidades de drogas. Por meio aéreo os traficantes também levam a droga para a Europa, mas em quantidades menores. A fiscalização é passageiro por passageiro. No porto, o volume de cargas é um negócio gigantesco. Colocam a droga em conteineres com mercadoria legal. O volume é impressionante. Nosso trabalho tem sido realizado em parceria com a Receita, uma ação integrada fantástica."

Rosseti informa que a PF começou a realizar investidas também no Aeroporto de Viracopos, em Campinas. Nos últimos dias foram três apreensões.

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"O tráfico de drogas é negócio extremamente lucrativo, não para de crescer e a gente vai apertando cada vez mais."

Para Disney Rosseti, 'o trabalho repressivo tem que haver, mas a questão do tráfico, sem sombra de dúvida, passa por uma ação mais efetiva na redução dos usuários, no tratamento dos usuários'.

"Até porque se você reduz a quantidade de usuários, evidentemente, que a demanda será menor e diminui o tráfico. Parece que é uma lógica. Isso não quer dizer que não tem que ser feito o trabalho repressivo."

Disney Rosseti se declara um 'otimista'. "Otimismo não pode faltar de forma alguma. Tem que ter otimismo no País e na melhora cada vez mais no aspecto da segurança pública."

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