Novos documentos da delação premiada do empreiteiro da UTC Ricardo Pessoa revelados pelo Jornal Nacional, da TV Globo nesta sexta-feira,3, mostram que o delator admitiu ter feito repasses legais e ilegais para 15 partidos e que as doações eleitorais de sua empresa visavam "abrir portas" no Congresso e em todos os órgãos públicos. Dentre os repasses, segundo a reportagem, o delator admitiu ter se encontrado sete vezes com o ex-presidente Lula e ter entregue R$ 2,4 milhões em dinheiro vivo para a campanha dele em 2006, mas admitiu não saber se o ex-presidente tinha conhecimento que o dinheiro era ilegal.
Além disso, ele admitiu que fez repasses de cerca de R$ 3 milhões para a empresa JD Assessoria, de José Dirceu mesmo depois que o ex-ministro foi preso no mensalão "apenas e tão somente em razão de se tratar de José Dirceu e de sua grande influência no Partido dos Trabalhadores". "Mesmo sabendo da impossibilidade de ele trabalhar no contrato firmado, porque estava preso, o aditamento foi feito e as parcelas continuaram a ser pagas", diz o documento do acordo do delator revelado pelo Jornal Nacional.
Na lista apresentada pelo executivo aos investigadores estão os principais partidos da base aliada e também da oposição: DEM, PMDB,PP, PPS, PR, PSC, PSDB, PC do B, PV, PDT, PTB e até o nanico PRTB. Segundo a reportagem, contudo, a lista não difere o que é dinheiro de doação oficial e o que é dinheiro de propina.
Os documentos apresentados pela reportagem também revelam novos nomes de políticos que ainda não tinham aparecido até então, como Valdemar Costa Neto, condenado no mensalão e que, segundo Pessoa teria recebido R$ 200 mil "por fora" para "manter a porta aberta no PR" que, segundo o documento revelado pelo jornal "dominava o Ministério dos Transportes". Outro nome que aparece nos documentos é o do filho de José Dirceu, o deputado Zeca Dirceu (PT-SP) que, segundo o delator, recebeu R$ 100 mil da empresa após um pedido de Dirceu para Pessoa.
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Outra planilha que aparece na delação de Pessoa e foi revelada pela reportagem descrita como "controle conta corrente Vaccari" indica, segundo o delator, o valor que o ex-tesoureiro teria retirado de uma conta da UTC "em decorrência das obras com a Petrobrás" no valor de R$ 3,9 milhões. Outra planilha mostra repasses da empreiteira para o PT de maio de 2006 a junho de 2014, quando a Lava Jato já havia sido deflagrada, no valor total de R$ 16,6 bilhões. De acordo com o delator, a quantia não tinha relação com campanhas eleitorais, mas com a propina para as obras na estatal.
O empreiteiro também admitiu, segundo a reportagem, ter feito pagamentos ao PP porque "era cobrado e não queria criar dificuldades".
COM A PALAVRA, A DEFESA:
A defesa de João Vaccari Neto disse que fazia parte das atribuições dele pedir dinheiro para o partido, mas que os pedidos eram sempre para doações legais e informadas para as autoridades
Valdemar Costa Neto não quis se manifestar
PT e PP informaram que só receberam doações legais e declaradas a Justiça Eleitoral.
Defesa José Dirceu negou que ex-ministro tenha recebido pagamentos ilícitos, disse que ele prestou serviços para a UTC e que a copia dos contratos e as notas fiscais foram encaminhadas para a Justiça Federal do Paraná em janeiro. Defesa negou o pedido de doação para o filho de Dirceu.
O ministro Edinho Silva disse que todas as doações foram feitas de acordo com a legislação eleitoral
A assessoria de Lula diz que não tem conhecimento dos dados citados, considera que houve vazamento seletivo e talvez ilegal e que não vai se manifestar.