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Argello se contradiz e chora diante de Moro

Ex-senador, preso na Lava Jato por supostamente usar CPI da Petrobrás para extorquir, disse que ideia não era 'prejudicar' empreiteiros

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Por Mateus Coutinho
Atualização:

Gim Argello. Foto: Reprodução

Em um interrogatório de mais de uma hora e meia ao juiz Sérgio Moro na sexta-feira, 26, o ex-senador Gim Argello, preso desde abril na Operação Vitória de Pirro, desdobramento da Lava Jato, afirmou que os políticos que integravam a CPI Mista da Petrobrás em 2014 não tinham a intenção de 'prejudicar' empreiteiros que formaram cartel de propinas na estatal petrolífera. Argello caiu em contradição diante do juiz da Lava Jato e até chorou.

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Ele depôs na ação penal em que é acusado de cobrar e receber propinas de ao menos R$ 5,3 milhões de empreiteiros para impedir o depoimento deles nas duas CPIs da Petrobrás, uma no Senado e uma mista no Congresso, em 2014.

O ex-parlamentar participou das duas CPIs e, ao ser questionado pelo juiz sobre a não convocação dos empreiteiros com os quais teria acertado a proteção, ele caiu em contradição e disse que a CPI Mista adotou uma medida mais severa, ao final dos trabalhos, indiciando 'todos eles'.

"No final indiciamos todos eles", afirmou Argello, que diante de Moro leu o relatório final da CPI Mista e citou os nomes de todos os indiciados, sem se dar conta que da lista não constavam executivos como o ex-presidente da Andrade Gutierrez e delator Otávio Azevedo e o sócio da Engevix, José Antunes Sobrinho - ambos relataram que, naquele ano, Gim Argello cobrou repasses de empreiteiras, inclusive em forma de doações a partidos de sua chapa, em troca de proteção na CPI.

Ao cair na contradição, o ex-parlamentar mudou de assunto e afirmou que ninguém escutou dele 'promessa alguma'. Argello também acusou alguns empreiteiros que citaram a promessa de proteção na CPI em troca dos pagamentos de 'retaliação por terem sido indiciados pela CPI Mista'.

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CONFIRA O TRECHO DO DEPOIMENTO COM A CONTRADIÇÃO DE GIM ARGELLO

'Prejudicar empresário'. Argello disse que conversou sobre os trabalhos da CPI Mista nos encontros que manteve com empreiteiros em 2014. Na ocasião, o ex-parlamentar disse aos executivos que a ideia dos políticos da comissão não era de 'prejudicar' os empresários, que naquela época já eram investigados na Lava Jato.

"Nossa ideia não é prejudicar empresário não, não tem ideia nenhuma de prejudicar empresário", afirma ter dito o ex-senador aos empreiteiros já no primeiro encontro com eles e do qual também participou o então presidente da CPI Mista e hoje ministro do TCU Vital do Rêgo.

Argello admitiu que partiu dele a iniciativa de convidar o então presidente da CPI Mista para conversar com os executivos, que estavam sujeitos às investigações da comissão.

O ex-parlamentar descreveu todos os encontros que teve naquele ano com executivos de diversas empresas sob investigação na Lava Jato, admitiu que tratou dos trabalhos da CPI Mista com eles 'de forma breve' e, diferente das versões dos delatores, disse que houve pedidos de doação eleitoral mas que essas solicitações não estavam vinculadas à CPI Mista.

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Em vários encontros para tratar sobre a CPI com os empresários, o ex-senador disse que deixou claro que a intenção dos políticos da Comissão não era prejudicar os executivos.

O juiz Sérgio Moro, então, indagou Argello se ele não via problema em sua abordagem com os empresários.

Moro: O sr não via nenhuma impropriedade?

Argello: Excelência vi sim, agora, e se o sr me perguntar não vou lhe mentir hora nenhuma

Moro: Onde o sr errou?

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Argello: Errei no dia, final de outubro, novembro, quando o sr prendeu todo mundo (em referência à 7.ª fase da Lava Jato que prendeu vários empreiteiros) eu devia ter ido no microfone (no Senado) e declarado que recebi doação deles."

O ex-senador argumentou ainda que, naquele ano, houve eleições e que por isso o Congresso ficou vazio em agosto e setembro, prejudicando os trabalhos da CPI Mista e que, até então 'ninguém sabia' que havia um cartel de empreiteiras.

"Não sabia naquela época que eles (empreiteiros) eram envolvidos com Petrobrás, acho que ninguém sabia, sem ser o senhor ou o Ministério Público, sobre esse clube de propina, essa roubalheira que eles fizeram na Petrobrás", disse.

O senador afirmou várias vezes ao longo de seu depoimento a Moro que não cometeu nenhum crime. Ele disse que os empreiteiros não foram convocados para depor nas CPIs naquele ano pois não houve nenhum requerimento com essa finalidade.

"Não são só os membros da CPMI que podem fazer requerimentos, qualquer outro parlamentar pode ir lá pedir requerimento", disse. Ao final de seu depoimento, o ex-senador ainda se emocionou e, aos prantos, disse que sempre defendeu a Lava Jato, confira:

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O CHORO DE ARGELLO DIANTE DE MORO:

Vitória de Pirro. A investigação sobre as suspeitas de cobrança de dinheiro por parte de Gim Argello para prejudicar os trabalhos das CPIs da Petrobrás faz parte da 28ª fase da Lava Jato, a Vitória de Pirro, deflagrada em abril. Argello foi preso por ordem de Moro.

O caso deu origem a uma denúncia contra o ex-senador e outros réus, incluindo o ex-presidente da OAS Léo Pinheiro, pelo pagamento de propinas de ao menos R$ 5,3 milhões em forma de doações eleitorais e até doação para uma paróquia ligada ao ex-senador para evitar a convocação de empreiteiros nas duas CPIs da Petrobrás no Congresso em 2014. Naquele ano, as duas comissões encerraram os trabalhos sem ter ouvido nenhum dos empresários das empreiteiras investigadas na Lava Jato.

As investigações indicam que ao menos a OAS e a UTC acertaram os pagamentos, sendo que parte da quantia foi repassada via doações oficiais para os partidos da coligação de Argello nas eleições de 2014 - formada por DEM, PR, PMN , PRTB e PTB. O Ministério Público Federal não acusa nenhum dos partidos da coligação de irregularidades pois, segundo os investigadores, não há provas de que eles tinham conhecimento de que o pagamento era decorrente dos crimes de Argello. As empreiteiras envolvidas não comentam as investigações.

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