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Delcídio confirma em novo depoimento uso da Petrobrás pelo governo Lula

Procuradores da Lava Jato, em Curitiba, ouviram nesta quinta-feira, 1, o ex-líder do PT no Senado que delatou o ex-presidente sobre papel do ex-presidente no esquema de loteamento e corrupção na Petrobrás e sobre amigo Bumlai; força-tarefa finaliza denúncias criminais contra petista

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Foto do author Fausto Macedo
Por Ricardo Brandt , Julia Affonso , Fausto Macedo e enviado especial a Curitiba
Atualização:

Delcídio Amaral. Foto: Cadu Gomes/EFE

O ex-líder do PT no Senado Delcídio Amaral confirmou nesta semana à força-tarefa da Operação Lava Jato, em Curitiba, que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tinha participação direta no esquema de loteamento político das diretorias da Petrobrás, entre partidos da base aliada, em especial o PMDB. O esquema rendia propinas de 1% a 3% para os agentes públicos indicados e políticos - um rombo de mais de R$ 20 bilhões.

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Delator da Lava Jato desde fevereiro, Delcídio foi ouvido na quinta-feira, 1, em Curitiba, e detalhou como a Petrobrás teria sido usada por Lula para garantir a governabilidade e a reeleição. O ex-senador citou o suposto uso da estatal, depois do escândalo do mensalão, em 2005, para obter maioria no Congresso, com apoio do PMDB, segundo apurou o Estadão.

Delcídio - preso em novembro de 2015 e colocado em prisão domiciliar em fevereiro - prestou novo depoimento nos procedimentos preparatórios de denúncias contra Lula. O ex-presidente é investigado pela Procuradoria por receber como "benesses" das empreiteiras do cartel, que atuava na Petrobrás, reformas do Sítio Santa Bárbara, em Atibaia (SP), e do tríplex do Edifício Solaris, no Guarujá, litoral paulista. Além de valores ilícitos por meio de doações ao Instituto Lula e pagamentos para a empresa de palestras do petistas, a LILS Palestras e Eventos.

O ex-senador, ao tratar da funcionalidade de indicações políticas na Petrobrás, citou a procuradores que faz parte de todo governo a participação do presidente da República nas nomeações de cargos principais, como os diretores. Segundo as apurações, PT, PMDB e PP controlavam as três principais áreas (Serviços, Exploração e Produção, Internacional e Abastecimento). Lula, no entanto, teria assumido um papel mais ativo nos negócios e interesses políticos da estatal.

Delação. Não é a primeira vez que Delcídio acusa o ex-presidente. Em sua delação, ele diz que Lula comandou a operação frustrada de compra do silêncio do ex-diretor da Petrobrás Nestor Cerveró. Nesta quinta, o ex-líder do governo voltou a afirmar aos procuradores que "ao contrário do que Lula sempre diz", o ex-presidente teria "participação em todas as decisões relativas às diretoras das grandes empresas estatais, especialmente a Petrobrás".

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Citou, como exemplo, a indicação do ex-diretor de Internacional Nestor Cerveró, em 2003, e a aproximação como o PMDB, que teria virado "parceiro preferencial" no esquema.

Confirmando o que disse na delação, ele lembrou que Lula enfrentou em 2005 e 2006 "uma crise sem precedentes", com a abertura da CPMI dos Correios. "A partir desse momento crucial, a articulação política do governo muda completamente com a entrada do PMDB como 'parceiro preferencial'. Isso explica a 'parceria' entre os dois partidos nos ilícitos posteriores", registra o documento, de fevereiro.

O delator cita a exclusão do nome de Lula e seu filho Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, do documento final da CPMI dos Correios, que poderia resultar no "impeachment" do ex-presidente, naquela ocasião. Segundo o delator, o nome do petista e do filho mais velho foram retirados "na madrugada do dia 5 de abril de 2006 no Relatório Final da CPMI dos Correios, que foi aprovado em votação polêmica e duvidosa naquele mesmo dia".

O ex-petista voltou a citar o episódio em que implicou Lula na compra do silêncio do publicitário Marcos Valério, no escândalo do mensalão, com participação do ex-ministro Antonio Palocci.

 

 
 

Bumlai. Os procuradores da Lava Jato também ouviram de Delcídio detalhes sobre as relações de Lula com o pecuarista José Carlos Bumlai, preso desde 2015, por ter tomado empréstimo fraudulento de R$ 12 milhões do Banco Schahin, em 2004, a pedido do PT. O crédito nunca foi quitado regularmente, tendo o banco sido pago com contrato dirigido da Petrobrás, para que o grupo operasse um navio-sonda, de exploração de petróleo, em alto mar, em 2009.

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O delator teria confirmado que conhecia a operação e que ela seria de valor superior aos R$ 12 milhões.

O pecuarista é réu em processo aberto pelo juiz federal Sérgio Moro, em fase final. Ele é acusado de corrupção e lavagem de dinheiro. Outras investigações tem o amigo de Lula como alvo.

Réu. Lula é réu em processo aberto na Justiça Federal, em Brasília, em julho, por obstrução à Justiça. Delcídio havia relatado ao Ministério Público Federal que foi chamado por Lula, em meados de maio de 2015, em São Paulo, para "tratar da necessidade de se evitar que Nestor Cerveró fizesse acordo de colaboração premiada".

 

Segundo o senador, Lula o teria incumbido de "viabilizar a compra do silêncio de Nestor" para proteger o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente. "A respeito desse fato, há diversos outros elementos, tais como e-mail com comprovante de agendamento da reunião entre Lula e Delcídio no Instituto Lula, no dia 8 de maio de 2015; comprovantes de deslocamento efetivo do senador para São Paulo compatível com esta data; outros documentos que atestam diversas outras reuniões entre Lula e Delcídio no período coincidente às negociatas envolvendo o silêncio de Nestor Cerveró, além de registros de diversas conversas telefônicas mantidas entre Lula e (o pecuarista) José Carlos Bumlai e entre este e Delcídio", afirma o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, na denúncia criminal.

"A partir daí as investigações ganharam novos contornos e se constatou que Luiz Inácio Lula da Silva, José Carlos Bumlai e Mauricio Bumlai atuaram na compra do silêncio de Nestor Cerveró para proteger outros interesses, além daqueles inerentes a Delcídio e a André Esteves, dando ensejo ao aditamento da denúncia anteriormente oferecida nos Autos 4170/STF", afirma Janot.

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COM A PALAVRA, A DEFESA DO EX-PRESIDENTE LULA

A defesa do ex-presidente Lula nega que ele tenha qualquer participação com o esquema de cartel e corrupção na Petrobrás e que Cerveró mente.

A defesa voltou a afirmar que Lula e família não são donos dos imóveis, em Atibaia e no Guarujá, e que, por isso, não podem ser beneficiados por obras realizadas nas propriedades.

Os advogados Roberto Teixeira e Cristiano Zanin questionam a competência das autoridades, em Curitiba, de investigarem o ex-presidente.

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